ERIN
— Como sempre expôs um belo trabalho, Erin.
Meredith Bents fora uma das minhas primeiras clientes na Hiarts Galery, e através da sua admiração pela minha visão artística ela me conseguiu ótimos contatos. Estes, consequentemente, me renderam outros ótimos contatos e assim sucessivamente. Ela é uma viúva com mais de sessenta anos. Muito rica, tanto no quesito dinheiro, quanto no quesito bondade.
— Obrigada, Mery. — Abri mão das formalidades, pois sei que detesta que a chamem de senhora. — É sempre um prazer recebê-la em minha galeria.
— Oh, minha querida. Eu sempre acreditei no seu amor pela arte, é tão gratificante vê-la em seu esplendor. — Segura as minhas mãos e sorri carinhosamente. — Agora, eu preciso ir. Uma velha como eu não consegue ficar acordada até tão tarde.
— Ah, veja só. — Mostro ao redor. — Você está sendo a última a sair da exposição. Isso significa que está mais forte do que todos os jovens que estiveram aqui.
— Posso apostar uma grande fortuna de que eles não foram para casa dormir.
A senhora Bents tentou piscar um olho, mas falhou miseravelmente fechando as duas pálpebras com força. Era adorável e ao mesmo tempo divertido.
— Não me atrevo a discordar de sua sabedoria. Tenho certeza de que levaria a aposta. E, eu confesso que não estou acostumada a perder.
Rindo, a senhora Bents me abraça. Meus olhos se arregalam com a súbita demonstração de afeto. Não esperava por isso. Eu não... não sabia lidar com isso.
— Nós, seres humanos, nunca estamos prontos para perder as grandes disputas da vida. Quando perdemos uma aposta pela primeira vez, não lidamos bem com a frustração. No entanto, quando perdemos uma pessoa amada, o estrago é ainda pior. Nós somos esmagados com essa dor dilacerante que nos rouba a felicidade, que nos corrompe a alma. — Desfez o abraço, ao qual eu ainda me encontrava imóvel. — Nós somos egoístas e ambiciosos. Queremos tudo para nós: as vitórias, os bons sentimentos, as boas lembranças, e, até mesmo as pessoas. Mas nada nos pertence, de fato. Levei um grande tempo para entender isso.
— Obrigada por me contar esse grande segredo. Talvez eu levasse mais tempo para entendê-lo, embora, uma grande parte de mim ainda sofre um sentimento de perda. Por isso, acredito compreender a sua dor. Sinto muito pelo senhor Bents.
— Não sinta querida, meu amado companheiro fez o que devia fazer nessa terra. E tão logo estarei me encontrando com ele em qualquer outro mundo que ele esteja. Acredito que a morte não é o fim. Não é um adeus. É somente um até logo.
Suas palavras me atingem com tanta força que eu me desliguei da realidade por algum momento. E sequer percebi quando a senhora Bents deixou a galeria.
— Isso foi demais! — A voz animada de Rachel despertou-me. — Vendemos tudo em apenas algumas horas. A artista foi embora saltitando com uma gazela feliz.
— Nada mais do que eu já esperava.
— Ah, qual é — revirou os olhos. — Admita pelo menos uma vez que estava com receio ou duvidosa sobre o sucesso da exposição.
— Eu não estava.
— Estava sim.
— Não estava.
— Certo. Você não estava, mas deveria estar. Foi uma aposta arriscada.
Lembrei-me do que Mery havia falado agora pouco, e em vez de ouvir os seus sábios conselhos e aderir um pouco de modéstia às minhas apostas, reafirmei:
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Benefício da Dúvida (+18)
Literatura FemininaSinopse Erin Alderton saiu de Amsterdã às pressas deixando para trás as sombras de um passado tenebroso e levando consigo um coração despedaçado. Sozinha, conquistou o seu grandioso império se tornando dona da galeria de arte mais influente de Chic...