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"Os monstros que me assombravam ao dormirMe propuseram um cessar fogoAlegando que eu não sei sorrirQue eu não sou mais o mesmoQue eu vivo pro passadoE não me assusto com o que antesEra meu tormento

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"Os monstros que me assombravam ao dormir
Me propuseram um cessar fogo
Alegando que eu não sei sorrir
Que eu não sou mais o mesmo
Que eu vivo pro passado
E não me assusto com o que antes
Era meu tormento."
- Monstros, Supercombo.

• • •

Eris era agora o Grão-Senhor da Corte Outonal. E eu não sabia até que ponto isso seria benéfico. Para mim era evidente que aquele macho não era, nem de longe, igual ao pai, ao menos não tão podre quanto este havia sido. Só que ali, enquanto o encarávamos com seriedade, eu me perguntava se tinha feito a escolha certa.

- Eu sei o que estão pensando - Eris disse de seu lugar junto à parede - Mas estão errados. Eu não sou como ele.

Parada ao meu lado, Mor rosnou uma risada.

- Não? - perguntou - Pois você tem feito um excelente trabalho ao fingir ser.

- Quando se vive em meio a monstros, você precisa demonstrar ser como eles se quiser sobreviver.

Fiquei imediatamente desconfortável ao ouvir aquilo.

- Todos nós convivemos com monstros - disse Cass - mas nem por isso agimos como eles.

Eu sim.

- Não? Então é porque não fazem ideia do que é realmente a maldade - e, me olhando, continuou: - Perguntem à Princesa o que ela acha. Perguntem quantas vezes ela precisou matar e torturar em prol da própria sobrevivência. Perguntem quantas vidas ela destruiu, quantas pessoas humilhou, quantas crueldades executou.

Eu vi em todos os meus amigos a raiva e o desconforto de quem se recusava a aceitar uma comparação entre Eris e eu.

Mas ele estava certo, em cada palavra.

- Para sobreviver - o novo Grão-Senhor prosseguiu - e para manter os nossos vivos, somos capazes de tudo.

De repente me veio à mente o rosto de cada pessoa que sofreu e morreu em minhas mãos, cada uma delas em nome de Kalibia, por sua segurança ou para vingar sua vida usurpada.

- Por que você a deixou lá caída naquele dia? - questionei em voz baixa.

Era óbvio que eu falava de Morrigan.

Quando falou, Eris não olhou para mim e sim para ela.

- Porque você me pertenceria no momento em que eu a tocasse, e Beron jamais aceitaria o que considerava uma mercadoria usada. E todas as vezes em que o desagradávamos, era nossa mãe quem pagava. Quando Lucien se apaixonou por uma plebéia, nossa mãe pagou; e se matamos Jasminda, foi para que mamãe não fosse novamente castigada. Então me desculpe, Morrigan, mas eu faria de novo tudo o que fiz a você.

Como eu poderia julgá-lo? Sempre odiei Eris Vanserra, sempre o tive em minha lista negra, marcado para morrer, e agora eu percebia que éramos, no fim, iguais. Filhos de monstros, ambos fervorosamente tentando proteger suas mães. Eu havia perdido a minha, e isso me destruiu, mas agora eu tinha encontrado o meu lugar no mundo, uma família real e inseparável para chamar de minha. Eu encontrei minha cura. Talvez - só talvez - Eris também conseguisse encontrar a sua um dia, uma vez que estava definitivamente livre da sombra opressora de seu pai.

Corte de Amor e SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora