Capítulo 42

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HENRIK
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Abro os olhos e me deparo com um salão.

Não consigo ver tudo claramente, mas sei reconhecer um salão de um castelo.

A primeira coisa em que reparo é em meu irmão. Alguém está o segurando com uma faca em sua garganta. Não consigo me mexer para correr até ele e ajudá-lo, não consigo gritar para que ele se defenda. Keeran treinou para se defender de situações assim, para tentar se soltar. Por que então ele não está fazendo nada para se soltar?

O desespero me consome quando a pessoa que está segurando meu irmão move o braço e corta a sua garganta. Acontece tão rápido. Quero gritar, quero correr até ele, mas não consigo fazer nada disso. Não estou lá para ajudá-lo, para salvar, então estou paralisado no mesmo lugar.

Observar Keeran morto no chão me faz sentir um misto de emoções ruins — as principais sendo a dor e a incapacidade. Não devia ter me afastado dele. Eu falhei com ele, falhei na promessa que fiz para minha mãe. Devia ter protegido melhor meus irmãos. Não devia ter me afastado.

Pisco repetidas vezes para afastar a imagem do corpo sem vida de Keeran. Não aguento olhar. Quero que ela desapareça, mas ao mesmo tempo não quero acordar e enfrentar meus pensamentos, enfrentar a vida real com a dúvida se meu irmão está ou não bem. Se meus irmãos estão seguros. Essa imagem é real ou não? Estou tendo um pesadelo?

Não vou aguentar muito tempo. Não sou forte o bastante para isso e em algum momento vou cansar de lutar, vou acabar desmoronando.

— Henrik.

Uma voz suave ecoa a minha volta. Uma voz que conheço tão bem, que sempre me transmite calma. Roman aparece em minha frente, tomando o lugar da imagem do corpo do meu irmão. Só de vê-lo, começo a me sentir melhor, começo a me sentir mais forte. Sempre que olho para Roman, sinto coisas que não entendo, que me dá um certo medo. Porém, é algo que eu também gosto de sentir, que me dá felicidade.

Me sinto vivo.

— Está tudo bem, Henrik. — Roman estende a mão e toca em meu ombro, olhando fundo nos meus olhos. — Agora você precisa acordar. Acorde.

Acorde. O comando ecoa em minha cabeça e eu o sigo sem hesitação e medo, confiando que tudo vai ficar bem. Se Roman está falando...eu confio nele.

Acordo enchendo com rapidez os pulmões de ar.

O ar gelado me faz tossir e sentir uma ardência e dor nos pulmões, imagino que graças ao sufocamento que sofri antes de eu cair da montanha e por causa da queda.

Aqueles desgraçados, nos atacaram tão rápido.

Sabia que eu tinha ouvido uma voz na minha cabeça. Era de um deles, daqueles escondidos na neve, dizendo para esperarem mais um pouco.

Lembrar disso me desperta. Desperta a dor em meu corpo. Sinto uma pressão no peito e tento controlar a respiração para aliviá-la. Uma dor insuportável no ombro direito, que desce para o braço, me faz gemer. Merda, acho que ou quebrei o braço ou distorci o ombro. Tento me sentar e sinto uma leve dor nas costas, mas essa eu ignoro.

Preciso levantar. Preciso descobrir se Kalin e Lorcan estão bem, se estão vivos. Não posso ser o único sobrevivente.

Caímos em um buraco no meio de duas montanhas. Cair sobre um punhado de neve, o que foi minha salvação. Olho para cima, para a montanha de que caímos, e descubro que não foi uma queda tão grande, mas também não pequena. É impressionante que eu esteja vivo.

Se estou vivo, os dois também estão...

Prendo o fôlego quando olho ao redor e vejo mais a frente um grande número de ossos, ossos separados de esqueletos de humanos e animais, empilhados um sobre o outro. Alguém, algo, comeu muito bem durante esses anos.

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