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"Sempre lutei por liberdade
Mas ser livre me fez só
Eu tenho fogo no olhar
De pés descalços vou à caça
Pra encontrar o meu lugar
Eu abraço a escuridão
Que sempre se fez o meu lar
E agora eu corro com meus lobos
Danço ao redor do fogo
Vendo os olhos, vejo os monstros
Que insistem em me encarar
Sempre me acharam louco
Por querer ser mais um pouco
Sei que eu tenho os meus monstros
Mas continuo a caminhar."
- Monstros, Jão.

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VALERIE

Exausta e dolorida, mirei o teto da Casa das Curandeiras sem de fato o estar vendo. Eu me sentia vazia, murcha. Todos os meus piores segredos estavam agora espalhados pelo chão para que todos os vissem e condenassem, e Rhysand... Meu Rhysand, meu primo, meu verdadeiro irmão. O que ele estaria pensando de mim? E Azriel? Santo Caldeirão, ele havia descoberto da pior maneira possível que éramos parceiros. Eu tinha feito tudo errado e estava apavorada por precisar encarar as consequências disso. O medo não me era conhecido - a tentativa de Bryaxis de encontrar em meu passado algo com que me amedrontar sendo a maior prova disso -, mas esse era um bom momento para aprender a lidar com ele. O que faria se ordenassem que eu me afastasse? Parte de mim sabia que eu jamais conseguiria me reerguer se fosse isso o que eles quisessem. Sem Rhysand, Azriel e todos os outros... O que seria de mim sem a Corte dos Sonhos? Nada mais restaria. Nada pelo que valesse a pena continuar respirando. Eu já conseguia sentir o torpor percorrendo meu corpo da mesma forma que acontecera quando minha mãe havia morrido. Primeiro meus membros, depois meu peito, e por fim minha mente. Eu conhecia a sensação. Era paralisante e aterrador. Era como estar morta. Mas daquela vez havia algo diferente, porque eu estava diferente. Eu não era mais uma criança e agora não me encontrava distante demais para salvar a única pessoa que amava. E não havia apenas uma pessoa a quem eu amava. Não era apenas Rhysand, era Azriel, e Cassian, e Feyre, e Mor. Era Velaris e Prythian. E se antes eu não tinha podido lutar por quem amava, agora eu podia, e lutaria. Daquela vez eu só aceitaria a derrota se ela fosse inevitável. Mesmo que meu coração estivesse quase explodindo em meu peito.

Talvez eles ainda estivessem tentando assimilar tudo. Como poderia ser diferente? Tudo o que tinha acontecido era estarrecedor, mas intrinsecamente verdadeiro. Eu era filha de Valec, a filha criada para ser uma arma, a herdeira que honraria seu sangue e destruiria todos que se colocassem contra seu pai e irmão. Meu irmão. Como se Ygnnor fosse digno desse título, quando tinha me ensinado que laços sanguíneos não significavam absolutamente nada. Quando, aos dez anos, eu olhava em seus olhos e via cobiça, sem sequer saber o que aquilo significava; quando eu o olhava e ficava esperando que cuidasse de mim, que me protegesse quando nosso pai me castigava com severidade, que impedisse que eu fosse enviada para uma ilha de destruição e morte. Não era isso o que um irmão deveria fazer? Mas não. Tudo o que ele fazia era me desejar; e se masturbar enquanto me assistia treinar com seus generais antes mesmo de ter músculos que me ajudassem a erguer uma espada; e planejar nosso grande reinado quando eu tivesse idade suficiente para isso. Meu pai e meu irmão eram o que havia de pior no mundo e eu existia apenas porque ambos queriam espalhar um pouco mais a própria podridão. Fui entregue a um Attor quando tinha onze anos porque Valec desejava descobrir se eu era forte o bastante para sobreviver à criatura, e, quando sobrevivi, fui castigada por ter matado um de seus monstros. Vinte chibatas sobre as costas já mutiladas pelas garras do Attor, seguidas de uma febre tão intensa que Hybern presenciou, pela primeira vez em trezentos anos, um confronto real entre o Rei e o Príncipe. Não importava o quão devasso e cruel meu irmão fosse, ele jamais permitiria que Valec me matasse. Uma ala inteira da fortaleza foi destruída naquele dia... E eu pensei nos benefícios de morrer e, com isso, fazer com que aqueles dois monstros matassem um ao outro, algo com que minha mãe não concordou. Minha mãe...

Corte de Amor e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora