Capítulo 25

1K 141 58
                                    

                         MAKENNA
                         ___________


Minha respiração começa a ficar irregular ao observar o canteiro de margaridas no jardim de Eudora. Margaridas são tão comuns em Aradaik. São as flores preferidas de minha mãe, que compartilhou seu amor por elas comigo e meus irmãos. Os jardins em nosso castelo são cheios de margaridas. Só de olhá-las, consigo ouvir a voz de minha mãe.

Eu te amo, minha pequena flor.

Quando eu era a sua única filha ela me mimava bastante, e eu amava tanto ela, amava a atenção que ela me dava. Então minha irmã, Anthea, nasceu e me sentir um pouco deixava de lado. O ciúmes me acompanhou por um bom tempo, mesmo que mamãe dissesse que me amava e que ciúmes era algo bobo. Entrei na adolescência, tive meus momentos rebeldes — levando Allyria comigo —, mas mamãe nunca brigou comigo, ao contrário, tentou me entender e me ajudou a melhorar mesmo quando me mandou passar um tempo com vovó para me tornar uma dama perfeita. Foi necessário, não fiquei com raiva dela por isso. Ela fazia gosto que eu aproveitasse minha juventude indo em festas e me relacionasse com os vários homens que já passaram por minha cama, algo que ela nunca teve por causa do seu pai rígido.

As pessoas achavam que Allyria que me levava a fazer atos que eram considerando rebeldes para uma princesa, mas eu que no começo a puxava para isso. Ela sempre tentará ser a dama de companhia certinha, mas me tornei sua melhor amiga para fazê-la se sentir a vontade em ser ela mesma. Eu que apresentei a ela os prazeres da vida. Ela então descobriu do que gostava, a não se manter calada, a se opor e se divertir sem se arrepender.

Agora tudo se foi.

Allyria está morta e eu não posso voltar para casa.

Quando eu cheguei nessa aldeia, achei que podia tentar ir para casa, avisar minha mãe ou meus irmãos sobre o que estava acontecendo, mas perdia as esperanças ao imaginar o que poderia acontecer.

Os guardas do meu pai poderiam prender a mim e a quem fosse comigo, até matá-los, antes que eu conseguisse colocar os pés no castelo. Mamãe poderia ficar cega de amor e admiração pelo meu pai e não acreditar em mim, levando todos a achar que eu estava louca — o que daria a oportunidade de papai me prender novamente. Poderia mandar uma carta, mas ela talvez não chegasse às mãos dela ou ela não iria acreditar. Meus irmãos então...admiravam demais nosso pai para acreditar na irmã que só festejava. Tyrion, meu irmão mais velho e carinhoso, talvez acreditasse em mim...mas nosso pai é um manipulador, iria o convencer do contrário, com certeza.  Tenho medo que ele já tenha levado um dos meus irmãos para o lado da Rainha das Sombras. Por isso tenho medo de procurar qualquer familiar.

Meu coração se acelera ao imaginar que talvez não veja minha família novamente se a brutal guerra que está por vir derrube a mim ou a um deles. Se acelera ao imaginar o quanto minha mãe está sofrendo por achar que talvez eu esteja morta ou perdida por aí — se ela não já estiver ao lado dos ideais de meu pai. Só de pensar nisso sinto o ar sumindo de meus pulmões. Ela ficaria do lado das sombras ou não? Eu teria perdido o amor dela?

Céus, nem me lembro da última conversa que tivermos. Me lembro que ela me abraçou antes de eu partir para Mylathow e disse "até mais, minha flor. Tenha uma boa viagem. Mande notícias, eu te amo." Mas uma última conversa? Não me lembro. Será que ela recebeu minha última carta com notícias? Será que ela a ler todos os dias e sente minha falta?

— Makenna.

Ouço alguém me chamando, mas a voz soa distante assim como o toque no meu braço. Percebo agora o quanto o medo e o pânico dominou meu corpo, deixando-o trêmulo.

— Makenna, respire.

Me agarro a voz, cansada de ter pensamentos melancólicos que só me fazem sofrer. Não quero me acovardar. Solto a respiração devagar, esperando que assim meus batimentos voltem ao normal.

Histórias Perdidas Onde histórias criam vida. Descubra agora