Busca.

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Wei Wuxian.

As notas de Wangxian soavam com extrema calma, preenchendo o quarto, seguindo pela janela até alcançar a multidão que se formava do lado de fora da pousada. O sol já estava alto, brilhando e aquecendo tudo o que tocava. O barulho da rua também alcançava o quarto, mas a única coisa que ele conseguia pensar e se focar eram nas notas que estava a tocar. Wei Wuxian cumpria com todo fervor a promessa que havia feito a Lan Wangji. Todos os dias de manhã e a noite ele tocava a canção que seu companheiro havia feito para ele. A noite ele estava nas ruas tocando para as estrelas, pois sabia o quanto Lan Wangji gostava de admirar o céu noturno.

Ele já não acordava tão tarde, as vezes nem conseguia dormir, procurando por notícias, informações, qualquer coisa que pudesse levá-lo a encontrar sua mestra. Sempre acordava as cinco horas da manhã, para espanto de si próprio. Ele acordava cedo demais, fazia seu desjejum, tocava sua canção e após ia para as ruas para continuar sua busca. Embora em seu coração gritasse que deveria retornar para os Recantos da Nuvem, havia algo que ele precisava fazer além de sua missão. Quando os acordes de wangxian terminaram, ele saiu do quarto, pagou por sua estadia e ganhou as ruas a passos calmos. Seus pés o guiaram para Yiling, para a Colina Sepultura. Ele não queria mais estar naquele lugar, mas sentia que era preciso. A colina representava uma parte obscura de sua vida, representava todo um passado de sofrimento e perdas, mas ainda que aquilo lhe causasse sofrimento, ele sabia que precisava fazê-lo.

Yiling não havia mudado, continuava a mesma coisa de que ele se lembrava do passado. Os transeuntes, vendedores, sua arquitetura, os prédios, casas de vinho e de chá. Ele ainda era capaz de encontrar charlatões vendendo talismãs em nome do Patriarca Yiling, falando tanta baboseira que lhe acabavam por fazer rir.

Seguindo seu caminho, ele adentrou a estrada da Colina Sepultura. Seu coração pesou. Ele queria que Lan Wangji estivesse ali para acompanhá-lo, para não subir sozinho. A névoa era densa, mas era muito pior no pico da montanha. Tudo estava destruído, não havia mais nada ali que remetesse ao passado, aos dias em que ele cultivou a vida e proteção dos remanescentes do clã Wen, ali onde ele trouxe Wen Ning de volta, onde resgatou a consciência espiritual do general fantasma, onde também havia sido o seu terrível fim e daqueles que fez de tudo para proteger. Em sua mente, ele se perguntava se naquela época a verdade viesse a tona, se teria sido diferente, será que ele seria perdoado? Será que aqueles ao qual deu a vida para proteger estariam vivos? Será que eles o perdoariam? Será que Wen Qing o perdoaria por todo o sofrimento que ele havia lhes feito passar? Ele se culpava terrivelmente por Wen Ning ter perdido a única família que ele tinha. Wen Qing dera a vida para protegê-lo e em retribuição ele enlouquecera, perdera o controle, perdera tudo, incluindo sua vida.

Aquela era uma jornada de libertação para ele. Precisava deixar tudo aquilo no passado, precisa se perdoar e aceitar que nem tudo era sua culpa. A morte de Jiang FengMian e senhora Yu não fora sua culpa, a morte de Jin Zixuan não fora sua culpa, a morte de sua Shijie não fora sua culpa. Dentre todos aqueles que perdeu, a maior culpa que ele carregava era pela morte de Jiang Yanli, a irmã que sempre o cuidou e amou, e que quando finalmente realizou o sonho de casar com quem amava e ter sua família, perdeu tudo de uma vez, assim como sua vida. Ele sabia que não havia sido ele a matá-la, ela dera a vida pela dele, então estava na hora de realmente voltar a viver e ser o Wei Wuxian que sempre fora, amadurecido, forte, um cultivador de caminho correto.

Ele já não tinha mais a necessidade de seguir o cultivo demoníaco ou assim, pensava ele. Queria dar orgulho aos pais biológicos e adotivos, queria poder voltar a chamar Jiang Cheng de irmão, ser chamado de tio por Jin Ling, queria ser livre para ir onde quisesse sem que as pessoas lhe apontassem o dedo.

Ao entrar na caverna de Abate do demônio, ele olhou cada canto, cada pedaço de pedra, a piscina sangrenta. O lugar onde ficava sua cama ainda estava intacto, cheio de poeira e teias de aranha, mas intacto. Sentou-se ali e fechou com olhos, deixando sair tudo o que havia prendido por meses a fios em seu coração . Ele chorou, por tudo o que não havia chorado no passado, por todas as vezes em que teve que engolir as lágrimas e ser forte pelos outros, por todas as palavras ruins que recebera.

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