Capítulo 37

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MASON

Minha mãe estava vestindo o habitual robe escuro que usava diariamente em suas noites solitárias, o seu rosto estava coberto com uma gosma porosa — se era possível definir assim —, e com o auxílio de uma touca laminada mantinha os cabelos presos em algum tipo de massagem capilar que cheirava a mel.

Estagnada na porta, seus olhos me examinaram de cima a baixo, antes dela segurar em minhas mãos, virando-as com as palmas para cima em busca de algo que não fosse a epiderme.

— Não há sangue aqui. — Suspirou, aliviada. — Acho que isso ameniza as chances de você ter matado uma pessoa, certo?

— Isso não seria um problema mãe, seria crime.

— Pense pelo lado maternal da coisa, eu teria que ficar sem olhar para o seu rostinho lindo por décadas. Então, é claro que isso me parece inconveniente.

Ela abriu espaço para que eu pudesse entrar seguindo em direção à sala conjugada, o barulho da televisão era o único por toda a extensão da casa. O silêncio era a resposta de que eu precisava sobre o paradeiro dos meus dois irmãos mais novos, àquela hora da noite eles certamente estavam dormindo.

— Essa mulher é boa, aposto que a boceta dela é mais rígida do que os paus que a penetram — arqueou o queixo em direção à tv, referindo-se a quem ensinava contrair os músculos inferiores da vagina no canal sobre saúde feminina.

— Céus! — Resmunguei, frustrado pelo pânico ter me conduzido até aquele exato lugar e momento. — O que eu vim fazer aqui?

— Me diga você... — Ela instigou, servindo duas taças de vinho no balcão da cozinha. — Eu conheço os meus filhos o suficiente para saber quando eles se perdem, mas a perspectiva das coisas me ajudaria na compreensão do nível de preocupação que eu deveria tomar.

Sentei no assento da bancada e aceitei a taça de bom grado quando ela me ofereceu.

— Parece tão estúpido dizer sobre isso quando finalmente estou aqui.

— Ah, querido, não há nada que façamos que não seja um pouco estúpido — ela sorriu, gentilmente. Aquele único sorriso seria capaz de condensar o mundo e tranquilizar quaisquer que fossem os problemas alheios. Embora se mostrasse um tanto quanto degenerada, havia uma essência materna em minha mãe que era impossível de não se admirar. — Se você está aqui é porque precisa de um porto seguro e eu sempre vou ser o seu, não importa as circunstâncias. Afinal, não limpei bundas por tanto tempo sem algum sentido... — Ela sacudiu os ombros e bebeu um gole do seu vinho, fazendo careta ao sentir o amargo em sua língua.

— Estou apaixonado! — Eu desvendei de uma vez, sem ao menos respirar.

Ao processar o que eu disse um jato de vinho foi expelido de sua boca, os seus olhos esverdeados se arregalaram ao máximo em suas pálpebras. Era uma reação comum, se levarmos em conta o quanto descuidado eu havia sido para que isso acontecesse de novo.

— Deus! — Colocou a mão sobre o peito, antes de virar todo o conteúdo líquido de sua taça e jogá-la ao chão. O cristal se espatifou em milhares de pedaços, mas ela não parecia estar incomodada com o barulho ou a perda de uma das suas peças caras de cozinha. Pelo contrário, ela estava com um sorriso que poderia atravessar galáxias inteiras. — Estamos falando de uma mulher? — Sua voz estridente soou como um gritinho histérico, o típico feminino.

— Estou sendo honesto, mãe, não me venha com piadas rotineiras...

— Eu conheço o meu menino. — Ela rodeou o balcão e se aproximou o suficiente para roçar os seus dedos em meu rosto, — e, sei que não brincaria com algo assim. Não depois de tudo o que passou.

Benefício da Dúvida (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora