11. Boulevard Ney

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Há alguns anos...

Paris, na superfície, a capital próspera e vibrante, chamada Cidade Luz. Embaixo, um submundo, precário e provisório. É preciso descer por uma escada de madeira improvisada para entrar em 'Oublié Sur Les Rails' (Esquecidos nos trilhos) como chamam os moradores, uma favela que fica em uma linha de trem abandonada em uma avenida chamada Boulevard Ney.

Um local de extrema pobreza, onde podemos encontrar muito lixo no chão e ratazanas por trás dos barracos, crianças brincando pelo estreito corredor que serve como rua principal, pelo local foram distribuídos vários tambores com brasas para tentar manter os moradores aquecidos. Imigrantes e refugiados formam a maioria dos moradores, vários idiomas se misturam, seus residentes costumam ser de países de fora da União Europeia.

Geralmente, é preciso pagar para o chefe local por um direito de entrada e uma taxa mensal para manter os oficiais longe, e então a pessoa pode morar ali com sua família, escutam muito sobre os planos do governo de construção de moradia acessível, porém, escutam isso a tantos anos, e essa construção nunca saiu do papel. Boulevard Ney é uma cicatriz em Paris, por isso é ignorada por seus representantes políticos, que só querem destruí-la e sumir com seus quase 300 habitantes.

E foi ali, na Avenida Boulevard Ney, a favela sobre os trilhos, que Lauren viveu grande parte de sua infância, não consegue se lembrar com exatidão de sua família, tem apenas alguns flashes que imagina serem eles, tudo que ela sabe, é que foi abandonada em Boulevard quando tinha apenas 5 anos, então foi acolhida por uma bela mulher.
Mariá, na época com seus 24 anos, alta, loira, com sardas no rosto, lábios grossos, uma sobrancelha bem desenha e bonitos olhos azuis, o esteriótipo feminino das novelas, com uma pose elegante e nariz empinado, nunca fez o tipo de mulher que precise morar em uma favela.

E ali, aprendendo a arte de viver nas ruas, Lauren morou até seus nove anos, quando conheceu Joca, o então famoso chefe do local.

(...)

— Alô, Joca, preciso falar com você.
— O que você quer Mariá?
— Joca, é sobre a menina, arrumou outra confusão na escola, vão expulsá-la dessa vez, estou me virando como posso Joca, trabalhando em um emprego de merda e morando nesse muquifo...

— Você não soube educá-la, pensa que eu não sei que você some por dias para se enroscar com algum idiota por aí. – Fez uma pausa para que a mulher soubesse que ele a vigia. — Cobra não tem ido todo mês levar o necessário?

— Sim, Joca, mas eu estou cansada de bancar a mamãe.
— Veja bem Mariá, você não deveria reclamar tanto, seu destino seria muito pior.
— Por favor, já fazem tantos anos, eu não aguento mais, quero seguir minha vida.
— Que drama dos infernos! Sua sorte é que estou de bom humor hoje. Cobra me fala bem dela, não sei porque você a vê como um demônio.

— Porque ela desgraçou minha vida! – A mulher alterou a voz.
— Não coloque a culpa em uma criança, você desgraçou sua vida. – Joca disse calmamente e desligou o telefone.

(...) 

— Eai pendeja. – Lauren cumprimentou sua amiga Vero, uma garota mirrada de cabelos castanhos.
— Hola Lauren, bonito olho roxo. – Disse com sarcasmo. 

— Quer um igual? – Lauren respondeu brincando, enquanto fechava o punho.
— Haha, por favor Lauren, se fosse os socos da Amanda eu teria medo, agora os seus...

— Que seja! Quem é aquele mané que entrou no meu barraco? – Lauren questionou.
— Lauren! Fala baixo, aquele é o chefe! – Vero arregalou os olhos.

— Chefe do quê? Nunca o vi por aqui. – Lauren deu de ombros
— De tudo Lauren, o cara comanda tudo de ilegal em Paris, você nunca o vê porque ele sempre manda os capangas. – Vero sussurrava.

Libélula. A herdeira Rockefeller - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora