KEERAN
_______Nunca achei meus poderes úteis, pois não tinha porque eu usá-los.
Vivendo em um castelo que não dá festas com frequência, nunca fui de os exibir para ninguém como um príncipe esnobe. E, como demorei para controlá-los, não os usei demais.
Aos cinco anos descobrir que tinha herdado o poder de papai. Conseguia mudar um objeto para qualquer outra coisa, só que nunca consegui descobrir como deixar permanente como ele conseguia — o objeto sempre voltava a sua forma original poucos minutos depois.
Herdei o poder gravitacional de minha avó, que estava sempre se exibindo que ele era mil vezes melhor do que telecinese. Quando eu tinha sete anos, esse poder vivia descontrolado. Os objetos voavam pelo cômodo, alguns até saiam pela janela e nunca mais eram vistos. Por isso fui mandado para passar alguns meses na casa de meus avós no campo, onde vovó me ajudou a controlar esse poder. Agora, se eu me concentrasse bem, poderia até voar. Na verdade, apenas planar acima do chão. Voar é exagero.
Ironicamente, descobrir que conseguia criar campos de proteção com esse poder depois que papai morreu. Acho que por isso tenho uma certa raiva deles. Dois poderes que nunca me ajudaram em nada ao longo de minha vida. Até agora.
Eles iriam ser úteis para resgatar Makenna do subsolo do castelo em Terrarick.
Eu já estava preparado para usar meu campo de proteção no bosque das panteras e onças se Kalin acabasse dando um passo em falso e um dos animais pulasse para nos atacar. Não deixaria ninguém morrer nas garras dessas feras, não deixaria acontecer o que aconteceu com meu pai. Se todos continuassem juntos, como estão, eu iria conseguir criar um campo grande o suficiente para proteger todos. Contudo, Kalin seguiu bastante confiante por toda a caminhada pelo bosque, andando mais rápido do que qualquer um, e, a cada cinco minutos, nos lembrava para caminharmos juntos se não queríamos morrer.
O bosque além de ter árvores gigantes, e muitas delas curvadas, tinha várias raízes grandes saindo da terra que deixavam nossa caminhada um tanto complicada. Moitas nos impedia de ver os animais escondidos mas, com olhos atentos, todos conseguiam ver os olhos amarelados que nos observavam a cada passo. Os animais não pulavam para nos atacar graças a Kalin.
Eu andava próximo de Henrik, imaginando que essas panteras fossem trazer lembranças dolorosas para ele sobre a morte de nosso pai. Eu mesmo já estava recordando daquele dia, porém, seria ainda mais difícil para meu irmão. Naquele dia, Henrik entrou em minha frente e eu vi bem pouco do que aconteceu com papai. Meu irmão, por outro lado, viu tudo. Eu só ouvir os gritos.
Os gritos de dor de papai...os gritos de desespero de Henrik...me estremeço todo só de pensar.
Mesmo com sua expressão impassível, eu conseguia senti-lo tenso ao meu lado. Henrik estava se mantendo firme. Às vezes me olhava de lado, outras me olhava fixo nos olhos com uma certa preocupação e eu dava uma cotovelada leve em seu braço e pensava "tá tudo certo" para que ele lê-se minha mente. Assim estaria dizendo que aquele dia não iria se repetir. Henrik, em resposta, balançava a cabeça e me acotovelava de volta.
Quando saímos do bosque, que terminava no que parecia ser o topo de uma montanha, soltei um longo suspiro de alívio por ter saído daquelas sufocantes árvores. Finalmente. Foi uma caminhada de algumas horas muito tensa. Ninguém conversou muito, porque todos estavam, mesmo que não confessassem, com medo de tantos animais ferozes.
No meio daquele vento gélido, percebi que não tinha tido nenhuma alucinação desde que paramos para esperar o sol nascer para entrar no bosque. Chegava a me sentir mais leve.
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Histórias Perdidas
FantasyVol. 2 da trilogia "Ascensão dos Reinos." Eles não conhecem o perigo que os rondam. Sendo fácil ser influenciado. Sendo fácil colocar a culpa em quem não é culpado. Duas pessoas queridas estão desaparecidas. Todos estão atrás de respostas...