Capítulo 17 Romero - Ilídia

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— Com licença. — Carvalho solicitou interrompendo Paco que estava a falar sobre o julgamento do Alcaide de Valência que extorquira como pudera milhões de euros que deveria ter sido utilizado em projetos escolares, saúde pública e obras que melhorariam o tráfego de uma das cidades mais populosas da Espanha. A primeira audiência do ex-governador decorreria no ínicio da semana. — Preciso mesmo atender esta chamada.

Fiz um gesto de mão o dispensando. Em menos de dois segundo ele estava de volta com uma expressão que denotava preocupação.

— Senhor Romero, peço desculpas. Não poderia acompanhá-lo até o tribunal esta tarde. — O jovem advogado digitava furtivamente ao mesmo tempo que proferia suas desculpas.

— Passou-se algo, Carvalho?

— É a Ilídia. — Sua afeição tornou-se nublada ao citar o nome da irmã.

Entreolhámos em um silêncio pesado.

— Ela sofreu um acidente.

— Sua irmã?

—  Eu preciso ir ter com ela. — Carvalho rejeitou a pergunta feita pelo Paco. Ele não gostava muito do meu sócio.

Em menos tempo que o esperado levantei-me chamando a atenção do meu melhor amigo e do irmão da mulher que estava a desconexar todos os meus pensamentos nos últimos meses.

— Irei contigo.

— Não é necessário...

— Em que hospital a Ilídia está?

Carvalho cerrou o maxilar ao encarar-me por alguns segundos, vendo que não desistiria anunciou de forma nada educada o hospital onde ela estava.

— O que estás tu a fazer, Cassiano? — Paco perguntou curioso no momento que estávamos a sós.

— Não preciso da tua opinião, Paco.

— Deveria escutar-me. — Colocou uma mão em meu ombro o apertando com força. — Acho que o fascínio por vingança deixou-te cego. Talvez ela não mereça uma porcentagem desta raiva, hombre.

Não era mais uma questão de vingança.

— Espero bem que ela esteja bem. — Paco voltou a falar quando não lhe dei atenção. — Diz-me algo mais logo.

Fui informado na recepção que Ilídia estava passando por um processo de triagem. Enquanto tentava processar os motivos que levaram-me até aquele lugar, fui ligeiramente abarroado por uma voz irritada que soprava aos quatro ventos seu preconceito disfarçado de opinião.

— Foi imprudente da sua parte tocar no garoto. Poderias ter colocado a vida dele em risco.

"Era como estivesse contaminada por um veneno tóxico. Se elas não corressem, morreriam em segundos ao pé de mim." — A lembrança da Ilídia desnundando sua alma veio-me a memória.

— Não tens o direito de falar desta forma com uma paciente. Tenho a certeza que o diretor deste hospital não gostaria de saber que uma de suas enfemeiras está a deixar o lado pessoal passar por cima da ética profissional. Se continuares a tratá-la desta maneira, tomarei medidas cabíveis. — O tom autoritário do Carvalho ressonou por toda a pequena saleta, dei um passo para trás quando apercebi-me que a enfermeira estava a saí do lugar com uma caranca antipática.

— Senhorita? — Chamei-lhe ao passo que ela caminhava pelo corredor movimentado. — A minha esposa sofreu um acidente. Ela está aqui. Poderias, por gentileza informar-me seu quarto?

— Claro. — Um sorriso nada satisfatório surgiu em seu rosto frazino.

— O nome dela é Ilídia Marques.

Sob Juramento [PT-PT]  Disponível Até 24/05 SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora