HENRIK
________
Eu sinceramente não sei porquê Eudora me escolheu para vir até Hemort, sabendo que eu precisava ficar perto de meu irmão para que ele não sofresse. Mas eu decidi vir por ela, que me ajudou tanto, por Lorcan, que não merecia morrer, e por Roman e Amram, que são meus amigos há tanto tempo.
Foi uma tortura o caminho até o castelo.
Uma tortura imaginar que alguém podia surgir entre as árvores e nos atacar de surpresa e acabar matando um de nós. Assim como eu não queria morrer, não queria perder nenhum dos meus amigos. Eu sabia que eles sabiam lutar, e muito melhor do que eu, mas sentia a necessidade de ficar ao lado de Roman para caso algo acontecesse. Não sei porquê. E não queria pensar nisso.
O medo me corroía por inteiro. Medo por Roman, por meus amigos, pelos meus irmãos, por Makenna. E, depois de saber as atrocidades que os deuses fizeram séculos antes, não tinha a vontade de rezar para nenhum deles, então estava meio perdido. Não tinha nenhuma força maior olhando por nós. Tudo era incerto, tudo podia acontecer.
Se um súdito de Hemort conseguiu me derrubar de surpresa, imagina o que iria acontecer comigo em uma guerra. Acho que eu não sou um guerreiro tão bom assim, preciso treinar mais, aproveitar o tempo que tenho.
Tive muita sorte que Amram previu a possibilidade desse ataque surpresa, de ela ter esperado do lado de fora enquanto eu e Leon entravamos no escritório, de Roman ter acertado Michei antes que algo ruim acontecesse comigo. Não sabia que ele era um ótimo lançador de adagas — devia ter aprimorado isso enquanto eu estive em casa. Eu estava bastante agradecido por isso e muito surpreso. Ele podia ter me contado sobre seu novo talento por cartas se não tivéssemos nos afastados.
Acho que sempre irei me arrepender disso.
Depois de quase ter morrido, eu observava afastado enquanto Roman cuidava de Lorcan, Amram prendia Michei, Leon se ajoelhava ao lado de seu Rei todo preocupado e Gael aparecia no cômodo. Sério, não sei o que vir fazer aqui. Todos teriam ficado bem sem mim, não precisava de mais um apoio. Eu podia ter ficado com meus irmãos e treinando.
Minha mãe, se estivesse aqui, diria que eu estou sendo infantil por estar bravo por ter sido derrubado tão rápido, quando tinha sido treinado tão bem. Orgulhoso. E acho que estou mesmo. Pensar nela, rodeado por tantos retratos da família de Lorcan, faz a tristeza e a saudades surgir, contudo, acabo abrindo um sorriso por saber o que ela realmente diria a mim nesse momento. Erga a cabeça, Henrik.
— Você está bem? — Roman se aproxima de mim depois de terminar de colocar Michei em coma.
Por um momento fico confuso com suas palavras, mas então lembro que o conselheiro do Rei abriu um ferimento leve em minha garganta. Nem tinha dado importância para ele.
— Sim. — declaro a ele, levando a mão até o ferimento onde o sangue que saiu já está endurecido. — Não foi nada demais.
— Às vezes os ferimentos mais leves podem ser os mais mortais. — ele comenta com um tom sério e se aproxima mais de mim, tirando minha mão do ferimento. — Deixa eu checar.
Digo a mim mesmo que o arrepio que me percorreu por inteiro foi por causa do vento que vinha da janela meio aberta e não porque Roman tocou em minha mão.
— Não foi tão fundo. — ele diz enquanto examina o ferimento, inclinando a cabeça para ver melhor. Essa aproximação toda me faz prender a respiração. — E Leon disse que a lâmina da lança não está envenenada, mas se você sentir alguma coisa…— sinto cócegas na garganta quando ele usa sua cura para fechar o ferimento por completo e sumir com a cicatriz. — Me avisa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias Perdidas
FantasyVol. 2 da trilogia "Ascensão dos Reinos." Eles não conhecem o perigo que os rondam. Sendo fácil ser influenciado. Sendo fácil colocar a culpa em quem não é culpado. Duas pessoas queridas estão desaparecidas. Todos estão atrás de respostas...