16. Celular

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Camila continuava sem entender o que estava acontecendo, não pediram por um resgate? Ela queria tanto respostas, mas tudo que tinha era o silêncio em uma cela vazia e fria.

Lauren sempre tinha roupas lá embaixo, então mandou que entregassem uma troca para Camila, uma camiseta preta da Nike e uma calça de moletom cinza, providenciaram também um sabonete, uma toalha, escova e pasta, um kit completo para sua estadia, que mal sabia Camila, mas não seria curta.

Camila não tocou nas roupas nem na marmita que deixaram ao lado de uma garrafa, estava sentada na cama segurando os joelhos. Na porta de ferro tinha uma pequena abertura, como se fosse uma janela, e por ali, ela via um homem rondando seu calabouço. 

Lauren pov 

Fiquei sentada na sala do Joca olhando para aquele celular, a garota tinha o último modelo do Iphone, na cor branca e sem nenhum risco, como era possível um celular sem risco? O meu é todo fodido de tanto cair, sempre com a tela pra baixo.

Pelo que sabia das informações, ela não tinha namorado, nem amigos muito próximos, e veio para França trabalhar em uma das suas empresas.

Quando li o nome naquele cartão black, fiquei uns segundos tentando raciocinar.

K. Camila Rockefeller E. Cabello.

Era uma Rockefeller, sentada e vendada em nossa cela, estávamos fodidos.

E quando tirei sua venda, e vi aqueles olhos, cacete. Que olhos, que rosto, que traços, era uma Rockefeller muito linda, sentada em nossa cela. Estávamos todos fodidos.

Comecei a olhar o whatsapp dela tentando encontrar vínculos e as maneiras que ela digitava, muito metódica, poucos contatos e suas conversas mais frequentes eram com seu pai, vovô, vovó e uma tal de Ally. Ela é sem dúvida a queridinha da família. 

Depois de algumas horas, me levantei espreguiçando os músculos e fui até sua cela, Leroy estava sentando ao lado da porta mexendo em seu celular, olhei pela abertura na porta e ela estava sentada no canto da cama segurando seus joelhos, destranquei a porta e entrei, fazendo ela se mexer nervosa endireitando sua postura.

— Se você tiver que mandar uma mensagem para alguém, para dizer que ficará um tempo fora, quem seria? – Perguntei, com seu celular nas mãos.
— O quê? Por quê?
— Só responda minha pergunta.
— Mas...
— Olha, eu vou falar bem devagar pra você entender a situação. Você vai ficar aqui por um tempo, não queremos seu dinheiro, nem machucar você, e não adianta você ficar pedindo explicações, tudo vai se resolver, mas se você não cooperar, as pessoas que você ama, vão sofrer as consequências. Entendeu? – Terminei de falar e ela assentiu com a cabeça, seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.

— Ótimo, agora responda minha pergunta.
— Ally.
— Ela é o que sua?
— Melhor amiga, braço direito, secretária, tudo.
— Ok, e na empresa daqui, quem é seu superior? – Perguntei e ela riu com desdém.
— Eu não tenho superiores. – Ela respondeu rolando os olhos.
— Mas se alguém fosse notar sua falta, quem seria?
— Tá de brincadeira, né? Todos!
— Você está me tirando do sério. – Respondi impaciente. Ela respirou fundo e respondeu.
— Roger.

Procurei por Roger em seus contatos, e lá estava o Sr Roger Gold.

— Ótimo, Srta Camila, estamos indo muito bem, agora precisamos que essas pessoas acreditem que você vai se afastar por um tempo.
— Ninguém vai acreditar, eu acabei de chegar!
— Então parece que temos um problema aqui, e precisamos resolver isso de uma maneira tranquila, para ninguém se machucar.

Ela colocou a mão no rosto, massageando o cenho, pensou por alguns segundos então disse.

— Preciso ligar pra Ally.
— Sem ligações, apenas me diga o que digitar. – Respondi e ela revirou os olhos novamente.
— Que tal começar com um bom dia? – Ela disse debochada. Vontade de arrancar esse deboche dela não me falta.
— Srta Camila, é bom que ela não desconfie de nada, ok? – Ela concordou e começamos a mandar mensagem para essa tal de Ally, que não demorou a responder.

''
— Bonjour Ally!
— Bom dia Mila, aí não é de madrugada?
— Nem me atentei ao horário, acabei de chegar de uma festa.
— Festa? Era um leilão beneficente hahaha. Aposto que você deu alguns lances.
— Sim, você me conhece, até arrematei algo, mandei entregar direto lá em casa.
— Seu pai vai ficar louco?

— Completamente, mas enfim. Preciso que na segunda você mande uns e-mails e dê uns telefonemas, vou pegar uns dias para analisar os papéis longe da empresa.
— Sério? Mas você acabou de chegar.
— Confie em mim. Eu preciso me concentrar, e lá na empresa todos ficam em cima, querendo saber mais sobre tudo, e junta o fuso-horário e esse frio, estou muito mal-humorada e cansada dessa pressão. 
— É a euforia Rockefeller, é sempre assim quando você chega nos lugares, aposto que o tal do Renato não sai do seu pé! hahahaha

— Exatamente! Você sabe como isso pode ser um saco.
— Pode deixar, vou fazer o que você precisa, e vai me mantendo informada. Come uns chocolates, toma um banho de banheira e dorme bem pra tirar esse mau humor!
— Vou tentar ;) E Ally, não comenta nada com meu pai, não quero ele pensando que não vou dar conta.
— Fica tranquila Mila, cuida das coisas por aí, que eu seguro as pontas por aqui.
— Por isso que eu te amo ;*
— Também te amo bunduda. ''

Terminei de ler para ela a mensagem e seu rosto ruborizou, com aquele vestido não consegui saber se o apelido fazia jus. 

— Perfeito, volto de manhã para mandarmos mensagem para esse Sr Gold. Dizendo que você não acordou se sentindo muito bem.

Saí da cela e fui direto para minha casa, abri o computador e comecei a pesquisar mais sobre ela, não sei bem o motivo, já sabíamos o necessário, mas conhecimento nunca é demais, e também me senti curiosa sobre aquela patricinha, descobri poucas coisas, Camila parecia ser a mais reservada dos Rockefellers, uma vida sem polêmicas e poucos holofotes.

Dormi pouco, muito pouco para o meu gosto, tomei um banho para tentar manter meus olhos abertos e fiz café, me arrumei colocando uma calça jeans preta rasgada nos joelhos e uma camiseta branca, peguei o celular dela e voltei para lá, pra poder terminar o trabalho de ontem.

— Bom dia, chefe.
— Bom dia Leroy, então como foi a noite?
— Ela chorou a noite inteira, parou só agora cedo, deve ter dormido.
— Tudo bem, pode ir e chamar o próximo na ronda, vou estar aqui.

Olhei pela janela, e ela estava sentada na cama encostada na parede, seus olhos fechados e respiração profunda. Assim que destranquei a porta ela se remexeu assustada acordando.

— Bom dia. – Cumprimentei a garota que deu de ombros, seu rosto estava mesmo inchado e a maquiagem borrada. — Então vamos mandar uma mensagem para o tal Roger.
— Que seja. – Ela disse indiferente, coçando os olhos.

— O que diremos a ele?
— Que não posso ir trabalhar porque estou no inferno. – Ela respondeu grosseira, grosseira demais pra quem estava em tal posição, mas eu me sentia de bom humor hoje e ela não estragaria isso.
— Uau, alguém tem mau-humor matinal. – Provoquei, e ela revirou os olhos. — Vou dizer a ele que apesar de estar no inferno, você tem sorte, porque seu demônio carcereiro é extremamente atraente.

Respondi fingindo digitar, ela arqueou as sobrancelhas me analisando de cima a baixo, me fez querer saber sobre sua análise. Então ela respondeu.

— Menos, bem menos, Srta metida. Já vi animais abatidos em melhor estado. – Ela disse com tranquilidade, precisei segurar meu queixo, ela era realmente, ousada? E meu estado não estava tão ruim assim, ou estava?
— Que língua afiada, Srta Rockefeller. Cuidado pra não perder. – Respondi piscando. Ela engoliu seco e respirou fundo.

— Diga a ele que esse fuso-horário está me matando, que já conversei com Ally para solicitar os documentos que preciso e irei trabalhar um pouco em casa, assim posso fazer meus horários
até me habituar.
— Ok.

''Roger está digitando...

— Sem problemas Srta Camila. Caso precise de algum arquivo, é só me avisar que peço para um motorista levar para você. E fique tranquila, tire o tempo que precisar.
— Obrigada Roger.''

— Pronto. Agora tudo resolvido. – Disse, guardando o celular dela no bolso.
— Ótimo, mais alguma coisa ou pode me deixar em paz? – Ela perguntou sem humor. Me aproximei da cama e segurei em seu queixo.
— Humm. Até poderia ficar mais e agraciar sua vida com minha presença, mas preciso ir. – Respondi olhando para meu relógio, já estava atrasada para primeira aula.
— Então corra, e vá fazer suas maldades por aí. – Ela bateu em minha mão, esquivando o rosto.
— Até breve Srta Rockefeller.
— Até nunca, Srta metida.

Saí dando risada, essa garota realmente faz a linha indomável, veremos por quanto tempo.

Libélula. A herdeira Rockefeller - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora