Capítulo 19 Ilídia - Romero

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Capítulo em atraso 🌸

Meu olhar ainda estava fixo no aparelho entre minhas mãos trêmulas. O pedido inesperado vindo do Renato deixou-me em pleno estado de confusão, algo que ainda não conseguia decifrar revolvia dentro do meu estômago, deixando-me tonta.

Uma simples ligação desconcertou-me.

Afastei os lençóis pesados com um esforço um pouco anormal. Minha cabeça já estava a lajetar, indicando que em breve a enxaqueca chegaria. Pus-me de pé com dificuldade, notei que o gesso parecia um pouco mais desconfortável. Não estava a seguir as recomendações médicas, portanto provavelmente colheria futuras dores.

Abri a porta do quarto e segui por um pequeno corredor com tons pastéis, apercebi-me da presença de inúmeros painéis em madeiras com quadros de pintores Espanhóis famosos, dentre eles Zurbarán. Eram de cortar o fôlego de qualquer mero mortal. Uma obra de arte daquela deveria custar mais que os euros que tinha em minha conta bancária, com toda a certeza.

- Bom dia, senhorita Ilídia. - Sobressaltei-me com a presença súbita do Zenon. Por vezes ele lembrava-me um personagem de um desenho animado que surgia e desaparecia nas horas mais improváveis possíveis.

- Olá!

- Estava mesmo a sua espera. - O empregado educado sorriu apontando para uma saída que levaría-nos até uma saleta de refeições. - Vais querer chá de mirtilo ou uma chávena quente com o melhor café da região?

- Chá, se não estiver a passar dos limites.

Rapidamente um tabuleiro com pão, leite, chá e biscoitos caseiros foram postos sobre a mesa.

- Romero? - Perguntei mais para mim que para o Zenon.

- Por estas horas deverá está no tribunal. - Verifiquei o gasto relógio de pulso. Passavam das nove e quarenta e cinco.

Por Díos! Pela primeira vez em sete anos durmo por mais de oito horas consecutivas.

- Quando chegamos ontem, estavas a dormir no sofá junto com a gata. - Limitei-me a engolir um gole extremamente grande da bebida quente. - Romero levou-te para o quarto de hóspedes. Espero bem que tenhas tido um excelente noite, senhorita.

Hóspedes? Poderia jurar que senti seu cheiro nos lençóis.

- Dormi como um betão!

Zenon tornou a encher a chávena com o líquido escuro antes que dissesse-lhe que estava satisfeita.

- Zenon, poderias ajudar-me com algo?

Senti o mal-estar empurrar para o mais longe todo o meu equilíbrio emocional ao relembrar da ligação de minutos atrás.

- Se estiver ao meu alcance, senhorita.

- Poderia levar-me ao presídio Aguilar? - O sabor do mirtilo foi substituído por azedume em meus lábios.

- Senhorita, eu...

- Preciso ir ter com ele, Zenon.

- Se eu não levar-te, estarás a chamar um Uber. Pois não? - Relutância estava cravada no olhar do senhor que já ganhara uma parte da minha confiança.

- Sim.

- Tome seu pequeno-almoço, senhorita. - Zenon afastou-se cabisbaixo. De súbito estava a embrulhar algo num papel manteiga, ele cantarolava baixo uma música que não me era de toda estranha. - Em vinte minutos saímos.

Sob Juramento [PT-PT]  Disponível Até 24/05 SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora