Prólogo

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Senti meus pés aflitos se moverem freneticamente sobre o piso. Embora meu corpo estivesse ali, minha mente se deparava em outra dimensão. 

Eu não estava preparada para lidar com as consequências, apesar de ter sido muito alertada sobre elas.  Porém, agora era tarde demais. Toda a merda havia sido jogada ao ventilador e não havia mais o que fazer. A não ser, falar sobre isso.

— Senhorita Alderton?

Levantei o olhar, lentamente, e me deparei com a doutora Hawkins sentada a minha frente. Apesar de se demonstrar bastante persuasiva e indiferente a situação, eu pude enxergar a compaixão no fundo de seus olhos. Era como se ela dissesse, sem realmente dizer, que tudo ficaria bem. Eu só precisava ser eu mesma dessa vez.

— Você poderia responder a minha pergunta?

— Me desculpe, eu... não ouvi o que disse.

— Quanto tempo vocês conviveram juntos? — Repetiu a pergunta, analisando-me minuciosamente.

— Cinco anos — respondi, em voz baixa.

— Como você se sente em relação a isso?

Meus lábios tremiam, enquanto eu tentava descrever mentalmente o que se passava em meu interior. No entanto, não havia uma boa resposta para seu questionamento. E, para ser sincera, eu não queria dizê-lo em voz alta. Tinha medo que aquela sensação de destruição se tornaria ainda mais abrangente.

Notando o meu silêncio perturbador, Hawkins estendeu a sua mão segurando a minha em consolo. Era nítido que eu estava emocionalmente destruída.

— Você precisa responder as minhas perguntas. Não posso ajudá-la se não me disser o que realmente aconteceu.

— Por que você trabalha com isso? Por que você... — Me calei, incapaz de formular a pergunta que ardia a minha língua, embrulhava o meu estômago, e deixava-me exposta ao nosso exterior.

— Entendo. — Seus olhos compreensivos focalizaram os meus. Talvez o tom preto tão sombrio que pintava suas íris fosse a resposta que eu buscava. — Sei o que está pensando. — Apertou a minha mão, antes de dizer. — Eu apenas acredito que tudo haja dois lados, senhorita Alderton. Me diga, qual é o seu?

Essa era uma pergunta óbvia demais. De qualquer forma, achei que poderia respondê-la com sinceridade. Por isso, ainda olhando em seus olhos, falei:

— Eu fiz uma escolha... porque era preciso fazê-la.

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