capítulo sexagésimo primeiro

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Certamente Cocoa era uma mulher muito ardilosa, e insistente quando queria alguma coisa. E o que ela queria naquele momento, era evitar o encontro de Gohan com Videl. E faria de tudo para aquilo não acontecer.

Durante o jantar, Cocoa ficou com os ouvidos em pé para ver o que sua madre falaria sobre o forasteiro instalado no quarto dos fundos, e se sentou ao lado de Videl para distrai-la da conversa que provavelmente aconteceria.

Ela agradeceu aos céus quando soube, antes do jantar, que Gohan já havia comido e estava dormindo profundamente na cama que lhe foi oferecida.

Mas algo ela não podia impedir, sua superiora avisar que havia um homem ali, um estranho, que mesmo parecendo um homem bom, e pelo visto realmente era mesmo, ainda se tratava de alguém do sexo oposto, e as noviças teriam que ficar atentas a qualquer investida dele para com elas. Não que a madre mostrasse alguma desconfiança para com ele, mas era um padrão imposto à ela em qualquer situação parecida, afinal, ninguém pode confiar cem por cento em um estranho.

Assim que a última terminou seu prato de comida, a madre se pôs de pé sendo seguida por suas noviças, era algo comum, todas retirariam seus pratos, e os lavariam, mas naquela noite em especial, a madre não permitiu que nenhuma delas seguissem o ritual.

- Quero dar uma notícia a vocês antes de se recolherem – disse ela seria.

Cocoa fez uma careta já sabendo o que a mesma falaria, por isso tentou pegar Videl pelo braço e sair dali na espreita.

- Ei, espere – resmungou Videl – Vamos ouvir a madre, pode ser algo importante.

- Garanto que não é, Videl – sussurrou Cocoa. – Vem, vamos lavar nossos pratos e ir para cama, estou cansada.

- O que você tem? – Videl fez uma careta. – Está agindo estranho, as palavras da Madre não levarão mais que cinco minutos, por que essa pressa toda?

Cocoa abriu a boca para protestar, inventaria um motivo qualquer para arrastar Videl para longe dali, mas a madre se voltou para as duas, e indagou:

- Algum problema com vocês duas?

- Não, Madre – respondeu Cocoa se adiantando. – Só estamos cansadas.
- Eu não estou ...

A frase de Videl é cortada quando sua superiora ergue o dedo a calando.

- Logo poderão dormir, mas deixe-me falar primeiro. Sei que sabe qual é o assunto, Cocoa, mas terá que ouvir minhas orientações igual todas as outras, assim como Videl.

Videl abaixou a cabeça pelo sermão desnecessário, não ousando abrir a boca para mais nada.

- Hoje mais cedo, quando pedi para Cocoa ir atrás de nosso fornecedor, pois ele não aparecia a semanas, ela se deparou um jovem cavalheiro que a ajudou com a roda da carroça que atolou no buraco. Em troca da ajuda dele, forneci comida, banho e um lugar para dormir.

- Há um homem entre nós? – uma das noviças sussurrou um tanto impressionada.

- Sim, mas ele está no quarto do fundos do terreno, não há perigo de vocês se depararem com ele pelos corredores, então quero que fique tranquilas.

- Bom, já que todas estamos cientes do nosso hóspede, podemos ir para cama agora, Madre? – Cocoa transbordava aflição.

- Podem sim, Cocoa – a madre disse um tanto desconfiada. – Também quero pedir que rezem essa noite pelo nosso fornecedor, ele não está bem de saúde, e é nosso dever orar para que ele melhore.

- Sim, Madre – as noviças concordaram em uníssono.

Pegando os pratos na mesa, Cocoa parecia a mais apressada a sair dali, mas antes delas atravessarem as portas, que as levaria para a cozinha onde lavariam seus pratos, a madre completou:

- Se Gohan aparecer aqui dentro, não quero que evitem de gritar, ele não parece esse tipo de homem, mas nunca se sabe.

Os olhos de Videl se arregalaram, e seu corpo paralisou, basicamente entrou em choque ao ouvir o nome de Gohan. O prato que estava em suas mãos caiu no chão, fazendo voar cacos para todos os lados com a queda.

*****

As batidas na porta na casa de Tenshin Han e Lunch foram ouvidas muito cedo. Mal o dia amanhecera, e o comandante estava lá, atrás da sua mulher, a quem ele levaria para a casa novamente.

Tenshin abriu a porta de maneira informal, com os olhos cansados, e com dificuldade de manter a visão na claridade.

- O amanhã já chegou, Tenshin – Kakarotto diz de maneira arrogante com seus braços cruzados. – Vim buscar minha mulher.

- Você pelo visto não dormiu nada – resmungou Tenshin abrindo mais a porta dando passagem para Kakarotto entrar. – Está com uma aparência horrível.

- Minha aparência é o que menos me importa nesse momento – Kakarotto entrou na casa sem cerimônia. – E eu posso dormir quando morrer.

- Em compensação as ferraduras devem ter sido trocadas essa manhã – Tenshin debochou por conta do humor negro de seu comandante. -  Aposto de Chichi ficará feliz em ver seu marido com essa aparência tão deprimente e com a língua afiada.

- Não estou com humor para suas brincadeiras – rosnou Kakarotto. – Qual quarto ela está?

- Não acha melhor ir tomar um banho e esperar ela ao menos acordar? – Tenshin fechou a porta. – Aposto que ela não quer conversar com você ainda.

- Já esperei a noite inteira, é o máximo de tempo que posso dar para ela se acalmar – ele suspirou. – Quero Chichi em casa, onde é o lugar dela.

- Compreendo suas exigências, comandante, e as aprovo, vendo que é o marido dela, mas tem que deixa-la se acalmar, sabe que qualquer coisa pode colocar a criança em perigo.

- Estou ciente disso, não irei colocar a vida de meu herdeiro em risco, só ... me mostra aonde é o quarto que ela está.

Tenshin suspirou vendo que não conseguiria convencer Kakarotto a dar um pouco mais de tempo a esposa. Se tratava de um homem teimoso e cabeça dura. Então apenas o guiou até o quarto, e assim que abriu a porta e deparou com ele vazio, seus olhos se arregalaram.

Kakarotto entrou no quarto desesperado, viu a cama desarrumada e nenhum sinal de Chichi ou da mala que ela havia preparado noite passada. Pegando na gola de Tenshin ele urrou entredentes:

- Aonde está ela?

*****

Videl não conseguiu pregar os olhos durante a noite, pensou noite inteira no homem que estava instalado no quarto do lado de fora.

Santo Deus, só podia ser o Gohan que ela conhecia, não era exatamente um nome comum, e mesmo que existisse algum Gohan por aquelas redondezas, seria uma coincidência bizarra demais.

Seu coração dizia que era o Gohan que não saia de seus pensamentos, o Gohan que ela sentia raiva e saudades ao mesmo tempo, mas sua mente lhe dava a opção da dúvida, e ela, durante a noite que passou, não teve coragem de ir tirar essa dúvida, e mesmo se tivesse coragem para isso, Cocoa insistiu em dormir no mesmo quarto que ela, com a desculpa de que, com quem ela geralmente dormia, estar com tosse e não a deixava dormir em paz.

Videl estranhou a atitude de Cocoa, aliás, a noviça estava agindo estranho desde que tinha voltado da casa do fornecedor, e isso deixou Videl com o pé atrás, pelo que a madre havia falado, o homem que a ajudou era o tal de Gohan, e agora, enquanto o sol nascia, ela finalmente conseguia por as palavras da madre em ordem. Pois ficara tão nervosa depois que ouviu o nome daquele homem, que tudo que ela conseguiu fazer foi disfarçar e junta os cacos do prato no chão, depois se recolher e ficar na cama com os pensamentos confusos. Quando Cocoa apareceu, basicamente invadiu o quarto com aquela desculpa, se deitou na outra cama do quarto – cama aliás que permanecia vazia desde o dia que ela foi morar ali – se deitou e dormiu, bom, ao menos foi isso o que pareceu.

Agora, com a cabeça mais calma, e depois de ter analisado todas as possibilidades, Videl viu que a melhor pessoa para ela perguntar se era ou não o Gohan, era Cocoa. E também tiraria a duvida do porquê ela não lhe falou do homem antes, vendo que conhecia sua história, e certamente se lembraria do nome dele se lhe fosse dito novamente.

Com esses pensamentos, Videl levanta da cama, e vai até Cocoa, que parecia dormir e se encontrava virada de costas para ela.

- Acorde, Cocoa – Videl mexeu no ombro da mesma, a sacudindo.
Não demorou para a jovem moça abrir os olhos e se sentar na cama coçando as pálpebras.

- Bom dia, Videl – ela olhou a janela e viu que o sol ainda não estava exatamente nascido, a luz do dia era muito fraca ainda. – Por que está acordada a essa hora?

Cocoa passou a noite toda observando Videl, tinha pequenos intervalos de sono, e havia colocado discretamente um pequeno sino na fechadura da porta, do lado de fora, quando foi dormir a noite ali, para impedir Videl de ir atrás de Gohan durante a noite, por sorte, a filha de Satan parecia uma noviça sensata e não se rendeu ao pecado, indo atrás daquele homem.

- Por que não me falou que havia um Gohan aqui no convento? – Videl foi direta.

Ela estava sentada na beirada da cama, enquanto Cocoa estava sentada com as costas encostadas na cabeceira.

- E por que eu falaria? – Cocoa fez uma careta, se fazendo de desentendida.

- Por Deus, Cocoa, não lembra da minha história? – Videl ergueu as duas sobrancelhas dando bastante ênfase em todas as palavras.

Da maneira mais sínica possível, Cocoa fingiu espanto, colocando a mão na boca, e arregalando os olhos.

- Meu Deus, havia me esquecido.

Videl revirou os olhos impaciente, como podia ser tão cabeça de vento ao ponto de não lembrar o nome do homem que era um dos motivos dela estar ali.

- Pois então, agora que lembrou, me diga a aparência dele, estou com medo de ir até lá e ver que é ele mesmo ou que não é, não sei.

Cocoa ponderou a opção de mentir a aparência de Gohan, mas viu que isso seria uma péssima opção, vendo que eles ainda podiam se encontrar, e ela sair como uma mentirosa, e ainda ter o risco de ver eles partirem juntos. Não entendia muito bem seus sentimentos, mas só de imaginar ver os dois juntos já lhe dava nos nervos. Decidiu que não permitiria de nenhuma forma isso acontecer, então uma ideia surgiu em sua mente, e logo ela a colocaria em ação.

- Ele é um homem jovem, aparentemente forte, alto, de cabelos e olhos negros e ... muito bonito.

- É ele – Videl disse alto e de maneira eufórica. Uma alegria consumiu seu corpo com tamanha intensidade, que ela se levantou daquela cama com um pulo. – Só pode ser ele.

Cocoa continuo em silêncio, esperando Videl se acalmar para destila o seu veneno.

- Ele está aqui por mim, Deus, só pode ser por mim – ela vibrava em expectativa. – E eu achando que ele não se importava, que havia me esquecido. Como fui tola ao me antecipar e ter saído das Terras Altas.
Cocoa resolve que era hora de falar, não podia deixar Videl entrar em surto e correr atrás do homem no quarto dele.

- Videl – ela se levantou da cama, usando seu tom de voz mais doce. - Desculpe-me, não lembrava do nome do homem que rouba seus pensamentos, se eu soubesse ...

Videl certa de que Cocoa se desculpava por conta de não ter falado antes de Gohan, a desculpou antes da mesma terminar a frase.

- Não tem problema, Cocoa, ele está aqui, e certamente não sabe que eu estou nesse convento, mas vou mudar isso agora.

Videl insinuou caminhar até a porta, para ir atrás de Gohan antes que as outras acordassem, mas as mãos de Cocoa segurou seu braço e o olhar triste da noviça fez Videl parar de sorrir.

- Se eu soubesse que se tratava do homem que você falou para mim, se ao menos eu tivesse lembrado o nome dele, não tinha permitido sua aproximação. Sei que é pecado, e que eu não deveria deixar um homem fazer isso comigo, pois uma freira me tornarei, mas ele foi tão galante e charmoso que eu ...

Videl se virou bruscamente, sentindo um tipo de enjoo pelas palavras desconexas de Cocoa, e qualquer sentido que seu cérebro formasse para elas a fazia se sentir pior.

- Do que você está falando, Cocoa?

- Ele me beijou – ela disse com falso pesar. – Por isso eu estava daquele jeito no jantar, estava me sentindo mal pelos meu pecado, eu não sei o que deu em mim, mas eu permiti que ele tocasse meus lábios.

- Ele ... te beijou? – Videl sentia a garganta se fechando.

- Sim! – mentiu Cocoa. – Quando ele me ajudou na estrada, disse que estava na região para conversar com um amigo da infância, que mora mais para o leste.

- Então ele não está aqui por mim? – Videl começou a sentir o coração pesar, por conta disso se sentou na cama desolada.

- Em nenhum momento ele disse seu nome, Videl, se o tivesse dito teria lembrado e ligado sua história a dele – Cocoa sentou ao seu lado dela pegando sua mão. – Como eu disse, ele está na região por conta desse amigo, e quando terminou de me ajudar com a roda da carroça, eu disse à ele que não sabia como retribuir o favor, então ele me agarrou e me beijou. Deus, me sinto tão culpada, não deveria ter deixado, deveria ter gritado, contado a Madre para ele não ficar no mesmo ambiente que a gente, mas fiquei com medo de ser castigada, e perder a chance de ser uma freira por tamanha desonra.

- Não é sua culpa, Cocoa – disse Videl em um fio de voz, sentia-se uma tola ao pensar por um segundo que fosse, que Gohan perderia seu tempo indo atrás dela.

Ele já havia a esquecido com toda a certeza, até beijar outra havia beijado, uma noviça ainda por cima, isso mostrava que não se tratava de um homem de índole, muito pelo contrário. Ela era uma idiota, decidiu, criou ilusões com um homem que nunca demonstrou de verdade interesse nela, nem beijar ela ele beijou, em compensação, quando era de seu interesse, não perdoava nem ao menos alguém que se dedicara a igreja.

- Eu sinto muito, Videl – disse Cocoa vendo que havia convencido ela. – Talvez não seja o seu Gohan, talvez seja apenas um homem parecido e com um nome igual.

- Tenho certeza que é ele, Cocoa – resmungou ela se levantando. – A descrição e o nome dele serem iguais ao inglês que eu conheci é coincidência demais.

- Você está certa, vendo por esse lado com toda certeza é ele.– Cocoa abaixou a cabeça, fingindo tristeza. – Não contará do meu pecado para a Madre, não é? Eu seria expulsa.

- Não foi sua culpa – disse Videl convicta. – Ele que não presta. Aconselho que fique longe dele até que parta de uma vez por todas, eu farei o mesmo quanto a isso.

Ainda de cabeça baixa, Cocoa deu um sorriso discreto, foi mais fácil do que ela pensava.

*****

Chichi foi louca de ter viajado daquela forma, pois sua mente e corpo estavam tão esgotadas quando chegou aos portões do castelo, que tudo que ela conseguiu quando desceu da carruagem, foi ir até um dos guardas cai em seus braços e antes de desmaiar, sussurrar:

- Chame meu pai.

Quando acordou, estava na sua antiga cama, deitada confortavelmente com seu pai sentado ao seu lado com as mãos no rosto.

- Papai? – ela sussurrou com a voz fraca.

Cutelo levantou o olhar no mesmo instante, um semblante de alívio surgiu e ele suspirou aliviado pegando a mão da filha entre seus dedos.

- Graças a Deus acordou, minha pequena – ele disse com a voz embargada. – O que aconteceu? Por que veio para cá sem seu marido? E por que desmaiou?

Cutelo disparava as perguntas sem dar tempo de Chichi responder, certamente estava muito nervoso e preocupado.

- Calma – disse Chichi se sentando na cama, e apertando a mão do pai. – Eu lhe explicarei tudo, meu pai, apenas me diga se chamou algum médico ou curandeiro.

- Sim, mas o infeliz ainda não chegou, comecei a gritar desesperado quando vi você desacordada no colo do soldado, você apagou por poucos minutos.

- Acho que não tem nada de errado com o bebê então – ela disse mais para si mesma do que para seu pai, que arregalou os olhos espantado.

- Bebê? – Indagou ele se levantando da cadeira, enquanto Chichi erguia as cobertas e via se não tinha sinal de sangue.

Chichi suspirou aliviada vendo que não tinha nenhum rastro de sangue, certamente desmaiou pela canseira e falta de comida no organismo.

- Sim, papai, eu estou grávida.

- Grávida? – gritou ele incrédulo. – Chichi Cutelo, o que deu em sua cabeça para sair da sua casa e vir aqui como uma louca com o meu netinho em seu ventre?

Chichi sorriu.

- Pode ser uma netinha, sabia?

- Isso – gaguejou ele. – Pode ser uma netinha, e você colocando a vida dela ou dele em risco. Por que fez uma loucura dessas?

- Porque foi necessário – disse ela simplesmente.

- Que espécie de marido você arranjou? –  Cutelo estava a ponto de um ataque de nervos. – Um homem que não segura uma mulher em casa, que a deixa viajar com um herdeiro na barriga. Ah, esses bárbaros, são todos ...

- Papai – Chichi suspirou colocando o indicador e o polegar na testa. – Eu não quero sermões, não quero um pré-julgamento, o senhor pode por favor se acalmar e se sentar?

Cutelo suspirou pesadamente antes de fazer o que Chichi pedia.

- Muito bem, sou todo ouvidos – disse ao cruzar os braços.

- Você me ama, não ama?

- Claro, desde antes mesmo de você nascer – apensar da voz um pouco raivosa, Chichi podia sentir o carinho delas.

- E se eu precisar do senhor, não me abandonaria, não é? Mesmo que eu tivesse que fazer algo que não é digno de orgulho.

- O que você ...

- Logo falarei, meu pai – ela o cortou. – Apenas me diga se está do meu lado independente da situação que eu esteja.

Cutelo ponderou por um tempo, imaginou todas as possibilidades de humilhações ou de desonra que sua filha poderia lhe causar, colocou na balança o que lhe doía mais, aguentar a humilhação ou abandona-la a própria mercê. A conta foi clara, e a corda arrebentou facilmente para o lado menos importante para ele.

- Independente do que você fizer, sempre estarei do seu lado – suspirou ele emotivo. – É minha filha, e de longe meu bem mais precioso. Nada é mais importante do que você.

Chichi sentiu os olhos arder, e movida pela emoção, se levantou da cama e abraçou seu pai. Cutelo retribuiu o abraço.

- Agora me diga, minha pequena – exigiu ele a afastando. – O que está acontecendo?

Chichi suspirou.

- Quero me divorciar, papai. E quero voltar a morar com o senhor, junto de meu bebê que logo irá nascer.

Cutelo com toda a certeza se surpreendeu com o pedido, ficou em choque. Um divórcio? Por Deus, aquilo era um absurdo, um pecado. Mas antes de explodir, ele pensou na promessa que acabara de fazer, de que estaria ao seu lado – e estaria mesmo – independente da situação, por isso, quando a surpresa passou, exigiu mais explicações para aquele pedido, ela teria que ter uma boa desculpa para aquilo, e Cutelo esperava não ser drama de uma garota mimada.

*****

Kakarotto estava simplesmente fora de controle.

Depois de ter brigado com Tenshin Han, em uma briga que os dois saíram machucados de maneira superficial, Kakarotto foi até o estábulo, onde Lunch disse estar a carruagem que Chichi queria, e quando não encontrou o veículo e a falta de dois cavalos, começou a procurar um culpado para aquilo.

Cinco homens responsáveis por cuidar daquele lugar, apanharam pra valer, foi preciso chamar Vegeta e Raditz para ver se conseguiam controlar a raiva de Kakarotto.

- Que droga está acontecendo aqui? – resmungou Vegeta chegando antes de Raditz no estábulo.

- Não se intrometa, Vegeta – Kakarotto gritou enquanto quebrava tudo dentro do estábulo.

- Não me intrometer? – rosnou Vegeta. – Lá estava eu, cuidando das minhas obrigações, quando Tenshin Han vem ao meu encontro e diz que meu comandante entrou em surto e queria matar todo mundo.

- Para fofocas aquele desgraçado é rápido – riu Kakarotto de maneira de maneira assustadora. – Se fosse tão bom para cumprir promessas quanto é para fofocar eu não estaria nessa merda.

- Ótimo, agora sou culpado de você trair sua mulher e ela fugir de você? – resmungou Tenshin encostado na batente do portão do estábulo.

- Você prometeu não deixar ela fugir – rugiu Kakarotto soltando o machado que usava para quebrar uma das carroças.

- Mas ela fugiu – gritou Tenshin – Eu lá ia saber que a mulher ia se arriscar no meio da noite indo embora com um bebê na barriga. Mulheres inglesas são loucas, todas elas.

- Oh, e como são – Raditz entrou no estábulo naquele mesmo instante. – Mas o problema não é a loucura delas e sim como nos deixam loucos, certo?

- Ah, ótimo– Kakarotto jogou as mãos para o alto. – Não deveria estar em lua de mel, irmão?

- Acha que gostei de sair do lado do corpo macio de minha esposa para vir controlar seu surto, meu irmão? – Raditz debochou com a sobrancelha arqueada. – Apesar que é bom ver o correto Kakarotto fazer algo errado. Nosso pai ficaria orgulhoso.

- Talvez eu deva quebrar sua cara também – resmungou ele.

- Adoraria ver você tentar – riu ele.

- CHEGA! – gritou Vegeta fazendo a discussão acabar ali. Não estava com paciência para uma briga de egos dos filhos de Bardock.

Suspirando, continuou com a voz mais calma:

- Não quero saber de roupa suja sendo lavada aqui, mocinhas.

- Sim, Lorde – resmungaram os três em uníssono.

Raditz e Kakarotto olharam para Tenshin Han, e só então o mesmo percebeu que não precisava ter concordado com o lorde.

Vegeta se voltou a Kakarotto.

- Agora que já quebrou os pobres infelizes lá fora e destruiu meu estábulo, pode me dizer o que está acontecendo?

- Chichi fugiu das Terras Altas – disse ele entredentes. – Porque ela acha que eu a trai.

- Ela acha? – Tenshin debochou. – Chichi tem certeza que foi traída. Ela queria arrancar a pele dele com os dentes, pelo menos foi isso o que pareceu enquanto falava com a minha esposa noite passada.

Raditz assobiou impressionado.
- Que belo irmão você é, Raditz – rosnou Kakarotto.

- Não falei nada – ele se fez de desentendido.

- Está me dizendo que sua mulher acredita que você a traiu e fugiu durante a noite das Terras Altas e ninguém a viu?

- Exatamente – Kakarotto estava indignado. – Como uma mulher como Chichi passa despercebida por nossas terras e foge sem ninguém ver?

- Da mesma forma que uma cavalga ao lado no nosso exército sem chamar a atenção – sussurrou Vegeta.

Os três abaixaram cabeça diante da dor nas palavras de Vegeta.

Suspirando o lorde continuou:

- Bater, matar, ou quebrar tudo não vai resolver nada, Kakarotto – rosnou o lorde virando as costas. – Vá atrás dela, seja lá onde ela estiver, e pare de tentar achar um culpado para descontar sua raiva. Já parou para pensar que ela pode estar toda quebrada na estrada?

Kakarotto engoliu em seco enquanto via Vegeta sair dali, estava tão furioso, tão distraído em tentar descontar sua raiva em alguém ou em alguma coisa, que nem chegou a parar para pensar que Chichi podia não ter chegado até seu sogro.

Sem dizer mais nenhuma palavra, pegou um dos cavalos e galopou para o horizonte. Que Deus permitisse que nada tivesse acontecido com sua Chichi, e com seu herdeiro.

*****

Assim que Gohan acordou se surpreendeu ao se levantar e ver que o sol já estava alto, dormira mais que o necessário. Certamente seu corpo estava exausto, e por isso o sono em excesso o pegou de jeito.

Ao colocar a roupa, viu duas bandejas na mesinha ao canto do quarto, uma do café da manhã e outra do almoço. O almoço por sorte ainda estava quente, mas ele decidiu que devoraria as duas refeições, vendo que sua viagem ainda não acabou, e não saberia quando podia comer novamente.

Saiu do quarto disposto a pagar pela estadia daquela noite, mas a madre não quis aceitar, dizendo que o ajudou de coração, e insistindo que a ajuda não deve ser cobrada.

- Já vai partir? – perguntou ela quando viu Gohan pegar seu cavalo.
- Sim, já desfrutei demais da hospitalidade das senhoras – ele disse sem jeito, passando a mão no cavalo.

- Nós o alimentamos também, e uma das minhas noviças o escovou – a madre se referia ao cavalo.

- Estou vendo – sorriu Gohan analisando o quão vigoroso estava seu garanhão. – Agradeço por isso também.

- Não foi nada.– disse a madre. – Para onde pretende ir agora, que mal lhe pergunte?

- Para o sul, eu acho – disse ele abaixando a cabeça.

A madre franziu o cenho por conta da melancolia na voz do rapaz. O que poderia afligir um jovem como ele? A curiosidade foi grande, mas ela não ousou perguntar, seria invasivo de sua parte, e com toda certeza ele não iria querer se abrir com uma estranha, se fosse o caso já o teria feito. Por isso disse a única coisa que podia dizer.

- Acalme seu coração, meu jovem, tudo que tem ser, será.

Gohan sorriu diante das palavras sábias, subiu em seu cavalo e colocou o capuz.

- Então, adeus – disse estalando as rédeas.

- Adeus – disse a madre vendo ele partir.

- Madre? – uma das noviças gritou correndo em direção a ela.

- Sim? – a madre usou seu tom mais sereno.

- Você viu Videl por aí? Ela não apareceu nem para o almoço.

Gohan, que trotava com seu cavalo a passos lentos, ouviu quando a noviça disse o nome Videl, no mesmo instante freou o cavalo e tirou o capuz.

- Você disse Videl? – ele indagou em um tom alto, chamando a atenção da madre e da outra noviça.

*****

Bulma chorou, e como chorou. Doía em sua alma aquela notícia, por Deus, com tantas mulheres no mundo, ele foi justamente se casar com ela? Com Maron! Ela não podia perdoar àquilo, aquela traição.

- Ah, Bulma, pare de chorar – disse Kuririn. – Só apareça de uma vez por todas e acabe com esse casamento.

- É fácil falar, não é Kuririn? – rosnou Bulma limpando as lagrimas. – Não é você não está preso em uma cama.

- Já tinha falado para você, que assim que enviou Vados, deveria ter feito ela dar a notícia.

- E o teria feito, Bulma, e certamente ele não teria se casado com ela – completou Vados.

- Mesmo assim não o teria perdoado, Vados – as lagrimas já não desciam mais, a raiva estava a consumindo. – Ele ia se casar com ela, ele pensar nessa possibilidade já mostra sua traição para comigo.

- Mas ele pensa que você está morta – Whis tentou trazer a sensatez de Bulma a tona.

- Mas por quê ela? Dentre tantas mulheres que ele podia lamentar o seu luto, foi justamente em Maron que ele buscou consolo. Ela é a culpada, em partes, por ele ter me falado aquelas coisas quando me viu com Raditz.

- Já sabemos dessa história, querida – sussurrou Vados tentando a consolar.

- Já disse que é só você aparecer que tudo se resolve, você é a primeira esposa e carrega um herdeiro, será o segundo casamento que receberá a anulação – Kuririn tentava manter a diplomacia.

Bulma abaixou a cabeça ponderando as palavras de Kuririn, que finalmente ganharam novo sentindo em sua mente.

- Quando posso sair dessa cama, Whis? – perguntou ela.

- Acho que em um ou dois meses será seguro.

- Ótimo, em dois meses voltarei para a Inglaterra então.

- Inglaterra? – perguntou Kuririn.

- Sim, Kuririn. Inglaterra – rosnou ela. – E você, majestade, voltará comigo e assumirá o trono.

- O quê? – ele se espantou dando três passos para trás. – Não voltarei não.

- Voltará sim – exigiu ela. – Preciso de um favor quando eu retornar, e apenas o rei pode me dar o que eu quero. E você é o legítimo herdeiro ao trono.

- Acha que vou retornar apenas para agrada-la, senhora? – riu Kuririn. – Apenas para dar algo que deseja? Olha o absurdo dessas palavras.

- O que você quer na Inglaterra, Bulma? O que você precisa que apenas o rei pode te dar? – Whis estava curioso.

- Quero a opção de escolha, Whis – respondeu ela num sussurro sombrio.

Whis, Vados e Kuririn olharam confusos para Bulma.

O que ela planejava agora?


Uma Noiva para o LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora