Ilídia - Passado

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2 anos atrás

Lidi, cheguei. — Ouvi o tilintar das chaves no vaso em cerâmica. Desci as escadas aos pulos, euforia corria por minhas veias.

— Renato! — Parei no topo do primeiro andar e ergui a carta que acabara de receber da clínica. O resultado da análise regou as esperanças que vinha nutrindo há meses. — Estou grávida!

— Eu-amo-te. Amo-te, Lidi. — Fui apanhada em seus braços, Renato girou-me no ar. Beijando-me enquanto professava seu amor por mim.

— Opá! Guardem o vosso amor para mais logo. — Gonçalo passou a esquivar-se de nós. — O que raios vos aconteceu?

— Acabastes de ganhar um novo cargo em nossa família, serás tio. — Renato estava a olhar sério para meu irmão.

— Cabrón di mierda, engravidaste minha irmã? — Gonçalo estava de todo sério, de seguida abriu os braços e sorriu abraçando seu melhor amigo. — Parabéns! Agora tens que virar homem, gilipollas. — Deu um tapa forte no ombro do Renato e o largou para abraçar-me.

— Parabéns, Lili. Serás uma mãe maravilhosa. — Segredou.

Estava tomada pela felicidade.

Tinha sido agraciada.

   ⏳

Três meses depois

A porta metálica estava aberta.

Recebi uma cotovelada na costela que roubou-me o fôlego por permanecer parada a interromper a passagem de pacientes, médicos e familiares. Todos ali preferiram usar o elevador no mesmo tempo.

Calquei o botão do térreo no mesmo momento que uma mão pesada repousou contra a minha. A pessoa em questão não pediu perdão pelo contato breve, entretanto aquela desculpa não era necessária hoje. Nada importava.

Puxei com firmeza o capucho jeans sobre os caracóis, queria ter o poder de tornar-me invisível hoje. Apenas hoje.

— Não. Foi um engano, Paco. — O sotoque forte do homem que ainda a pouco tocou-me, reverberou por todo o elevador.

Sem perceber, estava com a mão sobre o ventre.

"Ele já não está aí." — Meu subconsciente tentou proteger-me.

O sol intenso de verão iluminou a pequena multidão que percorreu para fora do elevador.

Alguns partiram para o sul, enquanto outros para o norte. Segui rumo a saída principal, sozinha.

Renato estava a esperar-me na recepção.

Seus olhos estavam inchados, resultado de noites de choro.

— Lidi. — Deixei-me ser abraçada, todavia não permiti que nenhuma lágrima caísse. — Eu amo-te. Queria ser capaz...— Renato deixou as lágrimas caírem. — Estou aqui, mi amor.

Tinha perdido uma parte da minha alma.

Já não carregava uma vida em meu ventre.

Talvez não deveria ser contemplada com a dádiva de ser mãe.

Apenas, Respire Ilídia.

Sob Juramento [PT-PT]  Disponível Até 24/05 SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora