18. Banho

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Camila pov

A mulher saiu, e pela primeira vez daquelas três noites a pequena janela foi fechada, escutei a Srta metida ordenando que ficasse assim, e agradeci mentalmente, seus passos ecoavam para longe. Me sentia melhor após aquele macarrão delicioso, meu humor estava razoável e minha cabeça não estava mais explodindo, peguei as roupas e toalha e fui até o pequeno banheiro.

Não sabia se podia confiar no homem lá fora, mas eu precisava mesmo me livrar desse vestido, maquiagem e suor, amarrei meu cabelo em um coque, porque posso até estar com poucos recursos, mas me recuso a lavar meu cabelo com sabonete. Tirei minhas roupas deixando dobradas no canto, olhando para porta a todo momento, respirei fundo tomando coragem, quando finalmente liguei o chuveiro, levei um maldito choque.

— Merda!

Ele fez um barulho estranho e começou a espirrar água fria, peguei a toalha e regulei a temperatura antes que congelasse meus ossos, a luz oscilava conforme eu mexia, e meu medo agora era de morrer queimada com esse chuveiro miserável, mas não cedi até encontrar uma tempera decente. Quando a água quente começou a cair em meu corpo, meus músculos foram relaxando, tive vontade de chorar e foi isso que fiz.

Não sei quanto tempo fiquei embaixo daquela água chorando e me ensaboando, mas já me sentia bem mais leve e com certeza mais limpa. Sequei-me e vesti as roupas que estavam ali, uma camiseta preta da Nike que batia no meio das minhas coxas, e uma calça de moletom cinza muito macia, as roupas estavam bem cheirosas por sinal. Agora estando mais confortável e limpa, me sinto um pouco mais calma, deitei na cama me enrolando no cobertor de forma infantil, tentando me sentir segura, dormir seria mais fácil dessa vez sem meu estômago faminto, respirei de forma lenta acalmando meus batimentos, eu precisava desligar um pouco meus pensamentos e descansar.

Apaguei.

Perdi totalmente a noção do tempo, meu corpo necessitava mesmo de descanso, não escutei nenhum barulho dentro ou fora da cela, fazia muito tempo que não dormia assim, sem relógio para me acordar, sem compromissos ou Sofia pulando na cama. O sol já estava alto quando me levantei, vi uma bandeja na entrada com comida, me questionando como não escutei ninguém entrar ali, me espreguicei sentindo meu corpo estralar, meu rosto devia estar inchado de tanto dormir, escovei os dentes e fiz meu alongamento antes de comer.

Deixaram uma garrafa grande de água e uma menor com suco, pão, queijo e uma maçã, me sentei na cama e comi o pão com queijo bebendo o suco, mas queria mesmo um café. Terminei de comer e fiquei andando de um lado para o outro, pensando como ou quando eu sairia dali, a janela era muito alta e sem dúvidas eu não passaria pelas grades, batidas suaves na porta me despertaram. Cobra sorridente entrou na cela, vestia uma calça jeans com botas escuras, camiseta preta e por cima um sobretudo cinza.

— Boa tarde, Srta Karla Camila. – Ele disse simpático. 
— Boa tarde, Cobra.
— Vim aqui mais cedo, mas você estava dormindo, parecia muito cansada, nem se mexeu quando entrei.
— Isso me assusta, acredite. Sempre tive o sono muito leve.
— Imagino que com tudo que esteja passando, seu corpo desligou de um modo que você estava até roncando.
— Não! Não mesmo. – Balancei a cabeça, eu nunca ronquei na vida.
— Juro, bem alto.
— Você está brincando comigo. Hilário.
— Talvez. – Ele disse sorrindo. — Gostei das roupas.
— Pois é, tomei um banho ontem, já estavam me confundindo com uma típica francesa.
— Seu senso de humor é ótimo, Srta Karla Camila.
— Estou tentando. – Respondi dando de ombros.

— Quero conversar com você, sobre seu tempo por aqui.
— Certo. – Me sentei na cama ansiosa por explicações.
— Só um minuto que preciso tirar o casaco, aqui está bem mais quente que lá fora. – Ele disse e tirou o sobretudo, revelando uma tatuagem de cobra em seu braço, era visível apenas a calda dela que subia para seu ombro. Cobra é um homem muito grande e forte, assustador diga-se de passagem, mas de alguma maneira ele não me amedronta, se sentou ao meu lado e deixou o casaco no colo.

— Primeiro, quero que saiba que não queremos te fazer nenhum mal.
— Ah, claro, porque sequestro e extorsão por dinheiro faz muito bem a saúde. – Respondi revirando os olhos. 
— Você estar aqui não se trata de um sequestro por resgate.
— Então sobre o que é? – Perguntei ainda mais confusa. 
— Tem certas perguntas que não vou poder te dar as respostas. Infelizmente.
— Mas eu não entendo, quanto tempo vou ficar aqui? E minha família?
— Escute Srta, sei que é uma situação de merda, mas preciso da sua compreensão para que tudo ocorra bem.
— Estou tentando, mas você precisa me dar mais respostas. Isso é uma loucura!
— Ok, imagino como você deve estar se sentindo confusa.
— Você não faz ideia. 

Ele respirou fundo, e ficou um tempo pensando enquanto coçava o cavanhaque grisalho.

— Estamos prestando um serviço ao qual você faz parte do pacote, e por burocracia precisamos manter você aqui por um tempinho. Não vamos fazer mal para você, nem para sua família, mas é uma via de mão dupla, preciso que você coopere e em breve estaremos te liberando.  
— Assim? Sem mais nem menos, sem resgate.
— Sem resgate, já lhe disse, nosso pagamento não é mediante a uma troca, e sim uma reclusão.
— Se me queriam reclusa era só pedir, eu poderia ter ficado em um hotel. 
— Aqui é quase um hotel três estrelas. – Ele respondeu com graça.
— Não, não mesmo, aqui não tem nem wi-fi. – Respondi fazendo ele rir. — Cobra, quem quer me manter aqui? Eu nunca fiz nada de errado pra ninguém. 
— Isso já não posso dizer. 
— Podemos negociar, pago o dobro. – Ele negou com a cabeça. — O triplo? 
— Desculpe Srta, fidelidade faz parte do pacote de nossos clientes. – Ele piscou e levantou da cama. 
— Bandidos com princípios e contratos, isso sim é um crime organizado. – Murmurei. Era a primeira vez que recusavam meu dinheiro assim, e logo um criminoso, que sorte a minha.
— Vocês vão se dar bem. – Ele disse aleatoriamente com um sorriso, e antes que eu perguntasse ele se despediu. — Até mais tarde Srta Karla Camila. 

Ele me deixou ainda mais confusa, eles não querem pedir por um resgate e nem meu dinheiro, então qual vai ser a moeda de troca? Quanto tempo vou ter que ficar presa aqui, será que não estão me procurando?

Quem pode me querer presa?

Temos muitos Rockefellers políticos e banqueiros, cheios de desavenças, já eu não tenho inimigos, nunca briguei nem na escola, talvez não seja para me afetar diretamente, pode ser alguém que tenha desafeto com minha família mesmo.

São muitas perguntas para pouquíssimas respostas, e ainda tem aquela mulher metida de olhos verdes, folgada e prepotente, que aparece aqui apenas para tirar minha paz.

Libélula. A herdeira Rockefeller - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora