Histórias Perdidas

Capítulo 28

                          MAKENNA
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A viagem para Likajhi começou bastante desafiante para mim — com algo que eu não estava esperando.

Com Alyna nos levando até o castelo de sua família, devia ser uma viagem fácil. Ao menos eu tinha torcido por isso. Tendo Conrad e Kalin como guias, meu primeiro pensamento foi que iríamos viajar por terra e ficar bem longe de qualquer cidade de Mylathow e Aradaik, mas então as princesas tiveram a ideia de deixar a viagem mais rápida.

As duas mandaram uma mensagem rápida para sua família e pediram que alguns cavaleiros de Artys viessem até nosso encontro para nos levar até o castelo. Que ótimo, não é mesmo?! Vamos voar! Essa parte até que era boa.

Os governantes de Likajhi já tinham recebido a carta os informando que suas filhas iriam voltar para casa com companhia — e não havia nenhum detalhe para caso a carta fosse desviada. Mesmo que Kalin tivesse sido o responsável por mandar uma águia com uma carta diretamente para a família real, ainda era perigoso.

Iríamos então seguir viagem por terra e parar em uma pequena cidade em Aradaik e esperar que os cavaleiros de Artys viessem até nós. Que ótimo duplo!

Lorine iria ficar em Mount Shingcal, esperando o resto do pessoal voltar do resgate de Lorcan, para viajar junto com eles. Havia um homem na aldeia que conseguia se metamorfosear em qualquer animal e ele iria tentar se transformar em uma Artys para trazer — junto com Rekie, Artys de Lorine —, com rapidez Amram, Leon e Henrik até a cidade onde estaríamos esperando.

Se não dê-se certo, iríamos chegar primeiro que eles em Likajhi. Mas estamos torcendo que tudo dê certo.

Será mais rápido, eles disseram. Viajar por terra até Likajhi iria demorar três semanas, enquanto chegar até a pequena cidade de Aradaik iria demorar dois dias e mais um dia inteiro com as Artys até Likajhi.

É fácil para eles, difícil para mim. Mas não reclamei. Não queria ver nenhuma expressão de pena nos rostos deles quando eu dissesse que não iria suportar pisar em qualquer cidade de Aradaik sem entrar em pânico ou surtar. E essa ideia deles era realmente prática.

Eu conseguia me manter forte, manter longe todas as lembranças ruins das torturas, mas era trabalhoso fazer isso. Pisar nas terras de Aradaik iria deixar esse trabalho mais difícil. Mas eu iria ter sucesso, eu iria conseguir enfrentar esse medo.

Estávamos a poucas horas de Marastir, uma das pequenas cidades de Aradaik, onde iríamos esperar pelos cavaleiros. Se me lembro bem, era onde existia mais pessoas com poderes de controlar a água, por causa do oceano e os navios comerciais.

Tentei me lembrar mais sobre a cidade quando tínhamos parado para descansar assim que o céu ficou escuro. Alyna preparava carne de cervo que Conrad havia trazido da aldeia, Kalin estava checando o perímetro, Conrad checando nossos suprimentos e Keeran eu estávamos atrás de galhos para a fogueira, um pouco afastados do resto do pessoal.

Procurar os galhos me fez ser tomada por pensamentos inquietos, ruins.

Suspiro, cansada e desnorteada, passando a mão livre sobre meu cabelo — mais curto do que estava antes. Tinha crescido graças as curas repetitivas dos curandeiros após as torturas, mas eu não havia dado tanta importância até o ver no espelho na noite anterior. O cumprimento parecia errado e tinha me deixado incomodada e, pior, só me fazia me lembrar daquele subsolo.

Desde dos meus dezesseis anos eu sempre cortava o cabelo na altura do queixo, era mais prático, e, sem o cuidado, ele havia crescido até a altura dos ombros. O cortei então na frente do espelho, Bex me ajudando com a parte de trás. Estava bem mais curto, um pouco abaixo das orelhas. O cumprimento agora não iria me atrapalhar se eu participasse de uma luta, e não iria me lembrar de nada ruim.