Capítulo 46

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ERIN

Desci as escadas usando um salto de quinze centímetros e um vestido rosa que se adequava perfeitamente as minhas curvas. Eram sete e meia da noite, e eu já estava pronta para sair de casa e me encontrar com Mason no restaurante. Porém, assim que cheguei ao patamar da sala, encontrei Margareth e Hubert; ela estava com um bolo na mão e com sua voz melódica começou a cantar: — Parabéns pra você, parabéns pra você, parabéns, doce menina, parabéns pra você!

— Urgh, o que vocês estão fazendo? — Faço uma careta e eles dão uma risadinha cumplice, havia sincronia até nisso. — Eu disse... — Apontei para Hubert com o dedo acusatório. — Eu não gosto de surpresas! — Janssen ergueu as mãos em defensiva e apontou para Margareth. Certamente, aquela ideia tinha sido de sua esposa, mas o fato dele estar compactuando não aliviava em nada a sua barra.

— Faça um pedido! — Margo pediu, esticando o bolo em minha direção.

— O que eu poderia pedir? — Suspirei. — Essa data tem sido um horror por anos.

— Comece desejando por algo que possa mudar isso, menina.

Aquela merda era tudo superstição, mas eu não poderia dizê-lo em voz alta, uma vez que magoaria Margareth. Então, fechei os olhos e decidi que não me custava tentar.

Desejo que a felicidade invada a minha alma e nela se estabeleça.

Abri os olhos e assoprei as velas, torcendo — bem no fundo do meu ser —, que aquele pedido pudesse ser tornar real, mesmo sendo um requerimento tão idiota.

Hubert aplaudiu animado, nunca o tinha visto daquela maneira antes. Ele parecia menos severo, como se fosse um homem normal e não quem zelava pela minha segurança, por tantos e tantos anos, mantendo-se em seus limites profissionais e por vezes, quase paterno. Margareth não estava distante de sua euforia, ela mantinha a expressão amorosa desde a primeira vez que a vi, com apenas cinco anos de idade. Lembro como se fosse hoje, eu estava chorando porque havia caído no jardim e machucado a palma da minha mão. Eu entrei em casa contando para o meu pai o que havia acontecido, mas aquela mulher estava lá, ao lado dele. Ela tinha um rosto bondoso e sorriu para mim, antes de ajoelhar em minha frente para dizer que tudo ficaria bem. Depois de tantos anos, ela ainda me dizia quando eu tinha pesadelos. E, mesmo que eu soubesse que não ia ficar tudo bem, eu sempre acreditava nela porque eu queria, com todo o meu coração, que aquele sofrimento se assentasse no fundo da minha alma e ali permanecesse para sempre.

— É hora do presente! — Hubert avisou, devolvendo-me a nossa realidade.

— Agora vocês passaram dos limites! — Eu segui em direção a saída para fugir daquele pesadelo. Todavia, assim que eu abri, me surpreendi ao ver quem estava do outro lado.

— Surpresa! — Margareth e Hubert disserem em uníssono.

— Pai?

— Feliz aniversário, tulipa! — Joguei-me em seus braços, extremamente emocionada com a sua presença. Fazia tanto tempo que eu não o via que a saudade martelava o meu peito. A forma carinhosa como ele sempre me chamava era única e especial: a minha mãe adorava flores, e as suas preferidas eram tulipas. Ela criou uma estufa com várias espécies e cores. Aquele lugar, certamente, era o seu favorito no mundo. Após sua morte e meu nascimento, meu pai passou a cuidar do seu espaço, tendo-o também, como fonte de carinho e amor. Desde então, aos seus olhos, tornei-me sua tulipa.

Inalei o seu cheiro, sentindo-me nostálgica, ele cheirava a colônia amadeirada com um toque de nicotina. Eu havia me esquecido como era confortável estar em seus braços.

Vrolijk? — Ele segurou em meu rosto, colando a sua testa a minha. Havia perguntado se eu estava feliz, então assenti porque aquele sentimento era verdadeiro.

Benefício da Dúvida (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora