Capítulo 12

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     Uma tempestade estava prevista para aquela semana. Rajadas de ventos e gotículas grossas de uma chuva invernal flagelavam o para-brisa enquanto esperava por um passageiro.

Pestanejei vezes seguidas ao notar que uma mulher vestida de noiva caminhava, ou melhor, corria na direção do carro.

Talvez seu carro particular tivesse quebrado.

O véu cumprido e imaculadamente branco ficou preso na relva molhada.

Ou talvez ela esteja a mordenizar sua chegada na igreja.

Um pouco da sua maquilhagem estava desfeita quando ela finalmente sentou no banco traseiro do carro. Tentando não fitar a noiva por muito mais tempo, verifiquei o endereço dando pelo GPS.

Não. Ela não estava indo para uma igreja.

— Boa tarde. — Cumprimentei percebendo seu nervosismo.

Rapidamente fui capturada por recordações de um passado não muito longínquo.

Renato.

As recordações com o homem que um dia planeei um futuro estavam guardadas por debaixo dos entulhos que sobrou do meu coração.

Ainda lembrava dele.

Ainda doía lembrar dele.

— Boa tarde. — Rímel escorria por a maça do seu rosto.

Quedamos num silêncio que durou menos de um quilômetro.

— Meu casamento seria hoje. — Confessou.

Fitei-lhe pelo retrovisor.

— Ninguém entenderá, mas não posso comenter este erro com o Marcos. — Entreguei-lhe um pacote de lenços. — Ele não merece.

Um pouco mais de silêncio.

— Acredito que exista o amor da sua vida e o amor para sua vida. Nem toda gente tem a sorte de ficar com a primeira opção.

— O Marcos é o amor para sua vida?

Uma fungadela a mais.

— Sim. — A noiva tornou a respirar tentando acalmar as lágrimas que não paravam de caí.

Não sabia que palavras oferecer. Nesta vida de taxista aprendi que nem sempre tenho uma palavra de conforto para doar a alguém que precisa. Por vezes ficava demasiadamente mal por isso.

— Eu sinto muito. — Disse baixo.

Pensei em perguntar sobre seu verdadeiro amor, contudo não tive coragem. Sabia o quanto magoava falar sobre aquele assunto em especial.

Não tinha abondonado o Renato no altar, fora o contrário. Ele o tinha feito e de uma maneira muito cruel.

Ao descer num condomínio fechado, ela agradeceu por escutar seu desabafo.

Senti uma pontada no coração ao perceber que havia uma tristeza profunda no seu olhar.

Conhecia perfeitamente aquela dor.

— Teo. — Chamei por cima do ombro. — Gonçalo é o amor da sua vida ou o amor para sua vida?

Teo estava distraída a pesquisar tintas para sua nova loja de roupas.

— Estás a escutar?

— Por que esta pergunta agora? — Estava a fitar-me com curiosidade.

Expliquei sem muitos detalhes a noiva passageira de mais cedo.

— Não sei, Lili. — Deu de ombros.

Sob Juramento [PT-PT]  Disponível Até 24/05 SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora