Capítulo 11

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Capítulo novo 🌸

      Uma gaivota apanhou algo no mar enevoado, soprando um assobio baixo sobre as água calma da praia América. Era a única a apreciar o frio demasiado forte naquele príncipio da manhã, o lugar tão cobiçado na época do verão estava silencioso e quieto.

O telemóvel jogado na areia fina estava totalmente esquecido ao meu lado, a bateria tinha acabado há horas. Tinha a certeza que Gonçalo estava preocupado, com razão. Contudo, naquele momento precisava de um tempo a sós comigo mesma.

— Precisas superar tudo que passastes, Ilídia. — Repeti novamente a frase que acompanhou-me por toda a noite. — Superar. — A respiração errática dava índícios que precisava voltar para o carro e tomar algo quente com urgência.

Tomando o controle das pernas trêmulas caminhei em direção ao carro. O ar quente acolheu-me rapidamente.

— Acidente em Salceda interrompe o trânsito desde as primeiras horas da manhã... — O locutor da rádio que escutava todos os dias anunciou. — Infelizmente houve feridos, uma miúda de cinco anos e um homem identificado como seu pai, estão em estado de estável no hospital Caselas.

— Péssima notícia para começar o dia. — Resmunguei para o aparelho.

Um som abafado vindo de algures finalizou minha conversa com o locutor. O barulho cessou por um mísero segundo antes de voltar a soar novamente, se tornando mais alto e incomodativo.

— Raios partam a ti! — Calquei por baixo dos bancos, talvez algum passageiro em sua pressa de deixar o automóvel deixou para trás o aparelho irritante.

Tão logo percebi de onde o som estava a vir.

— Já não lembrava de ti!

O telemóvel antigo que mal usara e que comprei na tentativa de ter um único número para reservar viagens na altura que trabalhava por conta própria estava a vibrar em um lugar escondido no porta-luvas.

— Ilídia? És tu, Ilídia? — Gonçalo estava arfando.

— Olá e sim.

Por Dios! — Sabia que tinha passado dos limites. Gonçalo não era de usar muito o nome de Deus. — Por onde andaste?

— Eu estou bem, Gonçalo. — Ofereci.

— Tens a noção de como estava preocupado contigo? — Não pausou para oferecer-lhe respostas. — Liguei imensas vezes para o teu telemóvel, procurei por ti durante a última noite como um louco. Pensei em mil e uma possibilidades de onde poderias ter ido. Não me venhas com "Estou bem, Gonçalo." Estou farto de preocupar-me contigo, de pensar que podes desaparecer da minha vida como num vento. — O estrépido de algo a estilhaçar cruzou a linha. — Não és a única a passar por algo complicado na vida, Ilídia. Olha a tua volta e verás que não estas sozinha. Não és a única a sofrer, não és.

— Gonçalo...

A ligação foi encerrada bruscamente.

Suspirei observando mais uma gaivota alcançar voo.

Queria poder ter esta liberdade.

Ao chegar a casa a encontrei como a maioria dos dias, em silêncio.

Uma pilha de correspondências descansava no apoio de entrada em madeira. Uma em especial chamou-me a atenção, aquela que recebia de tempo em tempo e que ainda trazia consigo um gosto amargo.

— Ilídia! — Teo chamou-me quando estava a subir as escadas, não parei. Não precisava de mais um sermão naquela hora da manhã. Ninguém entenderia.

Sob Juramento [PT-PT]  Disponível Até 24/05 SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora