ERIN— Acorda, dorminhoca! — A voz rouca, próxima ao meu ouvido, fez-me sentar na cama de súbito. O movimento estilhaçou o meu corpo como um objeto de vidro ao cair no chão. Estava dolorida dos pés à cabeça, os olhos mais sensíveis à luz do que o normal. Reconhecia tais sintomas como os efeitos de uma ressaca, eram apenas resultados de mais um porre — entre os diversos — que tomei nessa vida.
Aos poucos, a visão foi se enquadrando, possibilitando-me visualizar o lindo rosto de Ty Coulter. Eu não reconheci o ambiente em que estávamos e nem fazia ideia de como havíamos chegado ali. Precisava juntar as peças do quebra cabeça para me situar. Lembro de ter ido à boate por causa dele, e de ter acontecido um acidente em meu vestido. Acidente não...
Hoth!
Ele também estava lá, e, parecia estar bravo comigo. Que merda aconteceu? Passo a mão por minhas têmporas pulsantes. Minha mente se tornou um borrão de lembranças desconectadas. De repente, o motivo de sua ira me passa a cabeça: eu havia beijado a mulher com quem ele planejava transar. Soltei uma risada. Agora, eu tinha certeza de tê-lo afastado de vez.
— Parece que alguém acordou feliz essa manhã.
Voltei a me atentar ao fato de que eu não estava sozinha. O dono da casa noturna estava à minha frente e vestia apenas um samba-canção que pendia deliciosamente em seu quadril. O torso desnudo mostrava os gomos malhados de seu peitoral rígido e deixavam suas belas tatuagens ainda mais expostas. Uma delas se escondia por dentro de seu calção, gerando certo tipo de curiosidade. Gostaria de saber como ela terminava, seria uma visão e tanto para um sábado de manhã.
Ca-ra-lho!
Eu devia estar na galeria há essa hora, mas ao invés disso, passei a noite na cama com um homem quando isso ia além do que eu poderia me permitir. Era evidente que alguma coisa tinha acontecido. Os motivos que me levaram à boate giravam em torno de um alívio: sexo. No entanto, eu ainda estava vestida. O que não fazia sentido se...
— Acho que você está se perguntando o que aconteceu por aqui. — Ty riu, acredito que minha feição confusa lhe causava diversão. — Como disse mesmo aquele cara do livro que as mulheres adoram? Ah... Necrofilia não é a minha praia. —Arqueei uma sobrancelha, diante à sua referência. — Não me olha desse jeito, eu não li o livro, só assisti o filme uma vez... por curiosidade.
— Então, nós não transamos? — insisti em perguntar.
Ele negou com movimentos sutis da cabeça.
— Acredite em mim, não faria nada do tipo com uma mulher. Não sou um cara tão ruim. Apesar de que também não sou um príncipe encantado.
— Nós dormimos na mesma cama?
— Não queria assustá-la pela manhã... por isso, preferi dormir no sofá.
— Eu disse alguma coisa enquanto dormia?
— Você só roncou, bastante. — Ele riu sozinho de sua piada sem graça. — Brincadeira, você não disse nada. Teria alguma coisa para me dizer? — Piscou para mim, sedutor.
Soltei a respiração que até então não sabia estar segurando. Ao menos, não havia dormido com ele... na mesma cama. E não havia dito nada, dessa vez.
De repente, mais imagens vívidas da noite passada se desprenderam do meu cérebro nublado. Lembrei-me, também, de que Mason havia ficado enfurecido com o meu embate e decidiu entrar no jogo, seguindo sua noite ao lado de quatro belas jovens. Observei-o algumas vezes de relance, em sua manobra que nada se passava de uma provocação desmedida, o que não surtiu muito efeito, uma vez que eu não me importava com as suas companhias. Mas sim, com a sua audácia em me confrontar. A primeira vez sua coragem foi admirável. A segunda, no entanto, acabou se tornando irritante. Todavia, levando em consideração o meu disparate de alguns minutos antes, sua ira desenfreada era aceitável, e até me causava divertimento.
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Benefício da Dúvida (+18)
Literatura FemininaSinopse Erin Alderton saiu de Amsterdã às pressas deixando para trás as sombras de um passado tenebroso e levando consigo um coração despedaçado. Sozinha, conquistou o seu grandioso império se tornando dona da galeria de arte mais influente de Chic...