Histórias Perdidas

Capítulo 37

MAKENNA
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Estamos perto do castelo, da minha casa, e o frio na minha barriga está ainda mais intenso do que antes. Se eu não estivesse controlando minha respiração, acho que eu estaria tremendo bastante.

No caminho, mesmo nos escondendo na floresta, consegui ver inúmeros soldados na cidade. As tropas que Chadd disse que nosso pai estava convocando para a capital. Eles tomaram tudo. Ghentter não é mais a bonita e alegre cidade que eu conhecia, nem as árvores e flores tem o mesmo brilho de antes. Acho que a cidade não voltará a ser como era antes tão cedo. As casas e lojas foram tomadas por soldados, e as ruas estão cheia de tendas para os soldados que não tem onde dormir. Antes se ouvia música vindo da cidade, agora se ouve várias vozes de soldados se sobrepondo uma sobre a outra.

É estranho não termos esbarrado com nenhum soldado, pensei quando o castelo entrou em meu campo de visão. Eles não estão fazendo rondas? Não estão de olho na floresta? Por que? Mas afastei esse pensamento, era só o medo me fazendo pensar besteira. Os soldados com certeza ainda não sabem detalhes da guerra, por isso não estão tão de olho na floresta.

É uma sorte que eu e Chadd conhecemos bem nossa cidade e soubemos como evitar os soldados até chegarmos na parte da floresta que se junta com o jardim do castelo.

— É um belo castelo. — Maryna quebra o silêncio quando paramos escondidos atrás de algumas árvores do jardim e estamos observando o castelo. — Pena que é um péssimo momento para conhecê-lo.

É um lindo castelo, com certeza. A luz do sol faz as torres brilharem. As varandas e pilastras são cheias de plantas e flores, de todas as cores e formas. O jardim é o mais lindo do mundo, cheio das mais belas árvores e flores, com varandinhas com bancos para descansar na sombra e ter uma bela visão da paisagem, com fontes e estátuas impressionantes, tudo bonito graças às exigências de minha mãe. Ela é apaixonada pelo jardim e sempre está acrescentando uma decoração nova.

De onde estou escondida, consigo ver a trilha que leva para as fontes termais, o lugar mais desejado por todos para passar uma tarde, seja quente ou frio. A família real tem um espaço particular no castelo, mas Allyria e eu gostávamos de nos misturar com as pessoas da cidade para sentir aquele gostinho de festa. De noite, o modo como as lamparinas estão colocadas ao redor do castelo e no jardim fazem parecer que estão flutuando. Com os vagalumes então...é a coisa mais incrível do mundo. Pelo menos era o que eu achava, agora tenho o castelo de Likajhi para comparar, e não sinto mais que esse lugar é minha casa. Ele perdeu a magia.

Fecho os olhos por alguns segundos ao me ver em uma das minhas roupas magníficas correndo e entrando pela porta da frente do castelo; ao ver Allyria andando ao meu lado nesse mesmo jardim fofocando sobre os acontecimentos do dia; ao ver minha família reunida para o chá da tarde de minha mãe que ela preparava com tanto carinho; ao ver Anthea correndo atrás de uma borboleta ou qualquer outro bicho voador pensando que consegue domá-los com seu poder. Era uma casa feliz, agora é só uma construção silenciosa.

Temos certeza que minha família está aqui, Nasyre e Elior nos ajudaram a saber se eles tinham ido para outro lugar, o que não aconteceu. Então, onde estão os criados? Onde estão os guardas? Chadd só viu dois guardas na entrada principal. Uma hora dessas, jardineiros estariam andando pelo jardim seguindo a ordem de minha mãe de deixá-lo sempre bonito e florido.

Se Chadd achasse estranho a falta de pessoas, estaria dizendo alguma coisa. E ele não está, então a ausência de criados deve ter acontecido quando ele ainda estava em casa. Mas o que será que está acontecendo lá dentro?

— Temos que entrar para ver. — sussurro, respondendo minha própria pergunta e demonstrando aos outros que está na hora de entrar.

Preciso muito ver se minha família está bem. Por dias me perguntei como eles estavam e agora estou aqui, pronta para saber a resposta. Só não sei se irei conseguir ir embora sem eles, fugir, se isso for necessário para ficar viva.