Capítulo 7

1.1K 173 30
                                    

HENRIK
_______


Eu era um pequeno garoto curioso.

Com oito anos, vivia correndo pelo castelo, pegando coisas escondidas na cozinha, entrando sorrateiramente no escritório do meu pai querendo saber o que ele tanto fazia lá dentro — só ficava parado e escrevendo, chato —, pegando as jóias de minha mãe e suas tiaras, colocando-as em minha cabeça — eram bastante pesadas e eu logo tirava, só queria saber porque ela as usava tanto —, enfim, eu mexia em tudo e todos viviam me advertindo. Tinha até um cúmplice: Datan, um garoto da minha idade, filho da cozinheira chefe.

Na época, Keeran tinha cinco anos e vivia brincando com seus brinquedos e estava em uma fase de medo do escuro. Dormia com um abajur acesso, com a desculpa de que na escuridão havia monstros. Foi aí que bolei um plano de fazer uma pegadinha com ele.

No começo, Datan não quis me ajudar por medo de se encrencar com meus pais, mas eu acabei o convencendo, dizendo que ele só precisava fazer uma única coisa e que eu era o responsável por tudo.

Eu sozinho encontrei um cômodo vazio e escuro, com alguns móveis de madeira velhos que seriam queimados como lenha no inverno, me arrisquei enquanto pendurava um pano no local para tampar a parede, coloquei a lamparina no lugar certo, movi alguns dos móveis, arrumei a fantasia para Datan, joguei o óleo em pontos estratégicos no chão e em seguida fui atrás de Keeran.

Disse para meu irmão que tinha encontrado um gato andando no castelo —  ele era louco por gatos —, e, quando ele se animou para vê-lo, eu o levei até o cômodo onde seria feita a pegadinha. Eu entrei primeiro, pisando nos lugares que sabia que não tinha óleo, e incentivei meu irmão a entrar no cômodo quando ele começou a tremer com o medo do escuro.

Por sorte, ou azar, ele entrou e pisou exatamente no lugar com óleo, escorregou e caiu de bunda no chão. Como eu havia imaginado e planejado. Foi nesse mesmo instante que Datan ligou a lamparina e uma sombra surgiu em todas as paredes do cômodo.

Para Keeran, era um bicho enorme com chifres grandes e quatro braços, para mim, era o Datan atrás do pano com um capacete com chifres e dois galhos abaixo dos braços, dando a ilusão de quatro braços.

Como eu tinha imaginado, Keeran começou a gritar de medo e tentou se levantar, mas sempre voltava a escorregar e cair no chão devido ao óleo. Seus gritos abafava o barulho que Datan fazia, tentando imitar um bicho-monstro de verdade, ou como nós imaginávamos que era um bicho. E eu só ficava em um canto, observando tudo e com a mão na boca, contendo o som das minhas gargalhadas.

Na terceira tentativa, Keeran conseguiu se levantar sem mais escorregar, correu até a porta e a encontrou fechada. Como ele era muito baixo para conseguir girar a maçaneta daquela porta, acabou correndo até uma cômoda velha e subiu nela. Ele, por ter apenas cinco anos, achava que subindo em um lugar alto iria ficar fora do alcance do monstro. Mas a cômoda estava velha, e o móvel se balançou com o peso dele. E não demorou a desabar de lado, segundos depois que meu irmão subiu, e o levou junto para o chão — uma cadeira quebrada acabou caindo em cima dele logo depois.

Seus gritos de medo se tornaram gritos de dor, e logo eu também estava gritando ao ver seu braço torto, o osso saindo para fora.

Ele tinha caído sobre o braço.

Guardas entraram em um minuto depois no cômodo em busca do perigo e perceberam que era apenas uma brincadeira boba de criança onde o príncipe mais novo tinha se machucado.

Keeran foi levado imediatamente até a ala médica e eu fui levado até meu pai, que estava com uma expressão furiosa no rosto me esperando. Eu cheguei a tremer tanto de medo ao vê-lo que a primeira coisa que saiu de minha boca foi que tudo foi planejado pelo Datan, que ele me convenceu a participar.

Histórias Perdidas Onde histórias criam vida. Descubra agora