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"Arruine meu reino  Pegue minha coroa  Envie seus exércitos  Bote minhas paredes abaixo"– Firestarter, Victoria Carbol

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"Arruine meu reino  
Pegue minha coroa  
Envie seus exércitos  
Bote minhas paredes abaixo"
– Firestarter, Victoria Carbol.

•  •  •


     As sete Cortes de Prythian eram muito diferentes entre si, em todos os aspectos. Fogo e Água, Dia e Noite, Inverno e verão. Eram gigantes de poder e ancestralidade que rivalizavam umas com as outras desde os primórdios de sua existência. Cada Grão-Senhor que já as tinha governado havia sido lendário do seu próprio modo, trazendo benefícios ou malefícios para seu território conforme suas ações e pensamentos. Nunca, na história daquela terra, se ouviu falar de um dia em que as sete grandes nações se uniram em uma só e agiram em sincronia contra um mesmo inimigo. Esse dia, porém, chegou no momento em que um Príncipe de morte e desavastação foi imprudente o bastante para destilar sua fúria de forma impensada e arrogante contra toda Prythian.
    Noturna. Diurna. Estival. Invernal. Crepuscular. Outonal. Primaveril. 
    Rhysand e Feyre. Helion. Tarquin. Kallias. Thesan. Eris. Tamlin.
    Foi ao lado deles que me coloquei no salão principal da Cidade Escavada. Sentei no trono que pertencia a meu primo e cada Grão-Senhor me ladeou, Helion à minha esquerda, Rhys e Feyre à minha direita. Nenhum de nós falou. Vestidos em nossas armaduras de guerra, cada qual mais brilhante e imponente que a anterior, permanecemos em silêncio durante todo o tempo em que esperamos. Sabíamos instintivamente que havia chegado o momento em que Ygnnor lançaria tudo o que possuía sobre nós. A morte de Dandara, provavelmente, tinha sido o estopim que aguardávamos. Não houve grande cerimônia e planejamento em cima da visão de Elain, não foi preciso, porque os planos já tinham sido traçados havia dias, semanas. Quando a hora chegasse, estaríamos todos ali. A visão nos ajudou, no entanto, a saber quando e onde. Ygnnor era um guerreiro de cenários, ele gostava de grandes shows, espetáculos sangrentos que terminariam com ele sobre os corpos sem vida de seus oponentes. Tomar a Corte dos Pesadelos seria sua forma de iniciar o show. 
    Só que, quando ele chegou, encontrou uma cidade vazia de população, silenciosa. E ao marchar sozinho para a sala do trono, confiante, se deparou não com o local onde se sentaria em desafio a Rhysand, mas sim com o próprio. E com o restante de nós. Meu irmão parou, escondendo a estupefação, e nos encarou. As sete Cortes, que juntas formavam uma imagem de poder incomensurável. Os oito Grão-Senhores, cada um tendo sentido na pele as ações de Ygnnor. A morte de Cresseida, a tentativa de assassinar Hadassa, o ataque feroz à Corte Diurna. E eu também estava ali, o prêmio que ele não tinha conseguido alcançar.
    — E não era isso o que eu queria? — Ygnnor sussurrou do lado oposto do recinto — Todos de vocês contra todos de mim?
    Foi tudo muito rápido. Toda a montanha estremeceu quando o poder de nove Grão-Feéricos líderes saltou em direção a Ygnnor, com o potencial de devastar cada uma das células de seu corpo. Se ao menos ele não fosse tão veloz... Nos vimos parados diante do nada, nossa magia se chocando com a parede e a reduzindo a nada. E todas as outras paredes depois dessa. 
    — Vamos — Helion esbravejou.
    E então atravessamos.
    Como tínhamos previsto, nem um único Incursor fora deixado para trás daquela vez. Estavam todos ali, Generais, assassinos, mercenários, soldados. Aquele imenso exército se encontrava na parte mais alta do território, em vantagem, só que nós tínhamos planejado cada faceta daquela que com certeza seria a última batalha da guerra. Como Ygnnor havia dito: Todos eles contra todos nós. Era definitivo. Com um bradar de fúria, de repente todos os nossos exércitos saíram de sua camuflagem, posicionados ao redor da Incursão da Morte, prontos para batalhar e vencer. As bestas dos Incursores vieram em seguida, algumas voando, outras se erguendo do próprio solo, e outras, ainda, sendo invocadas pelos Devastadores de maior poder. Com essa deixa, invoquei Bryaxis também, que surgiu ao meu lado em sua forma real, algo que em breve mudaria: Ele assumiria a aparência do medo de cada um daqueles soldados e os devoraria vivos. Os Grão-Senhores, cada um diante de seus próprios homens, não aguardaram que as coisas se complicassem para assumir suas formas ferais: Era quase assustador observar aqueles machos outrora lindos virarem criaturas de presas e garras e horror. Rhys e eu fizemos o mesmo, permitindo que escuridão e luz, respectivamente, nos envolvessem e transformassem. 
    A primeira onda de poder hostil veio, como em qualquer guerra, e foi recebida pelos escudos erguidos. Levou tanto tempo... Ou assim me pareceu. O imenso poder da Incursão tentava quebrar nossas proteções, e vice versa, e era tanta magia de ambos os lados que demorou uma eternidade até que um deles fosse sobrepujado. Graças ao Caldeirão, foi o deles. 
    — Poupem suas forças agora, eu farei o primeiro ataque — falei — Minha magia se restaura mais rapidamente que a de vocês.
    — Por quê? — Rhys questionou, seu olhar parado no exército que agora avançava contra nós — De onde ela vem?
    Dei alguns passos à frente e abri os braços.
    — Do chão — respondi — Do céu. Do mundo inteiro, pois ele foi criado pela mãe. 
    Estendi as mãos, acumulando o poder, o trazendo do fundo da minha essência e o moldando em uma bola de destruição, como a que usei para levar a fortaleza do Rei a ruínas. Nossos soldados estavam inquietos com a aproximação da Incursão, mas seguiram meu comando e permaneceram inertes. Apenas quinhentos metros os separavam de nós quando liberei a magia, fechando as mãos. Por onde a luz passou, apenas pó restou. Mil homens caíram com esse primeiro ataque. Meus olhos encaram Ygnnor, ainda tão longe, e eu sorri quando o rosto dele se contorceu com uma fúria selvagem. 
    Foi quando a guerra real começou. 
    Nunca fui atacada com tanto ímpeto quanto daquela vez, porque agora, obviamente, todas as restrições impostas por Ygnnor tinham caído; pelo contrário, provavelmente haveria recompensas para quem levasse minha cabeça para ele. E justo quando eu mais precisava me manter intacta. Quando uma lança resvalou em minha barriga, um medo quase paralisante me atingiu, medo pela criança em meu ventre. Em um segundo Bryaxis estava ali, no entanto, destruindo o Incursor que me atacava.
    "A senhora deve ter cuidado."
    Como se eu não soubesse.
    "Deseja que eu fique para protegê-la?"
    Eu mal pude acreditar quando me senti tentada a aceitar, mas... Não. Havia inimigos demais para serem mortos, Bryaxis era mais necessário em outros locais. Eu ficaria bem, sempre ficava. O fato de estar esperando um bebê não deveria, e nem poderia, me deixar mais lenta e receosa, porque era justamente isso o que acabaria causando minha morte. Foco na batalha era tudo o que eu precisava. E eu consegui, até certo ponto, mas o medo me seguiu enquanto eu usava magia e espada para lutar contra aqueles que um dia tinham sido meus companheiros de armas. Todos sabíamos o quão brutal aquela batalha seria, não era surpresa para ninguém, só que ver o quanto a Incursão era devastadora em seu auge... Não era como das outras vezes, quando podíamos proteger uns aos outros em meio à luta. No instante em que pensávamos em encontrar alguém para apoiá-lo, mais três oponentes surgiam diante de nossos rostos. Chegaria um ponto em que a magia teria se exaurido... E como seria quando apenas a força física restasse? Eu vi Cassian em algum momento da batalha, voando com uma Nestha enlouquecida em seus ombros, provavelmente a tirando de um campo sangrento em que ela definitivamente não deveria estar. Céus, era para ela ter ficado com Elain em Velaris! Eu não tive tempo suficiente para me perguntar como ela tinha chegado até ali, no entanto, ou para me preocupar com sua segurança, não quando olhei para a imensa explosão que se fez ouvir e... Koshei. Koshei tinha vindo para a guerra.

Corte de Amor e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora