MAKENNA
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Não sei quanto tempo faz que estou observando as cicatrizes que ficaram em meu braço esquerdo.
São três cortes longos, das garras do lobo que me arranhou. O curandeiro não tinha um poder para sumir com elas. Queria muito que Roman estivesse aqui para sumir com elas, assim eu não iria lembrar a cada segundo o que aconteceu nessa estalagem ao olhar para elas.
Mesmo que o curandeiro tenha curado meus ferimentos, e tenha consertado meu nariz, ainda tem uma dor e o cansaço presente em meu corpo, mas não tive forças para ir em um dos quartos tomar um banho ou ao menos trocar de roupa. Imagine descansar. Só de pensar em fechar os olhos e ficar sozinha...me estremeço toda.
Estou sentada no sofá da recepção da estalagem desde que tudo acabou e se acalmou, com a cabeça inclinada para trás e os olhos fechados. Keeran esteve sentado comigo por um tempo, mas há minutos que ninguém vem falar comigo, me deixando em paz depois de toda essa loucura.
Forcei minha mente a pensar no mar, no barulho das ondas ecoando em meus ouvidos para não ouvir nada ao meu redor quando os dois soldados da cidade — agora recuperados — levaram o corpo do jovem rapaz morto e da mulher que deixou todos paralisados, e a faxineira da estalagem começou a limpar o sangue do chão de madeira. Ainda não me disseram o nome do rapaz que me salvou.
Ele salvou minha vida e merece ser lembrado, mas por outro lado a lembrança do que aconteceu iria me fazer sofrer. E eu já tinha muitas lembranças ruins. Mais uma para a conta.
Me sinto mal, com a ânsia persistindo em continuar em minha garganta mesmo depois de vários copos com água, mas ainda assim meu cérebro volta a trabalhar quando uma conversa chama minha atenção.
— O que faremos com ele? — identifico a voz de Keeran.
Abro os olhos e vejo que ele está parado perto de Andrew, que está bem preso com cordas e ainda inconsciente. Amram e Henrik estão com ele. Sei que Lorine está com sua irmã, enquanto ela se recupera do golpe na cabeça e Lorcan está com o curandeiro em um dos quartos removendo a adaga de seu ombro. Não sei onde está Kalin, ele sumiu depois que o curandeiro foi chamado e curou o ferimento de seu braço. A última vez que o vi, ele estava com uma expressão desolada.
— Ele matou Darius e está ao lado daquela coisa sombria. — Amram diz. De onde estou, não consigo ver sua expressão mas vejo sua postura rígida. — Ele merece morrer.
Ela foi a que mais chorou ao ver o jovem rapaz morto. Darius. Agora sei seu nome, um nome que vou me lembrar até minha morte.
Morte. Saio do entorpecimento ao me dar conta das palavras de Amram. Me levanto com rapidez, ignorando a dor em minhas costas, e me aproximo deles.
— Não o mate. — peço, com o tom firme. — Ele não tem culpa! Alguém violou sua mente, o tornou um assassino, retirou todas suas emoções e sentimentos.
Não preciso pensar muito para saber que Andrew nunca teria me machucado se alguém não tivesse feito algo em sua mente.
Meu pai sabe que ele era importante para mim, mesmo sendo apenas um capitão da guarda. Andrew me protege desde que tenho quinze anos, eu mesmo o escolhi quando fiquei cansada do velho guarda que me protegia sem nenhuma vontade e não sabia se manter discreto. Andrew era jovem, mas muito competente, o mais talentoso entre sua tropa. Sempre tive um carinho por ele, e ele por mim.
Meu pai o mandou para me matar pois sabia que sua presença iria me abalar e isso iria facilitar minha morte.
— Seu pai pode vir atrás dele se o mantermos preso aqui. Vai soltá-lo. — Henrik supõe, me olhando com pena. — Então ele irá atrás de você de novo para matá-la.
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Histórias Perdidas
FantasyVol. 2 da trilogia "Ascensão dos Reinos." Eles não conhecem o perigo que os rondam. Sendo fácil ser influenciado. Sendo fácil colocar a culpa em quem não é culpado. Duas pessoas queridas estão desaparecidas. Todos estão atrás de respostas...