Anos se passaram desde o dia em que Pandora foi posta sob os cuidados de George; agora ela era uma jovem adulta. Seu tio já havia desistido há anos da hipótese de que algum dia um daqueles vira-latas selvagens apareceria para levá-la embora de sua casa e deixá-lo seguir sua vida. Porem ela mantinha suas esperanças, apesar de que após tanto tempo, não se lembrava mais nem do tom de voz de nenhum deles.
George abominava a sobrinha com todas as suas forças, sobretudo por ser obrigado a ir contra seus conceitos e fazer dois feitiços por causa dela. O primeiro foi um feitiço de ocultação que George fez em um colar para que nenhuma bruxa pudesse localizá-la. O segundo foi uma barreira na casa, onde ele fosse o único que pudesse entrar e sair – literalmente – assim George evitava que Pandora saísse sem sua permissão e não teria nenhum problema com ela sendo pega por outras bruxas e receber a desagradável visita dos Lobisomens. George não acreditava que eles voltariam, mas nunca é demais remediar.
Contudo, todo aquele esforço não significava que George havia criado afeto. Como dito antes, ele abominava a sobrinha em todos os níveis possíveis e não fazia nenhuma questão de esconder isso. Pandora também não estava feliz presa naquela casa com ele, mas não tinha escolha. George não era a melhor companhia do mundo, ela gostava mais quando ele estava longe de casa, na loja, do que quando estava em casa, a ponto de ter mais uma de suas crises nervosas e descontar nelas.
Desde que completara oito anos, Pandora passou a ser responsável por toda tarefa doméstica e, se George encontrasse um único fiapo de pó ou panela na pia sem lavar, além de ofendida, ela também apanhava e ficava enclausurada no porão sem comida ou água.
Mesmo que Pandora quisesse fugir, a barreira mágica que George colocou na casa a impedia de colocar o plano em prática, e não foi por falta de tentativas. Ela não entendia como era possível. Não importava se Pandora deixasse as janelas ou as portas abertas, não conseguia passar. Era como se houvesse uma parede invisível ali, e isso a frustrava muito.
Mesmo carregando aquele colar medonho em seu pescoço, Pandora ainda era capaz de realizar magia, mesmo sem saber o que estava fazendo. Não era intencional e nada muito grande, já que ela achava que magia era apenas ficção. No entanto, as coisas apenas aconteciam ao seu redor e, na maioria das vezes, sem que ela percebesse.
Objetos caíam no chão inexplicavelmente e de lugares impossíveis. Eles ligavam e desligavam sozinhos e a lista de eventos curiosos só crescia. Certa vez, Pandora pensou em desligar o aquecedor porque estava muito calor no porão e o aquecedor se desligou sozinho. George ficou furioso, pois, embora o porão estivesse quente, o resto da casa ficou fria devido ao início do inverno. Pandora jurou que não havia desligado, ela o queria, mas não o fez. No entanto, George não acreditou e naquela noite ela dormiu com dores no corpo e os olhos inchados de tanto chorar.
— Ei! Praga! Já acordou? – O tio bateu à porta e gritou. – Acorde!
— Estou indo, tio George! – Pandora se levantou do colchão velho que usava de cama e ajeitou suas vestes.
— Ande logo, meu café da manhã não se fará sozinho! – gritou George.
— Estou indo. – respondeu Pandora para o topo da escada do porão.
Pandora ouviu-o caminhar em direção à cozinha e, em seguida, uma cadeira sendo arrastada. Ela gemeu em reprovação, cansada de ser a empregada doméstica de George. Pandora esfregou o rosto com as mãos, prendeu os cabelos longos e sujos antes de subir para fazer o café da manhã de seu tio.
Assim que entrou na cozinha, Pandora foi direto para a pia, onde lavou as mãos antes de pegar uma frigideira no gabinete abaixo da pia, os ovos e o bacon dentro na geladeira. Ela olhou de canto para a mesa e lá estava seu tio, o mesmo homem bonito, mas dessa vez muito mais bem-vestido e mais velho, com alguns fios brancos em seu cabelo curto e sua costumeira barba por fazer. Quem o visse assim, tão sereno e lendo o jornal, não imaginaria a pessoa abominável que era.
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The Hybrid | Elijah Mikaelson
Fiksi Penggemar"Por muitos anos, a doce e inocente Pandora Carter era maltratada por seu tio George, que a criava. Mas um dia, em uma perda de controle emocional, ela comete um enorme erro que lhe custará a sua "segurança" e descobriria sozinha que tinha dons que...