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    Olhei para o alto, onde Céline voava, ainda insegura, ainda muito baixo e lentamente para os padrões illyrianos, e sorri largamente. Fazia pouco mais de duas semanas que eu havia encontrado uma cura para suas asas mutiladas, usando ervas e magia, e desde então Az vinha dando a ela aulas de vôo. Naquele dia, porém, ela tinha saído sozinha para treinar, e agora passava voando pela janela da mansão, sem saber que eu a observava. Um dia, quando ainda se chamava Emerie, quando ainda estava à mercê da crueldade e machismo de nosso povo, aquele era um sonho impossível. Agora era sua realidade. 
    Deixei que continuasse voando livremente, conforme desejasse, e parti para a praça principal de Velaris. Em poucos minutos a Queda das Estrelas teria início, simbolizando lindamente a noite mais longa do ano, trazendo consigo partículas da alma daqueles que um dia tinham vivido entre nós. A grande maioria das pessoas desconhecia a real natureza das estrelas que caíam em direção aos vivos, muitas vezes os tocando com seu brilho reluzente, transformando-se em pó resplandescente sobre a pele das pessoas. Eu, por outro lado, sabia mais, porque a Percepção tornava impossível não saber. Portanto, o que eu sabia era que, naquela noite, de alguma forma, eu reveria Kalibia, Kayla, Rayden e tantos outros que já não estavam mais ali. Eu poderia sentir a presença de todos eles.
    Pousei delicadamente ao lado de Azriel, aceitando alegremente quando seu braço pousou sobre meus ombros expostos pelo fino tecido do vestido branco que eu vestia. Era um dos muitos vestidos de Feyre, que, eles disseram, faziam questão de me ver usando. Rhysand me confidenciou que sua mãe o havia costurado para a futura parceira do filho, mas que, sem dúvidas, ela ficaria em êxtase ao saber que a filha de sua irmã o usaria. Em poucos minutos o restante da Corte dos Sonhos se reuniu a nós dois — com exceção de Nestha, que, eu sentia, estava ali em algum lugar, tentando não ser vista por ninguém. Quando o céu se tingiu de negro, e quando aquelas almas iluminadas começaram a cair em direção à terra, a mão de Rhys se fechou sobre a minha. De um por um, demos as mãos uns aos outros e observamos os céus.
    — Querem saber o sexo dos bebês? — perguntei baixinho, sem querer quebrar a magia que envolvia aquele momento.
    Rhys e Azriel não responderam, pareciam não conseguir, mas ambos apertaram minhas mãos. Feyre sorriu e assentiu.
    Fechei os olhos com firmeza e deslizei a Percepção sobre mim mesma e sobre Feyre, circulando nossos ventres com cuidado, buscando respostas. 
    Um sorriso quase nostálgico se abriu em meu rosto.
    — Um menino — sussurrei, inclinando o rosto para meu primo e sua parceira — E uma menina — concluí, olhando para Az.
    Cassian ergueu os braços em comemoração, mas nem mesmo ele seria capaz de interromper aquele momento.
    — Kalibia, então — meu parceiro decretou.
    E, como se para declarar ao mundo que concordava, uma estrela de repente brilhou mais forte e, caindo, se chocou contra meu peito, ao mesmo tempo em que uma idêntica recaiu sobre a cabeça de Feyre.
    Rhys me olhou, olhos alarmados em uma pergunta silenciosa. Eu não precisava de conexão alguma com ele para saber o que ele estava questionando. Assenti, então, confirmando que aquelas não eram estrelas comuns. E nós sorrimos.

Corte de Amor e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora