Capítulo 57

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MASON

Ajeito os óculos escuros no rosto, antes de infiltrar as duas mãos no bolso, avistando o avião pousar do outro lado da parede de vidro. Como eu disse antes, meus avós estavam vindo da Califórnia para o grande jantar de Ação de Graças da família Hoth. Eles nunca se ausentavam em datas comemorativas de grande importância, ainda que tivessem que viajar mais de três mil quilômetros para que isso fosse possível.

Não demorou mais do que alguns minutos até que os passageiros começam a sair do enorme meio de transporte aéreo, e, mesmo distante, pude ver quando a minha avó Lucille e meu avô Sebastian apontaram na porta para desembarcar. Era impossível não os reconhecer com seus cabelos totalmente grisalhos, a pele marcada pelo tempo e os sorrisos genuínos que as dentaduras lhe forneciam. A velhice havia chegado com mansidão para eles, que mesmo depois dos setenta anos celebravam o amor como se ainda tivessem dezoito. Sim, eles estavam juntos por tanto tempo que era difícil contar e acreditar que duas pessoas pudessem cultivar um sentimento tão doce por quase uma eternidade.

Vovô Sebby segurava e arrastava a mala com uma das mãos, enquanto que com a outra rodeou o corpo da minha avó para depositar um beijo em sua testa com ternura. Não havia cena mais linda que alguém pudesse presenciar e, por um momento, penso que é isso o que eu quero para mim e para Erin, ainda que, nós dois estivéssemos distantes de ser um casal tão adorável quanto aqueles dois. Provavelmente ainda estaríamos trancados dentro do banheiro do avião esperando o efeito do citrato de sildenafila (viagra) acabar. Por sorte, não partiríamos para outro país se terminássemos há tempo. Parece cômico, mas muito mais suscetível à representação do que somos hoje e do que podemos ser amanhã.

Aceno quando eles se aproximam em direção à porta de desembarque e minha avó aperta os olhos por trás dos óculos de fundo de garrafa quase ao mesmo tempo em que meu avô parece bastante absorto sobre a minha presença, olhando para todos os lados.

— Mace?

Agora ambos estão olhando para mim, animados por finalmente me verem.

A primeira lembrança que tenho da minha infância foi quando fui visitar os meus avós na Califórnia quando eu tinha apenas cinco anos de idade. Eram férias de verão e mamãe decidiu me mandar para lá sozinho quando Samantha se contagiou com sarampo. Eu me lembro de não querer ir e chorar muito porque minha irmã estava doente e eu queria ficar com ela, mas não podia. Então mamãe me disse que para proteger a Sam, eu devia me proteger também. E que se eu fosse, mostraria ser tão corajoso quanto a minha irmãzinha, que lutava bravamente por sua recuperação. Então, eu atravessei distritos e estados para chegar à Califórnia de avião, voei pela primeira vez ao lado de uma mulher que eu sequer sabia quem era, mas que era a responsável por me levar aos meus avós.

Da mesma maneira que eu estava esperando por eles ali e agora, anos atrás eles esperavam por mim com uma aparência mais jovem e demasiada disposição ao seu neto mais novo, um menino pálido e esguio com pouco mais de um metro, dono de cabelos loiros e compridos que chegou carregando um urso de pelúcia que sua irmã tanto adorava. Eu era apenas uma criança que queria sentir a presença de outra de alguma forma quando tentava insistir para si mesmo que iria encontrar a coragem que precisava.

Em meio ao trajeto à casa dos meus avós, senti uma paz e aconchego tão grande ao olhar a extensão do mar que nunca chegava ao fim. Aquela não era a primeira vez que eu o olhava, mas era a primeira vez que eu me lembro de ter olhado para ele. A moradia dos meus avós era retirada, quase uma floresta particular, não tão distante do mar. Aquilo parecia perfeita para uma criança daquela idade, um quintal imenso para brincar e uma visão de outro mundo para de admirar. A casa de madeira pintada com tinta azul celeste misturava o cheiro de natureza e maresia que eu consigo me lembrar até os dias de hoje.

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⏰ Última atualização: Jul 31, 2020 ⏰

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