Capítulo 13

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KEERAN
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Não me lembro bem em que momento da vida Henrik começou a ser meu melhor amigo. Talvez quando papai me achou grande o suficiente para ir com eles nas "aventuras" dentro e fora do castelo, ou talvez foi quando mamãe nos deixou de castigo no quarto quando tínhamos mais de dez anos e nós dois ficamos observando pela janela os criados andando pelo jardim e inventando histórias sobre a vida deles.

Ele era o melhor nisso, claro.

Muitas lembranças da minha infância sumiram, como acontece com todas as pessoas, mas existe aquela nostalgia de velhas lembranças. A certeza que você se divertiu bastante junto com outras crianças, que você teve muitos momentos bons com seu irmão mais velho. Que você o admira desde sempre.

Henrik pode ter ficado bastante tempo longe de casa mas, por não ter deixado de demonstrar o quanto se importava comigo, eu não conseguia ficar com raiva dele. A única coisa que queria entender era porque ele tinha tanta mágoa de nossa mãe, algo que nunca havia conseguido arrancar dele — e olha que tentei muitas vezes —, e ela tão pouco respondia minhas perguntas. Eloá podia ser um pouco dura e fria às vezes, mas era muito amorosa no quesito família, por isso me fez prometer que a relação dela com Henrik não iria me fazer ficar com raiva de meu irmão.

E mamãe sabia como me convencer.

Então eu tentava entender Henrik.

Ele claramente entendia que a morte de nosso pai não foi culpa dele, que papai pularia mil vezes na nossa frente para nós proteger da pantera, sem hesitar. E mesmo assim o luto que o rodeava quebrou com ele, junto com uma culpa enorme que apareceu com o tempo.

Henrik sentia a necessidade de nos proteger sempre, ele faria qualquer coisa para ver a mim e Weynar em segurança, e por compreender isso eu não consiga ficar com raiva dele por muito tempo.

Ele preferir ficar longe de casa por tanto tempo só para escalar montanhas? Tudo bem, era algo que o acalmava e ele gostava.

Ele preferir ficar numa aldeia a sua própria casa? Tudo bem, foi aqui que ele conheceu amigos verdadeiros, entendeu melhor o passado de nossa mãe e se encontrou.

Ele ser tão frio às vezes? Bem, ele teve a quem puxar.

Ele me colocar para dormir contra minha vontade, sem me perguntar antes? Quero ficar com um pouco de raiva, mas tenho que admitir que foi um descanso muito bem vindo. Um descanso que foi rápido, porém, um dos melhores que eu tive nos últimos dias.

— Ei, babão, antes de me xingar, entenda que foi para o seu bem.

Ouvir a voz de Henrik ao despertar, coçando os olhos antes de abri-los por completo.

— Já te xinguei mentalmente enquanto caía inconsciente no sofá. 

O olhei, percebendo que ele estava perto o suficiente para que eu pudesse empurrar seu ombro — um modo de dizer que estava com raiva por ele ter feito isso, mas também agradecido. Henrik riu, se sentando no sofá assim que levantei do mesmo para me esticar.

— Alguma novidade? — perguntei esperançoso, ao ver que ele estava com um humor mais leve do que quando chegamos aqui.

— Sim. Lorcan descobriu onde as garotas estão. — meu coração parou com sua resposta. Parecia que a qualquer momento eu iria cair desmaiado no chão. Finalmente. Finalmente uma notícia boa. Um lugar para procurar. — Mas tem um porém, que para Eudora não parece tão ruim assim.

— O que é?

Meu coração agora batia feito louco, como se eu tivesse corrido por quilômetros sem parar, e na cabeça já fazia orações para que a próxima resposta não fosse assim tão ruim. Por que tudo tinha que ter um "mas"?

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