19. Chocolates

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Camila pov

Nunca pensei que ficaria em uma situação como essa, as horas aqui se arrastam e nada de bom acontece, fico presa nessas quatro paredes imaginando o dia que vou conseguir sair daqui, não tenho muitas opções de fuga e para ajudar, na minha porta tem sempre algum segurança, eles se revezam por rondas, ouço sempre com atenção a conversa deles, o rapaz que parece ser o mais jovem e simpático se chama Lucca, ele sempre vem com um pacote de salgadinho, senta próximo à porta e fica assistindo vídeos, rindo feito uma criança, vez ou outra me oferece salgadinhos pela janela, tento ser simpática e puxar assunto, mas ele parece temer muito sua chefe. Andreas é o que menos fica por aqui, foi o motorista estúpido que me trouxe pra cá, da voz dele eu não me esqueço, ele sempre mantém a janela fechada, faz sua ronda e vai embora, o outro é o pior e mais nojento, Leroy, esse faz questão de mostrar que está ali, fica me chamando de princesinha e perguntando se não podemos nos divertir, dos três, tenho certeza que ele é o mais burro, e talvez eu possa usar isso ao meu favor.

Preciso pensar bem em como fazer isso, vou ter apenas uma chance, não tenho margem pra erros... Escuto passos no corredor, seguidos por um bom dia muito animado de Lucca, só podia ser ela chegando, para minha tristeza, me ajeitei na cama esperando ela entrar de supetão.  

— Eu preciso que você me ajude. – Ela diz sem rodeios.

Tinha algo diferente em seu semblante, por um segundo me perdi analisando ela, vestia uma camiseta branca com uma jaqueta cinza e preta por cima, calça jeans com rasgos nos joelhos e all star preto, todos os anéis estavam ali, e um óculos de sol pendurado na gola da camiseta, ela parecia menos ranzinza e seu rosto até tinha um pouco de cor, não estava tão pálida como da última vez. Ela franziu o cenho e estralou os dedos chamando minha atenção como seu eu fosse um cachorro. 

— E, porque eu te ajudaria? – Respondi, tentando disfarçar o que acabou de acontecer.
— Huum, deixe me pensar, talvez para seu o seu próprio bem, e se isso não servir de incentivo, pelo bem da sua família. – Ela respondeu arqueando a sobrancelha, com um sorriso. Respirei fundo, ela é mesmo uma babaca, queria muito tirar aquele risinho sacana da cara dela.
— Que seja, fala logo.

— Seus avós não param de mandar mensagem e ligar querendo te ver, já respondi falando que os horários não estão batendo ou que você está muito ocupada, mas estou ficando sem opções. – Ela disse, coçando o cenho. Então estava em apuros.
— Sou muita próxima dos meus avós, é natural que sintam minha falta, ou vocês pensaram que eles iam achar normal meu sumiço? – Respondi com desdém. 
 
— Eu não acho nada, por mim você nem estaria aqui me dando todo esse trabalho, mas infelizmente está, e agora preciso resolver isso. – Ela disse irritada, e ali estava a garota brava que não gosta de ser contrariada, problema dela.
 
— Posso ligar para eles, é só você me trazer meu celular. – Respondi, dando de ombros.
— Isso não vai rolar mesmo. – Ela rebateu. 
— Então, o que exatamente você quer, Srta arrogância? – Perguntei e ela ficou uns segundos me olhando antes de responder. 

— Envie alguns áudios para eles ficarem mais tranquilos e talvez uma foto.
— Uma foto aqui nesse lugar deplorável e com essa aparência? Eles vão começar a me procurar na hora. Na verdade, isso é ótimo, vamos mandar uma foto. – Respondi animada fazendo um sinal de positivo. Seu rosto ficou vermelho na hora. 

— Que inferno! Minha vida estava ótima, agora fico de babá de uma patricinha mimada. – Ela esbravejou, andando de um lado para o outro. 
— Não sou mimada, estou falando a verdade, esse lugar é horrível. – Respondi calmamente, ela andou até a cama, e agachou ao me lado, era minha chance perfeita de socar a cara dela, mas em vez disso, retribui o olhar que estava recebendo, e analisei ainda mais de perto seu rosto. É inegável que ela tem certa beleza, o piercing em seu nariz, as sobrancelhas grossas, os olhos... Que isso Camila, recomponha-se. 

— O que tornaria sua estadia menos deplorável, Srta Rockefeller? – Ela perguntou olhando em meus olhos. Abri e fechei a boca antes de conseguir formular palavras coerentes.  
— Livros, chocolates, um chuveiro decente, creme pro cabelo, uma televisão...  – Acabei divagando, fazendo ela tossir para chamar minha atenção.

— Srta Rockefeller, algo que esteja ao meu alcance, ok? – Ela perguntou ainda educada. 
— Ah, sendo assim. Uma garrafa térmica de café, preciso mesmo de café. Roupas, produtos pro cabelo e um espelho. Odeio ficar usando a mesma roupa, odeio não ver a situação do meu rosto e odeio não conseguir pentear meu cabelo.

— Narcisista. – Ela respondeu, com um sorriso de canto. 
— Ah pronto! Isso também não está ao seu alcance?
— Verei o que posso fazer. – Ela disse e piscou pra mim. 
— Ótimo, faça o seu melhor, assim vejo o que posso fazer para acalma-los. – Respondi com indiferença, mas torcendo para dar certo.

A Srta arrogância revirou os olhos e saiu com passos pesados, pensei que ela não voltaria mais, porém, depois de algumas horas lá estava ela de novo. Destrancou a porta e deu passagem para dois homens entrarem carregando um móvel. Colocaram em um canto próximo a minha cama, uma penteadeira marrom com duas gavetas e um espelho no centro, Lucca veio logo atrás com uma cadeira na mesma cor da penteadeira, e uma garrafa térmica grande e prateada.

— Mudança feita. – Lucca disse simpático, colocando a garrafa na penteadeira.
— Podem ir. – Ela ordenou e os três saíram rapidamente fechando a porta. Ela tinha uma sacola na mão. — Agora a Srta poder olhar seu rosto o quanto quiser.

Revirei os olhos para sua piadinha.

— Bem, eu trouxe algumas coisas. – Ela começou a tirar as coisas da sacola colocando na penteadeira. — Aqui um shampoo, condicionador, creme, e uma escova pra pentear essa juba. A garrafa já está com café, e aqui tem um copo pra você, de plástico pra não ter acidentes. E o espelho, os meninos passaram um laminado para não quebrar, entendeu?

— Como se eu quisesse mais azar na minha vida.
— Ótimo. E aqui umas peças de roupa, espero que sirvam, e se não servir, paciência.
— Obrigada.
— Imagina, tudo para Srta Rockefeller. Agora vou indo, mais tarde passo aqui pra gente resolver aquela questão.
— Ok.

Ela foi embora, então corri para ver meu rosto, e eu estava um caco, com olheiras e cabelo horrível. Comecei a olhar as roupas para guardar na gaveta, encarei um pacote fechado com calcinhas, senti vontade de sumir, que vergonha, pelo menos eram novas, mais três camisetas, e uma regata de alças finas, um shorts de tecido leve, dois pijamas de frio e uma camiseta de mangas com uma calça de moletom, estavam todas cheirosas, me assustei com a quantidade de roupas, afinal, quanto tempo eles vão me manter aqui? Quando fui dobrar a calça de moletom para guardar, caíram alguns chocolates dela.

Literalmente quase chorei ao ver aqueles doces, um pacote de M&M, Snickers e Milka, dessa vez a Srta arrogância acertou. Abri a garrafa térmica enchendo meu copo de café e abri um Snickers, finalmente algo de bom acontecendo.

Narrador. 

Camila aproveitou para tomar um belo banho e lavar bem seu cabelo, não eram os produtos que estava acostumada a usar, mas estavam perfeitos para a situação, vestiu um dos pijamas que era calça e camiseta, preto com detalhes em branco, sentou-se em frente ao espelho e começou a pentear o cabelo. Lauren pegou o celular de Camila e esperou um tempo antes de voltar, preferiu não entrar de supetão como sempre fazia, ao invés disso abriu a janela e viu Camila penteando seus longos cabelos, acreditava que ela não precisava de um espelho para dizer estar bonita, afinal, ela era uma mulher muito, muito bonita.

 — O que um banho não faz com a pessoa, né? Sua cara até melhorou. – Lauren disse, e viu Camila revirando os olhos pelo reflexo do espelho.
— Idiota.

Lauren destrancou a porta entrando na cela, sentou-se na cama esperando Camila terminar de pentear seu cabelo, não estava com pressa, tentava olhar para o celular em suas mãos, mas seus olhos buscavam a todo momento os movimentos da mulher a sua frente. Assim que Camila terminou, Lauren deu instruções precisas, qualquer vacilo ou palavra errada, ela sofreria as consequências, Camila não queria abusar da sorte, então não tentaria nada. Entrou na conversa com seus avós e mandou vários áudios, conversaram por um tempo acalmando os dois, mandou mensagem para Ally e seu pai, para que não desconfiassem também, tirou uma foto segurando o chocolate parecendo descontraída, Lauren analisou minuciosamente a foto antes de permitir que fosse enviada para eles. Por fim, todos estavam mais tranquilos.

— Tudo certo, Srta Rockefeller, acredito que ganhamos um tempo. – Lauren disse, guardando o celular no bolso.
— Quanto tempo. – Camila respondeu. 
— Não sei, espero que muito, eles são grudentos demais. – Lauren disse, fazendo uma careta.
— Não estou falando sobre eles, mas do meu tempo aqui.
— Bem, sobre isso, espero que pouco, do contrário vou enlouquecer. – Lauren respondeu, divertida.
— Você? Eu que vou, com suas constantes visitas. – Camila rebateu.
— É uma honra para você ter minha presença. 
— Até parece, Srta sem nome porque deve ser horrível.
— Haha, que graça, meu nome é lindo, igual à dona. – Lauren disse, e piscou.
— Você se acha muito, Srta metida.
— É mesmo? Então, porque pego sempre você me encarando?

Lauren se divertiu com a expressão de Camila, que abriu e fechou a boca, fez um som nasal discordando, pensou em várias respostas, mas nenhuma palavra saiu, simplesmente desapareceram. Camila estava com o rosto vermelho, e continuava descrente com a insinuação da mulher, Lauren se levantou e foi até a porta, parando com a mão na soleira.

— Vou indo, boa noite Srta Rockefeller, se quiser, pode sonhar comigo.
— Ridícula. – Foi a única coisa que Camila conseguiu dizer, se sentindo idiota por não ter respondido nada antes. 

Libélula. A herdeira Rockefeller - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora