Corte de Amor e Sangue

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"Você não se curva para ninguém."
- Corte de Névoa e Fúria, Sarah J. Maas.

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Jamais passei tanto tempo em frente a um espelho me embelezando, mas naquele dia convoquei Cerridwen e pedi que ela fizesse o seu melhor. Meus cabelos foram moldados em duas tranças laterais e uma fina coroa de prata foi cuidadosamente assentada sobre minha cabeça - presente de Rhysand, para mostrar a todos que eu era nada menos do que a herdeira de um trono; meus olhos ficaram ainda mais dourados quando Cerridwen os rodeou com um delineador negro que parecia ter recebido uma pitada de luz estelar; meus lábios foram preenchidos por um vermelho intenso; para completar, o vestido: Escandalosamente aberto nas costas - de modo a deixar as tatuagens bem visíveis -, com um decote profundo que quase resvalava o umbigo e aberto em duas longas fendas nas pernas. E o melhor: De um escarlate que contrastava com o azul nas pontas de meus cabelos e criava um efeito bastante interessante. Havia muito tempo desde a última vez que eu me sentira sedutora, provocante, mas quando os Grão-Senhores me vissem eu queria que enxergassem que diante deles estava alguém capaz de fazer um macho ir ao céu ou ao inferno, e que a decisão só cabia a mim. A um deles, em específico, eu desejava mostrar um lado meu que muitos tinham visto no passado, cada um deles tendo sido assassinado logo em seguida. Aquilo provavelmente faria a mim um grande mal, mas àquela altura eu já não me importava mais. De todas as coisas que eu já passara, as batalhas e as torturas, nunca havia sido tão absurdamente pessoal quanto daquela vez, porque agora eu sabia como era amar alguém, e, mais, como era ser ignorada por essa pessoa. Não que Azriel fosse indiferente a mim, porque não era, desde o início tínhamos acordado em cuidar um do outro, sendo ou não sendo um casal, e ele cumprira bem com sua parte do acordo. Ele cuidou de mim desde o dia em que eu disse aquela fatídica frase: Seja meu amigo, Azriel, e eu serei sua amiga também. Que tudo explodisse, se arrependimento matasse eu já estaria estirada no chão.
Era uma tremenda mesquinharia de minha parte querer qualquer tipo de vingança, claro. Assim como eu não tinha decido me apaixonar por Azriel, ele não decidira amar Morrigan de forma tão intensa e inabalável, não era algo que qualquer um de nós pudesse controlar. Mas eu queria que ele confessasse isso, que olhasse bem dentro dos meus olhos e dissesse que não poderia me amar, que seria eternamente apaixonado pela fêmea que ambos sabíamos não amá-lo. Azriel não tinha coragem de fazer isso, sequer conseguia permanecer perto de mim após ser confrontado com a verdade sobre os seus sentimentos, e isso me deixava possessa. Depois de cinco séculos, era assim tão difícil reunir coragem para encarar a própria parceira e dizer "siga em frente"? Siga em frente, porque eu não posso amar você. Siga em frente, porque você merece alguém que a queira cem por cento. Siga em frente era tudo o que eu precisava ouvir de Azriel. Mas ele era incapaz de dizer isso, e tudo por quê? Graças ao maldito laço de parceria, que não permitia que um macho simplesmente abrisse mão de sua parceira, mesmo que o macho em questão não nutrisse qualquer sentimento por ela. Tudo extremamente ridículo.
Então, infelizmente, tudo o que eu podia fazer era ser mesquinha e conseguir um pouco de vingança para o meu coração ferido. Eu não me orgulhava disso, mas também não me sentia envergonhada por, pela primeira vez, agir pensando única e exclusivamente em mim mesma. Sempre era por alguém. Por minha mãe, por Rhysand, por Cassian ou por Prythian, tudo o que eu vinha fazendo durante a minha vida era em nome da segurança e felicidade de alguém que eu amava, mas daquela vez era só pelo meu próprio coração ferido.
Pelo meu coração ferido eu cederia aos encantos de um Grão-Senhor que adoraria a oportunidade de participar de um Ménage com toda a Corte dos Sonhos.