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“Sou como você me vê

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Sou como você me vê. Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de quando e como você me vê passar.”
– Clarice Lispector.

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RHYSAND
💫


    — Eles estão dormindo? — perguntei, só para garantir que meus olhos não estavam me enganando. Mas não, não estavam. Az e Valerie realmente dormiam juntos no chão, a cabeça dela deitada no ombro dele, seus rostos tranquilos durante o sono.

    Desde quando meu irmão se sentia confortável com aquele tipo de situação? Ah, ok, eu estava mais do que ciente de que Valerie despertava em Azriel coisas que nenhum de nós entendia, e na verdade tínhamos receio de tentar entender, porque nosso bom e velho Encantador de Sombras não parecia mais o mesmo que sempre tinha sido. E ninguém sabia se aquelas mudanças eram positivas ou negativas.

    — Não é surpresa alguma — Helion disse, cansado — A quantidade de pessoas que essa mulher ajudou a curar hoje... Devo muito a todos vocês, não me levem a mal, mas Valerie evitou uma verdadeira catástrofe em meu território.

    Assenti, porque Helion estava certo. Se tivéssemos lutado, Diurna e Noturna, sem a presença da pequena hyberniana, muitas mortes teriam ocorrido. Exitium era... Brutal. Em mais de quinhentos anos eu jamais tinha encontrado uma força de combate como a da Incursão, e nós não éramos idiotas o bastante para pensar que aquilo havia sido o pior; não, Ygnnor possuía mais, muito mais, estava apenas aguardando o momento certo de ultrapassar aquela última barreira. E quando isso acontecesse, eu não tinha certeza se estaríamos prontos.

    Esse pensamento me causava horror.

    Fitei Feyre enquanto ela andava até os dois Feéricos apagados e os acordava. Fitei minha parceira, e pensei que não suportaria perdê-la novamente, não suportaria vê-la envolvida em mais uma guerra devastadora. Só que já estávamos todos envolvidos, não havia como voltar atrás. Mas naquele dia, ao ver Feyre lutando contra os assassinos mais mortíferos com os quais eu já tinha cruzado, me senti como um garoto apavorado. Então eu vi Cassian, Morrigan, Azriel e Valerie, e percebi que, onde eu faltava, os quatro estavam lá para protegê-la, porque sabíamos que a Incursão estava muito acima das habilidades recém-adquiridas de Feyre. Se algo acontecesse a ela, eu morreria, e todos sabiam disso. Todos estavam dispostos a cuidar de minha parceira, mesmo Valerie, que parecia tão pequena, mas que era uma filha da mãe poderosa. A única razão para que eu tivesse conseguido me manter mentalmente são enquanto guerreava com Incursor após Incursor era a certeza de que meus irmãos não permitiriam que Feyre fosse ferida. Todos nós morreríamos uns pelos outros, e isso era ao mesmo tempo maravilhoso e assustador.

    Valerie mal conseguiu se colocar de pé quando Feyre a acordou, e Cass precisou carregá-la de volta para casa. Como Helion tinha dito, ela havia trabalhado pesado demais, não era à toa que estava acabada. E nem sequer reclamou por ser carregada como uma criança, como teria feito tempos atrás. E ao parar para pensar nisso, constatei que Valerie também já não era a mesma mulher que tínhamos conhecido. Ah, sim, ela ainda era mandona, auto-suficiente, sarcástica e excessivamente desconfiada, mas agora parecia muito mais livre, menos assombrada pelos fantasmas que ninguém além dela conseguia enxergar. Sua amizade cada vez mais crescente com Cassian, a relação amistosa que vinha desenvolvendo com Azriel, as noites em que aceitava que Mor a colocasse em uma cadeira e trançasse seus longos cabelos, os momentos de folga nos treinamentos Illyrianos quando, ao invés de descansar, encontrava Feyre e Elain para um chá, o tempo que dispensava para ensinar Nestha a lutar, os minutos roubados para ensinar Cerridwen a preparar antídotos a partir de venenos, as tardes que passava trancada em uma sala nos contando tudo sobre a Incursão, mesmo quando todos sabíamos que estar em locais fechados muitas vezes a deixava nervosa; tudo indicava que a pequena mulher ferida que invadiu Refúgio do Vento e se apresentou a Cassian estava mudando. A cada dia ela parecia aceitar um pouco mais de sua atual realidade, como se estivesse aprendendo que era ali, em Velaris, que deveria estar agora, e que era conosco que poderia recomeçar.

Corte de Amor e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora