HENRIK
________Em Mount Shingcal eu não preciso de uma máscara, não preciso viver no papel de príncipe frio como sempre faço em Mylathow.
Aqui eu posso respirar com alívio.
Me sinto livre.
Não há os pesos que carrego nas costas dia após dia depois da morte de meu pai. Neste lugar eu não tenho um título, sou apenas Henrik. Por isso sempre corria para a aldeia quando eu podia, e ficava o maior tempo possível.
Sei que isso é errado, ir para longe da minha família, fugir da realeza — para, também, fugir dos meus demônios —, esconder — mentir —, sobre para onde exatamente estava indo durante as minhas viagens. Só… simplesmente não conseguia compartilhar nada com eles, não conseguia me abrir com ninguém depois que a maior parte do luto passou — um luto que levou muito das minhas partes boas embora. Acabava então ficando tudo engasgado na garganta.
A culpa sempre esteve presente, mas, recentemente, essa culpa me consome por inteiro por ter sido um egoísta, idiota e orgulhoso.
Eu sou um merda e sei bem disso há muito tempo.
Eu magoo as pessoas, mesmo não sendo minha intenção. Eu sempre estrago as coisas. É algo inevitável. Mesmo sendo alguém diferente em Mount Shingcal, não conseguir fugir disso.
A primeira vez em que pisei na aldeia, todos me receberam de braços abertos, foram calorosos comigo. Fiz vários amigos em pouco tempo e recebi olhares de desejo na mesma velocidade.
Outra verdade sobre mim é que, quando os meus demônios estão vencendo a luta incansável, acabo indo atrás de uma mulher para compartilhar a cama comigo. Uso isso para fugir, por uma noite, dos pesadelos que aparecem quando fecho os olhos. Um mulherengo como muitos por aí.
Eu as uso para esquecer. Elas me usam para seu prazer. Ambos saem satisfeitos.
Porém, isso foi diferente em Mount Shingcal. Tudo aqui é sempre diferente. Não sentir a necessidade de flertar com nenhuma mulher nos meus primeiros dias aqui, apenas apreciei a companhia dos meus primeiros verdadeiros amigos. Aqueles amigos que você sente que vai ter uma amizade por toda vida.
Roman era um deles.
Sempre gentil, atencioso, ele me mostrou toda a aldeia com um sorriso genuíno nos lábios e me acolheu em sua casa.
Roman tinha uma casa só dele, uma casa que ele decorou com alguns amigos para morarem juntos. Aqueles que não tem família acabam por morar juntos, e Roman morava junto com Kalin e Darius — um recém-chegado na época em que apareci. Ele tinha família, mas já era um adulto e sentiu vontade de sair de casa e ter a sua própria. Foi nessa casa que ele me acolheu, fez eu me sentir a vontade.
É impossível não gostar de Roman. A cada dia ele ganhava ainda mais minha afeição. Fui me abrindo aos poucos sobre os pensamentos que me consumiam e ele estava sempre ali ao meu lado, me ouvindo e dizendo o necessário. Era muito fácil conversar com ele. Ele foi o primeiro que conseguiu me fazer abrir um sorriso verdadeiro depois da morte de meu pai.
Até que eu estraguei tudo.
Acabei bebendo demais em uma festa, tanto que até hoje não lembro de tudo o que aconteceu, o que eu fiz naquela noite. Me recordo de North me puxando de lado e me dando um aviso, do qual não me lembro por já está bem embriagado.
Não iluda nenhuma das garotas, talvez? Ele estava sempre dizendo isso.
Depois lembro de gargalhar bastante, enquanto Roman me levava para a casa, e dele dizendo "não faça isso, Henrik. Não é você que se machucara." minutos depois que chegamos no quarto em que eu dormia. Com certeza fiz e/ou falei algo bem ruim, já que ele não se despediu de mim no dia de seguinte, quando fui embora, e agora não me olha mais nos olhos por tanto tempo e seus sorrisos não são mais tão verdadeiros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Histórias Perdidas
FantasyVol. 2 da trilogia "Ascensão dos Reinos." Eles não conhecem o perigo que os rondam. Sendo fácil ser influenciado. Sendo fácil colocar a culpa em quem não é culpado. Duas pessoas queridas estão desaparecidas. Todos estão atrás de respostas...