Capítulo 40

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ERIN

Tento mover-me sobre a cama para mudar a posição em que estou dormindo, porém há uma espécie de peso depositada sobre o meu corpo, impedindo-me de qualquer locomoção. Incomodada com a sensação de impotência, abro os olhos e tento verificar o que está neutralizando os meus movimentos, surpreendendo-me ao perceber que Mason está abraçando o meu tronco, mantendo-me presa aos braços enquanto dorme com serenidade.

Admiro o homem que está ao meu lado enquanto algumas frestas de luz adentram as cortinas e iluminam o seu rosto bonito, deixando-o com traços vulneráveis. Apesar de estar imerso em seus próprios sonhos, há duas finas linhas enrugadas no centro de sua testa como se ainda houvessem preocupações em seu semblante adormecido.

Era nítido para mim que Mason estava com receio de que eu mudasse de ideia e tomasse o meu rumo mais uma vez, abandonando-o assim como fez a única mulher que ele amou na vida. Isso era algo que havia o machucado profundamente, feito com quem ele não desejasse manter vínculos maiores do que o sexual. No entanto, em meio à desafios e indiferenças, eu fui a escolhida para quebrar o feitiço que ele mesmo se lançou durante os últimos anos. Logo quem...

Com cautela, tento me desvencilhar de seus braços, colocando um travesseiro no lugar da minha silhueta curva. Mason abraça o emaranhado de espumas com força e se remexe sobre os lençóis. Mas, para a minha sorte, continua dormindo com tranquilidade.

Completamente nua, sigo até o banheiro e escovo os meus dentes com uma das escovas novas que eu encontro dentro do armário, até nisso Mason havia pensado. Enquanto faço a higiene, olho-me no enorme espelho, percebendo que o meu rosto está mais bonito, corado, os meus cabelos estão bagunçados com o sexo abrasivo da noite passada. Ainda assim, desajeitada, pareço sexy pra caralho. Faço o enxague e seco a minha boca com a toalha de rosto, antes de voltar o meu olhar para o reflexo de uma Erin que há muito tempo eu estava recusando. Aproveitando os míseros minutos de admiração pela minha nova imagem, passo a língua sobre o meu lábio superior e pisco para mim mesma.

Saio do banheiro e olho para Mason mais uma vez no intuito de gravar aquela cena tão singela em minha mente. Eu era tão egoísta por ter ido atrás dele e agora estar ali, parada, sentindo a vontade de fugir esmagar a minha traqueia, deixando o medo e a culpa ser maior do que quaisquer outros sentimentos que eu pudesse sentir por ele... Céus!

Todas às vezes que eu me sentia perdida eu tirava a sorte grande entre os diversos palitos de cigarro, como se fosse uma caixinha de surpresas ou uma lâmpada mágica que sanaria todos os meus problemas. Por isso, caminho até a minha bolsa e tiro de lá um maço Marlboro, desertando um palito ao meio de tantos. Torço para que justo aquele me dê a coragem que eu preciso para estar aqui quando ele acordar. Eu não quero ser a culpada pela infelicidade de alguém ao menos uma vez na vida.

Em seguida, pego o roupão felpudo que está sobre a cadeira no canto e encubro o meu corpo nu, rumando em direção à varanda do quarto. Lá fora, o sol ainda está escalando os grandes edifícios, se esquivando de uma cidade grande e barulhenta. É cedo, mas há um grande número de carros formando fileiras que durariam o dia inteiro, um atrás do outro até que o céu se apagasse, ou além disso.

Acendo o cigarro e trago a primeira vez, respirando fundo. A brisa assopra o meu rosto, fazendo com os meus cabelos voem junto com a fumaça que eu expiro.

Não era fácil para mim deixar que Mason se aproximasse depois de tudo o que eu fiz no passado. Eu não merecia a confiança dele, o afeto, muito menos o desejo de que eu fosse algo a mais. Eu sequer conseguia lhe retribuir com a mesma intensidade e isso soava muito injusto quando eu era tudo o que ele mais queria, e Mason, o medo de que tudo se repetisse.

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