Capítulo 1

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KEERAN
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Você me matou, sem piedade, quando eu gritei implorando para que não fizesse isso.

A voz infernal, que não me deixava em paz, voltou a ecoar em minha mente.

Uma voz de uma das pessoas que eu matei.

Era assim todos os dias, várias vezes ao decorrer das horas, uma voz diferente sempre tomando meus pensamentos. Me atormentando, me assombrando, tirando o pouco da paz e sossego que eu tinha.

Sempre que uma das vozes surgia, tudo ao meu redor sumia e eu me via preso em uma névoa, como estava acontecendo agora, quando devia estar me concentrando no que estavam dizendo na reunião.

Você acabou com a minha vida, com os meus sonhos. Destruiu a minha mãe matando a única filha que ela tinha. Como pode viver tranquilo com isso?

Eu não vivo.

Eu não vivo tranquilo desde que a mulher que amo desapareceu, como uma pétala que você está apreciando voa subitamente com o vento.

Makenna é uma pétala que aprecio a anos, que recebeu toda a minha admiração, e o meu coração. A apreciava com o coração acelerado quando a mesma estava a minha frente, e com um sorriso nos lábios quando ela estava longe - e o que restava era pensar e lembrar de sua beleza, tanto Interna quanto externa.

Essa pétala se fora e sem ela não conseguia mais me concentrar em determinados momentos, não conseguia dormir e tão pouco abrir um sorriso sincero para as pessoas.

A cada dia que passa, eu me quebro em pedaços sem notícias dela.

É o que você merece. Não ter amor e nem carinho. Morrer infeliz. Alguém com sangue nas mãos não merece a felicidade.

Sim. Eu não mereço a felicidade. Eu devo morrer infeliz. Eu devo pagar pelo sangue que derramei.

Você se considera uma pessoa de bom coração? Está enganado. Seu coração é escuro e sujo, você logo estará matando de novo, tirando outra vida. Levante os olhos, príncipe. Olhe o que foi capaz de fazer com uma inocente.

Era impossível ignorar a voz, deixar de ouvi-la, e, como em todas as outras vezes, eu concordava com ela — fazia o que ela pedia.

Ergui o olhar da xícara de chá, que eu não havia tocado, para encontrar uma jovem a minha frente. Uma jovem morta. Que eu matei.

Uma jovem cheia de cicatrizes por todo o corpo, corpo esse que estava torto como se suas partes tivessem sido coladas de mal jeito. Um bile sumiu a minha garganta ao olhar sua pele flácida e cinzenta, sem nenhuma gota de sangue correndo por seu corpo. Sua cabeça estava caída de lado, descolando da garganta, os cabelos loiros caindo como palha morta e um sorriso estampado em seus lábios roxos.

Você. Você fez isso comigo. Não alguém usando seu corpo. Você. Você.

A voz continuou a falar, mas seus lábios não se mexiam junto. Eu não me mexia. Estava paralisado enquanto a jovem se aproximava de mim. A cada passo que ela dava, uma parte de seu corpo se descolando e caia no chão.

Logo a mesma coisa vai acontecer com você. Alguém vai cortar cada parte de seu corpo até a morte. Ou você mesmo acabará colocando uma faca sobre o seu coração.

Sim. Eu morrerei da mesma forma que matei os inocentes. Eu devo morrer assim. Não mereço mais nenhum dia de vida. Eu...

— Keeran! Está ouvindo?!

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