Capítulo 14

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- Posso entrar? - A voz abafada do Gonçalo veio através da porta trancada.

- Sim.

O homem alto vestido em seus mais novos queridinhos ternos de grife adentrou no quarto um pouco cabisbaixo. Uma ligação forte havia sido criada entre nós os dois desde o primeiro momento que soube que o Gonçalo era meu meio-irmão. E este vínculo forte sempre me indicava quando ele estava mal. Era como se possuísse uma pequena parte dele em mim. Quando algo o machucava, sentia-me de igual modo magoada. E o mesmo acontecia com ele.

- Estás bem? - Gonçalo deitou na cama ao meu lado. Apercebi-me de nova olheiras abaixos dos seus olhos cansados. O projeto e o novo estágio no Conglomerado do Romero estava a tomar conta das suas vinte e quatro horas.

- Sim. - Silenciei a televisão. - Passou-se algo?

Gonçalo era direto e claro, portanto não fiquei surpresa quando ele falou sobre a noite passada, ou seja, sobre aquela cena que achava melhor ter esquecido.

- Eu notei quando saistes com ele...

- Não precisamos falar sobre este assunto, Gonçalo.

- Preocupo-me contigo. - Meu meio-irmão agarrou uma almofada em lantejoulas e a sacudiu no ar. - Apenas não quero que te magoes, Lili. - Suspirando Gonçalo voltou a apanhar o travesseiro. - Ele é meu metor e para além disso...- Estava a pensar em como toda aquela história era complexa. Renato e Romero haviam sido melhores amigo em alguma altura nesta vida. - Há algo nele que não me deixa confortável. Eu apenas... Quero proteger-te, Ilídia.

- Eu não sou mais uma menina de quinze anos.

Ouvi tomar fôlego mais uma vez.

- Não deverias estás preocupado com isto. - Afirmei apertando sua mão ao de leve. - Nada acontecerá entre nós.

Rejeitei a batida errática do meu coração ao lembrar dos lábios do Romero em minha pele, boca.

- E como estás tu? - Por um momento desviei a atenção para a série que estava a acompanhar antes da sua chegada. A protagonista virgem acabou de saber que tinha sido inseminada acidentalmente, o esperma pertencia ao seu chefe, dono do hotel onde ela trabalhava.

- Teo pediu um tempo.

- Como? - Mordi a língua tamanho foi a minha consternação.

- Precipitei-me, Lili. Pelo visto eu e a Teo estamos em níveis diferentes.

- Que queres dizer, Gonçalo?

- Há cerca de duas horas estava a pedir a Teo em casamento no BelaRio.

O restaurante preferido dela.

- E? - Estava a cravar uma faca no seu coração ao perguntar a próxima pergunta. - Ela não aceitou?

- Não era o seu tempo. Palavras da Teodora. Contudo, acho que ela tenha razão. Eu pensei que estivéssemos no mesmo degrau. Com os mesmos planos para o futuro. Visei só o meu lado, esqueci de priorizar a vontade dela.

- Eu sinto muito, Gonçalo. - Apertei mais sua mão. - Acho que herdamos a maldição no amor do vosso pai. - Tentei sorrir diante das nossas situações amorosas.

- Do nosso pai.

- Se tu o dizes. - Dei de ombros sentindo vontade de juntar os pedaços que estavam agora soltos do Gonçalo. Sei que por dentro ele estava em fragmentos. - Um dia vais encontrar alguém que te ames da forma que mereces ser amado. Essa pessoa não apenas te dirá que sim, mas estará contigo em todos os momentos de tua vida.

Sob Juramento [PT-PT]  Disponível Até 24/05 SEM REVISÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora