Capítulo 05

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ERIN

O suor escorre por minhas têmporas, enquanto meus pés quase flutuam sobre a esteira em alta velocidade. Meu cabelo preso em um rabo de cavalo move-se de um lado para o outro. E a respiração irregular sufoca os meus pulmões, um processo que se torna cada vez mais dolorido.

Ter uma academia em casa não é um privilégio para muitos. No entanto, é o meu. Através da parede de vidro é possível ver a enorme piscina na parte externa, convidando-me a dar um mergulho e a me refrescar. Mas, eu estava ali para sentir dor física, já que a emocional havia me consumido há muito tempo, feito morada.

Correr é algo que eu costumo fazer sempre que possível. Assim como o sexo, o exercício funciona como um interruptor, ao qual eu posso ligar e desligar as minhas boas e más lembranças. Não é à toa que escolhi comprar um apartamento próximo ao Grant Park, onde, muito possivelmente, irei gastar minhas energias correndo ao ar livre, buscando paz intelectual. 

O relógio na parede denotava que Adam, meu treinador pessoal, estava atrasado. E pelas minhas regras pormenores eu detestava atrasos. Acostumei-me a ter tudo e todos em minhas mãos e algumas vezes aos meus pés. Controlar o tempo e as pessoas ao meu redor é algo que faço com maestria. Não me vejo enfrentando imprevistos e muito menos acredito nas forças ocultas do destino.

Por isso, ofereço aos homens com quem saio o que eles querem. E se eles desejam mais do que posso oferecer, logo destruo suas esperanças. Não sou o tipo de mulher certa pela qual eles devam se apaixonar. Muito pelo contrário, eu sou o oposto disso.

O som da academia ecoa alto, quase capaz de explodir os meus tímpanos. Eu precisava sentir dor, o bobinar da corrente sanguínea e o disparar de um coração glacial. Eu precisava de adrenalina. Porém, contrariando as pretensões, quanto mais eu corria, mais sentia necessidade de chegar a algum lugar. Amsterdã foi o rumo que os meus devaneios se prenderam, marcando-me com a saudade que eu sinto do meu pai, e levando-me de volta ao meu inferno pessoal.

George Nolan é um homem severo e temido por todos, mas para mim, é um pai amável e carinhoso. Todas as vezes que ele me olhava, sabia que ele estava enxergando a minha mãe. Eu podia sentir a sua emoção, quase palpável, assim como o seu amor.

Elizabeth era o nome da minha mãe, ela morreu ao me dar a vida, e, portanto, cresci sem qualquer referência materna e feminina, senão a de Margareth, minha antiga babá e atual governanta. Meu pai fala muito sobre a minha mãe para que eu a imagine como uma mulher incrível, linda, e muito bondosa. Pois, segundo ele, era assim que ela se parecia. Mas, quando penso nela, sinto apenas remorso, como se eu tivesse alguma escolha sobre o fato de eu ter nascido e me tornado apenas um ponto de devastação em sua vida, ou pior, a causa de sua morte.

Meu pai tentou ser tudo o que eu precisava, e embora acredite que tenha errado nessa função, também acertou de muitas formas. Lembro-me perfeitamente de quando eu tinha seis anos de idade e ele participava do meu chá de bonecas. Fingia ser um urso grande e faminto que iria devorar as pobres convidadas, bem como a mim mesma. Eu corria pela casa, ele corria atrás. Éramos felizes, apesar de tudo.

Nós viajávamos muito, e, por isso, era impossível estudar em escolas regulares. Fui educada com professores particulares nas várias casas — e países — em que eu morei. Holanda. Estados Unidos. Londres. França. Alemanha. Rússia. Canadá. E, de volta ao primeiro país.

Sempre fui muito madura e quando ficava perto de crianças da minha idade me sentia deslocada. Não soube manter amizades, e frequentemente estava metida em confusões. Toda essa resistência me levou para o caminho ao qual ele queria me afastar. Era impossível ignorar tudo aquilo acontecendo em frente aos meus olhos.

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