12. Trabalho

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Lauren ainda lembrava com exatidão o dia em que chegou, Joca lhe apresentando sua nova casa, e depois para sua mãe, que se tornou uma avó para Lauren, seu quarto quentinho sem cheiro de fumaça ou paredes balançando, agora ela tinha uma televisão e outras coisas que faziam seus olhos brilharem, graças a Joca. Ele fez questão de levá-la ao shopping, renovar suas roupas e sapatos, mas respeitando seu gosto e opinião, era como se finalmente Lauren fizesse parte de algo, e as pessoas começassem a notar sua presença, como se roupas novas lhe colocassem na sociedade, mas sentia medo, porque era tudo bom demais pra ser verdade, pensava que tudo ia sumir em um piscar de olhos, mas não foi bem assim, Joca, Angelica, Cobra e todos os funcionários formavam uma grande família, não tradicional, mas era sua família.

Demorou alguns anos para Joca levá-la até seu trabalho, o homem tentava preservar e manter Lauren longe desse mundo, matriculou a pequena em todas as aulas que pôde para ocupar seu tempo livre e agregar em seu conhecimento, matemática avançada, línguas estrangeiras, música, informática, desenho, natação, artes marciais e mais tarde, tiro. Era de segunda a sábado, Lauren e Angelica pra lá e pra cá com algum dos motoristas da vez indo para suas aulas, mas a garota era muito esperta e sempre encontrava um tempinho livre, depois dos seus 15 Lauren fazia visitas frequentes na estação, achava divertido estar lá, correr pelos túneis, brincar com os cachorros e fazer aqueles caras grandalhões cederem as suas vontades de simplesmente buscar milk shake, porque queriam agradar à filha do chefe. 

Lauren sorriu lembrando de suas travessuras naquele lugar, deixava Joca e sua avó grisalhos, Cobra sempre acobertava seus planos, estacionou a caminhonete no pátio da estação e balançou a cabeça se livrando das lembranças e do sorriso, era hora de ficar séria, agora ela não era mais uma garotinha, em breve seria ela quem assumiria aquele lugar.

Lauren pov

— Joca, queria falar comigo?
— Sim Lauren, entre por favor. – Entrei em sua sala, que ao contrário dos estereótipos de vilão malvado, a sala é toda decorada com cores claras, fotos dele com os cachorros, e fotos nossas durante minha infância. Me sentei na cadeira em frente a sua mesa, Joca estava fumando o seu inseparável charuto cubano, enquanto apertava uma bola de baseball anti-stress. — Como estão as coisas na faculdade?
— O de sempre. – Respondi, dando de ombros.
— Sua vó reclamou o domingo todo, só porque você não apareceu para o almoço. – Ele disse, revirando os olhos, sou a queridinha da dona Angelica. 
— Você sabe que a vovó é dramática, estive por lá na sexta e avisei que não poderia ir.
— Eu sei, mas ela gosta da família reunida.
— Vou passar lá depois com aqueles doces que ela adora. – Respondi, e Joca sorriu balançando a cabeça.

— Então, te chamei aqui porque vou precisar viajar por uns dias... Depois que você fez aquela contabilidade e descobriu as falhas nas outras cidades, preciso visitar e ter uma conversinha com meus sócios. – Ele enfatizou a conversinha, sabia que fariam tudo, menos ter uma conversa civilizada. 

Algumas semanas atrás, peguei os livros velhos que ele diz ser a contabilidade dos negócios, um troço todo empoeirado e cheio de manchas de bebidas. Quando comecei a olhar os números e transações, nada batia, havia vários furos, que mesmo sendo um negócio ilegal, deveriam estar batendo, pelo menos as entradas e saídas. As porcentagens nas notas frias estavam maiores, do que realmente deveriam, e para onde estava indo esse valor a mais? Joca estava sendo passado para trás, e já fazia um bom tempo.

— Claro, tomo conta de tudo aqui. – Respondi sorrindo.
— Lauren, eu já disse que não quero você se envolvendo. Cobra vai ficar de olho em tudo.
— Joca, não precisa disso, você tem que levá-lo junto para te proteger.

— Lauren, você é minha filha, e quero o melhor para você. Não te coloquei na melhor faculdade de Paris, para deixar você sujar seu nome com os meus negócios, você já se envolve demais.
— É exatamente por ser sua filha que preciso me envolver, preciso te ajudar a tomar conta de tudo, você estava sendo passado para trás e jamais saberia se não fosse eu.

Libélula. A herdeira Rockefeller - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora