Capítulo 23

1K 142 28
                                    

MAKENNA
___________


Sou um monte de cacos quebrados que se mantém unidos por pura determinação.

Se estou a salvo hoje, é porque tenho bons amigos. Amigos que não hesitaram em ir me salvar e ainda estão ao meu lado, tentando me animar, trazer a velha Makenna de volta.

Agora, nós temos algo em comum: não podemos voltar para casa, a menos que queiramos morrer. Nossa velha vida foi destruída e vai ser difícil recuperá-la, voltar para nossos reinos. Estamos juntos nessa caminhada, então eu tenho que me manter firme pelo meus amigos, pelo desejo de reencontrar minha família. E por Allyria.

Minha irmã. Minha melhor amiga de língua afiada.

Ela se esforçou e conseguiu avisar a todos onde eu estava presa. Foi por causa dela que fui resgatada daquele subsolo escuro e frio. E ela quer que eu fique em segurança e seja feliz. Tenho a completa certeza disso agora que recebi seu recado. Sua despedida.

Sempre que fecho os olhos, vejo minha amiga morrendo em minha frente. Seu corpo torto devido aos ossos quebrados, o sangue escorrendo por seus ouvidos e por suas bochechas como lágrimas, ela tendo convulsões no chão. Meu pai observando tudo com admiração, feliz que seu plano tenha dado certo. Ela mata Andrew preso ao meu lado, então ela se ergue, completamente bem, mas não é mais ela, não é mais minha amiga.

Essa cena se repetiu em minha mente várias vezes enquanto estava presa naquele subsolo, uma tortura silenciosa. Eu chorava e gritava no escuro da cela, a dor pressionando meu peito com força, dor de presenciar toda aquela cena horrível, de perder uma amiga que descobrir ser minha irmã, de ser presa por alguém que devia me proteger.

Eu lutava para que essas lembranças ruins sumissem, lutava para lembrar de alguma lembrança feliz ao lado de quem eu amava e me manter firme, ter um pingo de esperança que um dia eu iria sair daquela escuridão.

Mas então vinha as torturas.

Torturas que me quebraram ainda mais e destruíram toda minha força e esperança.

Não consigo lembrar delas sem começar a chorar, sem sentir vontade de vomitar e deitar no chão para nunca mais levantar.

Não há nenhuma cicatriz em minha pele, a curandeira responsável por me curar depois das torturas me deixava com a pele lisa e saudável. Ela também me deixava com dor por algumas horas, horas que pareciam eternas, então fazia eu me sentir fisicamente bem para o dia seguinte.

Tentaram quebrar minha mente muitas vezes, tentaram me fazer esquecer de quem era para que eles conseguissem me levar para o lado das trevas, mas eles não conseguiam, nunca tinham sucesso. Isso deixava todos irritados, e meu pai ordenava que as torturas piorasse a cada dia, pois achava que assim ia funcionar. Que eu iria me quebrar. Eu nem o considero mais como um pai. Ele é um monstro que morreu para mim no momento em que fez aquela atrocidade com minha amiga, e com meu capitão da guarda, e me prendeu, me torturou por dias.

Eudora tem uma teoria de que minha ligação com Keeran e Henrik salvou minha mente. Assim como eu e Henrik ajudamos Keeran a não enlouquecer, eles ajudaram, mesmo longe, a manter minha mente inteira. Não fui para o lado das trevas por causa deles.

Me sinto agora na obrigação de retribuir tudo isso. Eles me salvaram e agora tenho que cumprir minha promessa de ficar ao lado dos dois.

Seria mentira se eu negasse que não pensei em acabar com toda minha dor...No caminho para essa aldeia, olhava para cada buraco, cada penhasco que passávamos, e minha mente dizia "vai lá, acabe logo com essa dor toda." Não via sentido em viver, principalmente com esse sofrimento impregnado em meu coração. Estou quebrada, não tenho família, não tenho casa, perdi uma pessoa muito importante para mim e as lembranças das torturas não me deixam em paz. Seria fácil acabar com tudo isso com um único movimento.

Histórias Perdidas Onde histórias criam vida. Descubra agora