Capítulo 15

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MASON

Eu estava em Montrose, praia situada nos contornos do Lago Michigan, aproveitando que as rajadas de ventos impetuosos me ofereciam boas ondas para surfar. Dentro das águas gélidas, nado o mais rápido que posso quando vejo a próxima onda se aproximar. Subo sobre a minha prancha, Celeste, e plano sobre ela seguindo a onda até suas terminações.

Por décadas, Chicago proibiu todos os dispositivos de flutuação de suas praias, o que acabou tornando o surfe uma prática ilegal. A liberação dos espaços aquáticos para esportistas como eu só vieram à tona em 2009 quando ativistas da Surfrider Fundation, junto a surfistas locais e nacionalmente conhecidos, sentaram-se com as autoridades do Chicago Parks District a fim de defender e resgatar a recreação, expandindo-a aos locais legais. O que acabou dando certo. Devo dizer, que sou muito grato por isso.

Devido a correria do trabalho, faz tempo que eu não pratico o meu esporte favorito e o sentimento nostálgico que toma conta do meu ser é pujante. A liberdade e a paz que sinto quando estou em cima da Celeste, é algo difícil de ser retratado. Tanto quanto estar sobre a senhorita Alderton, nua e pronta para me receber. Fator esse denominado como indescritível.

Caí da prancha em meio a esse pensamento. Até a realidade me abria os olhos para um vício que devia ser contido de imediato. Volto a superfície das águas e me sento sobre a Celeste. Àquela hora da manhã o sol já subiu e os outros surfistas estão chegando afobados para deslizar sobre o mar, assim como eu o fazia. Olhei para o horizonte e me vi nadando em direção a mais uma onda razoável. Distrações como essa são bem-vindas quando não se deseja remeter lembranças de uma mulher bastante misteriosa.

O problema é que a senhorita Alderton tem o poder de manter um autocontrole mental indômito. Suas visitas inusitadas haviam me instigado. E algo dentro de mim desejava, mais do que tudo, desvendar ou ao menos entender o motivo de suas investidas. Ficou claro para mim, dias antes, quando a encontrei na casa noturna que eu não era um alvo único. Erin jogava e manipulava todos que desejava ter para si. Não de maneira duradoura, como todas as outras mulheres, mas apenas por uma noite. E nada mais do que isso.

Bom... assim eu havia concluído o meu pensamento sobre as suas intenções... Até ela aparecer no bar e me dar mais do que ela tinha a oferecer. E que mais.

A única coisa que eu sei, realmente, é que Erin se mostra uma mulher autossuficiente, empoderada, que usa o corpo sem tabus por sua conta e desejo próprio. Isso é algo admirável vindo de uma mulher, uma vez que a vida é tudo o que lhe importa, e não os dedos apontados em forma de julgamento. Embora, isso ainda não explique o fato de eu ter sido um dos seus escolhidos. Como ela me encontrou? Por que eu? Por que me rejeitou antes, se acabou se entregando uma segunda vez? Minha mente se tornou um labirinto sem saída. Não havia respostas, nem soluções para suas aproximações enigmáticas.

Deslizei sobre a última onda que eu iria planar aquela manhã, deixando-a me levar mais próxima o possível da costa. Fui saindo com Celeste no braço, em direção à minha mochila que estava sobre as areias finas da praia. Senti que o mar não queria que eu fosse; a sensação de abandono era recíproca, no final das contas. Eu queria poder passar o dia inteiro ali.

Observei alguns olhares femininos fixados a mim. Uma mulher foi censurada pelo homem que estava ao seu lado, provavelmente seu marido. Sorri e desviei o olhar do problema, partindo para outra que estava caminhando para o mar segurando a mão de uma criança. Ela estava tão admirada que quase tropeçou em um castelo de areia que estava a sua frente. Meu sorriso se alargou ainda mais. O efeito que eu causo nas mulheres é hilariante. Elas se derretem e quase faltam lamber o chão.

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