capítulo sexagésimo

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- Não, não conheço ninguém com esse nome – disse Cocoa depois de pensar se falaria a verdade ou não para Gohan.

Ela ainda se perguntou interiormente o porquê de estar mentindo? Talvez fosse por amizade a Videl, pois, a aparição desse homem em sua vida novamente não podia ser uma coisa boa vendo que, ela podia largar o convento e se desviar do caminho de Deus da qual ela decidiu seguir. Mas no fundo, Cocoa sabia que não tinha nada a ver com isso, mas resolveu ignorar aquele pecado capital que sentia em seus ossos.

- Tem certeza? – Gohan ainda insistiu. – Ela é nova no convento pelo que foi me falado, talvez não a tenha conhecido ainda.

- Tenho certeza sim, meu senhor. As novas noviças são apresentadas a todas nós no convento, com toda a certeza conheceria alguma Videl se ela tivesse entrado ali.

- Talvez seja melhor eu conversar com a Madre – decidiu Gohan insinuando ir em direção ao convento. – Somente para ter certeza.

- Não! – Cocoa falou em tom mais alto que gostaria, fazendo Gohan a olhar desconfiado. Logo ela tentou consertar aquilo. – Quer dizer ... não confia na minha palavra?

Gohan desmanchou o franzido da testa, imaginando que podia estar magoando os sentimentos da pobre noviça.

- Não é nada disso, moça – ele logo pôs a se desculpar. – Perdoe-me se a ofendi, não era minha intenção.

- Está desculpado, senhor – ela abaixou a cabeça com um sorriso discreto. – Pode confiar em mim, não há nenhuma Videl nesse convento, eu saberia e certamente lhe falaria se fosse o caso. Eu sou incapaz de mentir.

- Como futura freira é algo esperado – Gohan suspeitou convencido. – Droga, perdi a viagem vindo aqui.

- Não pense assim – Cocoa sorriu. – Para tudo Deus tem um plano, imagina se não tivesse aparecido por essas redondezas? Passaria a tarde toda com essa carroça atolada.

- Minha boa ação do dia – Gohan sorriu de volta dando uma olhada nos mantimentos dentro da carroça. – Foi buscar essas coisas aonde?

- Ah, nosso fornecedor não aparecia a alguns dias, e tive que ir atrás dele a pedido de minha superiora.

- Ele a fez trazer tudo sozinha?

- Não está bem da saúde – Cocoa fez o sinal da cruz. – É um senhor de bastante idade já.

- Compreendo – disse Gohan com pesar. – Bom, é a vida, não é? Um dia somos jovens e no outro não aguentamos com o próprio corpo.

- Sim – ela riu do jeito que ele falou.
- Então vamos – Gohan pegou nas rédeas do cavalo o puxando em direção ao convento. – Deixe-me ajuda-la a descarregar esses mantimentos antes de ir embora.

- Oh, não – Cocoa arregalou os olhos. – Não precisa se preocupar com isso, pode seguir seu caminho, já ocupei muito o seu tempo.

- Bobagem – resmungou ele com humor. – Um quarto de hora a mais, não vai me deixar mais longe de casa do que já estou.

- Não preci ...

- Deixa de cerimônia – riu ele. – Acha mesmo que eu deixaria uma mulher carregar peso se eu posso evitar isso?

Em outra situação, Cocoa ficaria mais encantada ainda com aquela atitude cavalheira dele, mas agora, tudo que ela não queria era que ele fosse para o convento e corresse o risco de encontrar Videl. Santo Deus, ela tinha que evitar isso, pois além de se passar por mentirosa, ainda corria o risco de ... bom, ela não sabia ao certo qual era o outro motivo, mas certamente não a agradava imaginar eles se encontrando.

Ela ainda tentou convencê-lo a seguir seu caminho, que ele já tinha feito demais para ela, mas Gohan estava irredutível com a ideia de seguiu até o convento mesmo sob o pretexto dela. Não era honrando, ele, a deixar naquela situação, sua índole o fazia sentir que tinha o dever de ajuda-la. Ora, veja, um homem ir embora e deixar a pobre noviça carregar coisas pesadas. Não, ele não faria isso. A ajudaria, como um homem deve fazer, e depois seguiria sua busca.

*****

Kiabe, com uma caneca de cerveja na mão, olhava para os noivos abraçados do outro lado do jardim. A forma como o casal se olhava chamou a atenção do jovem guerreiro. Nunca tinha parado pra pensar em como seria ter uma esposa até aquele momento. Parecia algo bom e ruim ao mesmo tempo, mas, analisando o novo casal, parecia mais bom do que ruim.

- O que está fazendo aí sozinho, moleque? – a voz de Nappa tirou Kiabe de seus devaneios.

Kiabe se assustou quase derrubando sua cerveja, e desviou o olhar do casal constrangido.

- Eu só estava pensando – responde levando a caneca aos lábios.

- Pensando em que? – Nappa cruzou os braços, demostrando interesse em suas feições.

Kiabe abaixou o olhar, não gostava de se imaginar tento aquele tipo de conversa com alguém, era constrangedor. Mas a curiosidade falou mais alto, e ele, deixou a vergonha de lado e resolveu se aprofundar na sua dúvida.

- Por que você nunca se casou? – a voz de Kiabe estava muito baixa.

Nappa arregalou os olhos e engoliu em seco. Era nisso que aquele garoto estava pensando? Se perguntou interiormente. Limpou a garganta antes de falar:

- Por que esse interesse na minha vida íntima?

Kiabe passou a mão no cabelo sentindo-se muito envergonhado, queria sair correndo, mas não podia deixar Nappa entender errado as coisas, por isso, mesmo muito intimidado, se explicou:

- É que eu nunca pensei em casamento, mas hoje, vendo eles dois – Kiabe apontou Tights e Raditz com o queixo –, me vi se casando em algum dia.

Tudo bem, aquela explicação piorou as coisas, e a expressão de Nappa mostrou isso a Kiabe.

- E o que eu nunca ter casado tem a ver com isso?

Kiabe arregalou os olhos, quase o fazendo pular das órbitas, e deu um passo para trás.

-  Não é nada disso – gaguejou o mais jovem. – É que dependendo do casal o casamento parece algo ruim, como do Lorde com sua nova esposa, mas ele também parece bom, vendo pelos que casou hoje.

Nappa ainda parecia desconfiado, então Kiabe tentou uma última vez.

- Só te perguntei pra saber se seus motivos de nunca ter se casado era medo de seu casamento ser ruim?

- Ah – Nappa finalmente entendeu – Não, na verdade não era medo, sempre foi falta de vontade mesmo. Nunca encontrei ninguém que eu quisesse de verdade desposar.

- Então resolveu ficar solteiro? Sem esposa, sem herdeiro?

- Isso não me incomoda, se quer saber? Gosto de não ter responsabilidades, de ir para uma batalha sem medo de deixar algo para trás.

- Entendi – Kiabe abaixou a cabeça mais pensativo do que antes.

Nappa ficou olhando a frustração de Kiabe aumentar, o garoto estava perdido se continuasse tentar se espelhar em alguém para tirar suas dúvidas de casamento. Cada um tem uma história, um pensamento, uma atitude. Nada e nem ninguém são iguais e nunca serão. Por isso ele resolveu ajuda-lo, mesmo não sendo algo comum dele fazer, vendo que se tratava de um homem anonimato para todas suas atitudes, achou que seria bom trabalhar um pouco sua empatia e não agir de maneira egoísta.

- Mas esse sou eu! – disse Nappa enfatizando. – Não quer dizer que você tem que agir igual.

- Não?

- Claro que não!  Se alguma moça lhe interessar ao ponto de querer casar, de um jeito de conquista-la e desposa-la.

- Não tem ninguém que eu queira – resmungou ele e depois ponderou se lembrando da Caulifla. – Quer dizer, não que eu queira desposar, mas ela me chama a atenção.

- Então vá atrás dela!

- E por quê eu faria isso se não tenho certeza de nada?

- Exatamente por isso. Tire suas dúvidas e vá atrás, se não for o que você quer, descobrirá a tempo, mas e se for? Certamente tem que ser rápido, mulheres que nos chama a atenção de verdade não são exatamente fáceis de encontrar. Eu quem o diga.

Kiabe examinou as palavras com cuidado, analisando tudo como um todo e logo se convenceu de que Nappa tinha razão. O que ele tinha a perder, não é mesmo? E se não desse certo seria apenas uma experiência para a vida, e lá na frente não sentiria arrependimento de nunca ter tentado.

- Você tem razão, Nappa – sorriu ele. – Vou falar com ela agora mesmo.

Kiabe levou a caneca aos lábios e tomou a cerveja toda de uma vez para ter coragem de cortejar Caulifla, com toda certeza ela não resistiria aos seus encantos. Jogando a caneca no chão carregado de uma coragem que até então não existia, ele saiu de perto de Nappa decidido a tirar suas dúvidas e ver se realmente queria se casar algum dia e se realmente a única mulher que lhe chamou atenção até então era a candidata certa.

Nappa o viu se afastar aos passos largos e riu. Quanto mais jovem, mais sonhador. Era uma fase boa a daquele jovem; certamente era.

*****

Vados olhou para Kakarotto, com a expressão carregada de culpa e disse a única coisa que podia dizer naquele momento:

- Eu sinto muito, eu não queria que ela visse isso.

Kakarotto a olhou, os olhos carregados de culpa e até mesmo com um vislumbre de raiva e apenas balançou a cabeça negativamente antes de se afastar e correr atrás de sua mulher.

Vados, viu Kakarotto se distanciando e sentiu aquele peso no coração. Deus sabia que ela não queria nada daquilo. Sua intenção nunca foi destruir o casamento dele, muito pelo contrário, apenas queria abrir seu coração e partir.

Sozinha na escuridão, pensou se não seria melhor ir atrás deles e tentar explicar tudo, ajudar Kakarotto a convencer a esposa de que ele não tinha culpa de nada, que aquele beijo nem retribuído havia sido, e que em todas as suas investidas para com ele, nunca foi lhe dado esperança de nada, mas pensou na situação como um todo, e acreditou que ela se manter o mais longe possível era o melhor.

Com toda certeza ela, a esposa de Kakarotto, o perdoaria e logo veria que o marido a ama. Sua presença só adiaria o inevitável. Eles eram um casal preste a ter um filho. A criança os uniria de novo, e ela ir embora de uma vez por todas era o melhor a se fazer naquele momento. Era a melhor forma que ela poderia ajudar a consertar as coisas por hora. Sua presença atrapalharia essa reconciliação. Sim! era a melhor opção. Com isso, Vados resolveu que partiria antes do amanhecer, pegaria suas coisas na casa de Kale e Caulifla, e voltaria para a casa com a notícia desagradável para Bulma.

*****

Quando Kakarotto chegou em casa, inspirou profundamente antes de abrir a porta. Tinha que manter a calma e a serenidade para se explicar. Ele podia falar que a errada era ela por ter saído de casa colocando assim a vida do bebê em risco, apenas para ver algo que realmente não era o que parecia. Mas a verdade é que ele se sentiu um canalha da pior qualidade ao concluir esse pensamento. Tinha que agir de outra forma e colocar ela a par da verdade sem culpa-la por isso, afinal, quem era o culpado disso tudo era ele! E não seria digno de sua parte colocar a culpa nela apenas para se livrar da briga.

Respirou profundamente mais uma vez e abriu a porta. Não a encontrou na sala, nem na cozinha. Então subiu as escadas, indo direto para o quarto.
Entrando nele, Kakarotto se deparou com Chichi colocando as próprias roupas em uma mala aberta em cima da cama, o rosto dela vermelho pelo choro.

- Aonde você pensa que vai? – disse ele um tanto autoritário. Não foi intencional o tom de sua voz, mas ela saiu daquela forma de qualquer maneira.

- Embora! – respondeu ela entredentes, nem se dignando a virar a cabeça em direção a ele.

- Não! Você não vai! – rosnou ele sentindo o desespero tomar conta de seu peito.

- Não? – ela riu de maneira debochada fechando a mala. – E quem vai me impedir?

Chichi finalmente se virou para ele, os cabelos soltos estavam selvagens, os olhos inchados estavam mais expressivos, seus lábios numa linha arrogante de terminação.

- Chichi – Kakarotto tentou começar a conversa de uma maneira mais calma. – O que você viu, o que aconteceu na festa ...

- Não me importa! – ela o cortou num tom de voz mais alto.

- Me escuta? – ele implorou.

- NÃO! – ela gritou.

Kakarotto abaixou as sobrancelhas, e apertou os lábios um no outro. Santo Deus, ela parecia estar no ponto de pular nele e rasgar sua pele com os dentes, como um lobo feroz.

- Por favor, vamos conversar. – ele sussurrou.

- Ah, agora você quer conversar, marido? – rosnou ela apertando os punhos.

Kakarotto deu um passo para trás, assustado com a ira da mulher à sua frente.

- Vamos conversar então – ela levou as mãos no manto o desamarrando. – Do que podemos falar? Da sua indiferença e distância para comigo? Ou da sua traição?

- Chichi ...

- Talvez das noites solitárias onde eu desejava seus beijos e carinhos e você NO OUTRO QUARTO – Chichi arrancou o manto de seu corpo.

- Amor ... – ele sussurrou tentando acalma-la.

Chichi o olhou indignada e arremessou o manto nele, fazendo o comandante se encostar mais na parede e arregalar os olhos.

- Não me chame de amor! – ela praticamente berrou. – Seu falso, mentiroso, traidor!

- Você precisa se acalmar. Pensa no bebê – Kakarotto tentou mais uma vez a acalmar.

- Pensar no bebê? – Chichi passou as mãos no cabelo muito furiosa. – PEN-SAR NO BE-BÊ?

Num impulso ela pegou a tina de lavar o rosto e atacou na parede, quebrando o objeto de barro na parede muito próxima da cabeça de Kakarotto. O homem não ousava nem piscar.

- Como você tem coragem de dizer isso? – ela disse. – Você em algum momento pensou no bebê?

- Claro que sim! – Kakarotto abaixou as sobrancelhas de maneira zangada. – O tempo todo.

- E em mim? – a voz de Chichi abaixou consideravelmente, as mãos dela foi em direção ao próprio peito. – Você pensou em mim em algum momento?

A expressão zangada de Kakarotto sumiu e no lugar aderiu uma de culpa. Ele não conseguia mais encarar ela. Não conseguia mais encarar aqueles olhos tristes. Por isso, abaixou a cabeça.

- Foi o que eu pensei – ela sussurrou. – Você não pensou em mim, não pensou na minha dor com sua distância e indiferença. Tudo pelo bebê, não é? Tudo para proteger o precioso herdeiro.

- É meu dever protege-lo como pai, assim como é seu, como mãe – Kakarotto ainda não a encarava.

- E seu dever como marido? Como meu homem? Aonde fica nessa equação?

- Eu não posso toca-la – ele rosnou finalmente voltando a olhar para ela. – O curandeiro falou, lembra? Por você ter carregado peso nos colocou nessa situação. Acha que eu também não sinto falta?

- Então foi buscar consolo nos braços da outra? – ela debochou, pronunciando as palavras que entravam no ouvido de Kakarotto como um punhal no peito.

- Não foi nada disso ... Vados e eu ...

- NÃO TENTE ME FAZER DE IDIOTA! – ela gritou o calando, não queria ouvir explicação nenhuma. – Eu vi, Kakarotto, eu vi.

- Você está interpretando errado.

- Estou? – ela se aproximou dele, o encarando de frente. – Eu vi vocês se beijando. Como poderia interpretar isso errado?

- Só não foi do jeito que está pensando. Eu não á trai, ela me beijou de surpresa e eu ...

- Não me traiu? – ela não podia acreditar na petulância dele. – Você me abandonou. Me deixava sozinha para ficar com outra. Se isso não é traição, é o quê?

Kakarotto queria achar as palavras certas para se explicar, mas sua garganta simplesmente travou naquele momento e tudo que ele podia fazer era ouvir as palavras magoadas de Chichi.

- Você deveria ser meu. Meu Kakarotto, mas você me deixou sozinha nesse quarto. Tudo bem, não podíamos ter relação, mas não é só isso que forma um casamento. Você podia ter me dado apoio, dormido comigo, me beijado, me feito se sentir amada de tantas outras formas.

Kakarotto ergueu a mão, para tocar o rosto dela que agora estava molhado pelas lágrimas, mas ela se afastou, com uma expressão de nojo.

- É tarde demais para me dar o que eu implorava para você dias atrás.
Ela ainda o olhou dos pés a cabeça antes de virar as costas para pegar a mala.

- VOCÊ NÃO VAI EMBORA – ele gritou movido pelo desespero.

- Ah, eu vou sim, meu senhor – ela ergueu a cabeça de maneira arrogante. – Vou para junto de meu pai, e nem você, nem ninguém vai me impedir. Ficar perto de você apenas me faz mal agora e eu ... – ela disse pausadamente a última frase, o rosto bem próximo do dele – preciso pensar no bebê.

Ela caminhou até a porta e a abriu, antes de sair ainda completou.

- Eu quero me separar de você, vou dar um jeito de deixar de ser sua esposa. Agora está livre para se deitar com quantas mulheres desejar.

A porta foi fechada com força, e Kakarotto demorou alguns minutos para engolir as palavras duras dela e processar tudo aquilo. Quando se deu conta, percebeu que estava sozinho naquele quarto e precisava dar um jeito de impedi-la. Saiu do cômodo em disparada. Não deixaria Chichi ir a lugar nenhum ainda mais naquele horário e no estado que se encontrava.

*****

Kiabe não conseguiu encontrar Caulifla na festa, então, ainda movido pela coragem, foi até sua casa. Ela morava junto de Kale a algum tempo, aparentemente as duas eram muito amigas e a coincidência delas terem perdido o pai na mesma guerra as uniu e uma cuidava da outra desde que se tornaram órfãs, a quase dois anos atrás.

Ele chegou à porta daquela casa um tanto receoso, estava escuro, e talvez ela nem estivesse lá dentro, vendo que uma festa acontecia no castelo. Quase se convencendo disso, bufou e virou as costas, era melhor retornar e procurar melhor na festa de casamento, mas ele quase caiu para trás ao se deparar com Vados atrás dele.

- Perdoe-me – ele sussurrou um tanto inseguro. – Não a vi atrás de mim, moça.

- Não precisa se desculpar – Vados riu do jeito dele. – Eu que não deveria ficar atrás dos outros como um fantasma.

Kiabe sorriu sem jeito.

- Mas o que faz aqui? – Indagou ela quando viu que ele não falava e não se mexia.

- Vim atrás de Caulifla – respondeu ele de maneira direta.

- Oh – Vados ergueu as sobrancelhas. – Não sei dizer se ela está aí, mas podemos averiguar.

- Averiguar?

- Sim, eu estou como hóspede nessa casa – Vados sorriu, tentando esquecer os problemas ao ajudar o rapaz. – Vamos.

Ela abriu a porta e entrou, a lareira iluminava e aquecia o lugar. Kiabe, meio contra gosto, entrou junto da forasteira.

- Se ela tiver em casa, provavelmente está no quarto – sussurrou Vados. – Vamos ver se ela está dormindo.

Kiabe arregalou os olhos.

- Não é certo eu entrar no quarto de uma dama – disse ele um tanto assustado.

- Bobagem, se quer conversar com ela precisa acha-la, não? E outra, vai ser por pouco tempo.

Kiabe percebeu naquele momento que a tal de Vados não era uma mulher com pensamentos comuns. Agia de maneira muito livre, e falava coisa que deixaria uma mulher comum horrorizada. De qualquer maneira a seguiu, não sabia dizer exatamente o porquê, mas foi. Passaram pelo corredor e Vados começou a abrir a porta, e logo entrou, sem dar muita atenção ao que acontecia ali, Kiabe foi atrás.

- Desculpa entrar assim, Caulifla, mas o Kiabe ...

Os olhos de Vados se arregalaram ao se deparar com a cena que certamente não teria visto se não fosse tão invasiva.

Kale estava por baixo, provavelmente nua, com Caulifla por cima, certamente nua, com as pernas delas cruzadas uma na outra.

Kiabe ficou sem palavras, paralisou diante da cena. Maldita hora que entrou ali, era as portas do inferno, e certamente ele era o diabo, porque gostou daquilo. Era um pecador despudorado assim como elas, concluiu ele.

Os gritos das duas vieram a seguir, enquanto Kiabe controlava a sua libido, e Vados tentava achar um buraco para se esconder e não sair nunca mais.

*****

Kakarotto correu para fora quando viu que sua mulher já não estava mais em casa. Procurou ela por toda a parte, até se dar com Tenshin enquanto ele batia em casa por casa.

- Ela está comigo, comandante – as palavras de Tenshin o deixaram aliviado.

- Ótimo – disse ele suspirando. – Vamos até lá então.

Tenshin o segurou pelo braço, fazendo-o parar de caminhar.

- É melhor dá um tempo a ela – disse de maneira sabia. – Ela está muito nervosa, pedindo para Lunch emprestar a carruagem que Maron usou para vim para cá. Minha esposa conseguiu segura-la, dizendo que era melhor viajar ao amanhecer e dando abrigo para ela dormir.

- Não vou deixá-la ir – rosnou ele. – Ela é minha, e carrega um filho meu!

- Eu sei – suspirou Tenshin. – Mas deixe ela lá em casa por essa noite, amanhã vocês se resolvem.

Kakarotto ponderou, analisando a situação, logo concluiu que era mesmo o melhor.

- Não a deixe partir, prometa isso a mim, Tenshin Han.

- Eu prometo – disse ele de maneira firme.

- Amanhã cedo vou até sua casa para busca-la então.

- Tudo bem, comandante. Agora vai tentar descansar, vocês dois precisam esfriar a cabeça.

*****

Depois do momento constrangedor de Kale e Caulifla, ver Kiabe ser expulso daquela casa aos berros, e ela escutar a reclamação daquelas duas durante quase uma hora por ter criado aquela situação humilhante, Vados finalmente pôde dizer que estava partindo.

Automaticamente a fúria das duas desmioladas se foi e no lugar adotaram uma postura de preocupação e zelo. Elas pareciam ser outras pessoas, pelo menos outras de segundos atrás.

- Espere o amanhecer, Vados. Não é seguro viajar a noite – pediu Caulifla.
- Sim, não é seguro, descanse essa noite para amanhã estar cedo na estrada – completou Kale.

- Vocês são muito gentis – sorriu Vados indo ajeitar suas coisas, Kale e Caulifla a seguiram. – Mas não quero mais incomodar, sinto que não sou mais bem-vinda nas Terras Altas.

- Se foi por conta do ocorrido de agora pouco, não se sinta assim.

- É – Caulifla revira os olhos. – Nós estamos furiosas, mas também não é nenhum bicho de sete cabeças, apesar de ser intrometida, gostamos de você.

Vados riu.

- Não, não é por isso. Eu iria de qualquer forma, há coisas maiores me puxando para longe daqui.

- Está falando do seu irmão?

- Sim – mentiu ela querendo evitar aquele assunto. – Preciso encontrar meu irmão.

- Ainda acho que deveria esperar – sussurrou Kale.

- Mas já que não conseguimos convence-la, tome cuidado e mate qualquer coisa que tentar ataca-la.

As duas deram um abraço conjunto em Vados, que se sentiu muito constrangida, era inevitável não lembrar das duas peladas se esfregando.

- Tá bom, tá bom – Vados se afastou envergonhada. – Também vou sentir falta das duas.

- Venha nos visitar.

- Quando achar seu irmão, é claro.

- Isso, traga ele também, vamos adorar conhecê-lo.

- E com toda certeza a adoração será recíproca. Whis gosta de pessoas fora do padrão da sociedade.

- O que isso quer dizer? – Kale fez uma careta com a insinuação da mais alta.

- Nada – Vados limpou a garganta. – Então, adeus.

- Adeus – responderam em uníssono enquanto Vados caminhava para a saída e fechava a porta.

- Então, aonde estávamos? – sussurrou Caulifla tirando um sorriso dos lábios de Kale.

- Acho melhor trancamos a porta dessa vez.

Caulifla concordou. A noite era longa afinal, e estavam sem sono mesmo, qual era o problema se divertir um pouco?

*****

Gohan ajudou Cocoa com o descarregamento dos alimentos rapidamente, e quando estava levando o último saco de grãos para dentro da cozinha, que ficava na lateral do casarão, a madre superiora apareceu no local desconfiada.

- Quem é você, meu rapaz? – Indagou ela com a testa franzida, enquanto o via depositando o saco no canto da cozinha.

- Olá – disse ele com um sorriso simpático, limpando o suor da testa. – Sou Gohan, prazer.

- Prazer?! – ela abaixou a cabeça de maneira delicada, mas o franzido de desconfiança ainda permanecia na sua expressão.

Bem nesse momento, Cocoa entra na cozinha com o litro de leite que havia sobrado na carroça, arregalou os olhos ao se deparar com a madre diante de Gohan.

- É algum ajudante do nosso fornecedor, Cocoa? – perguntou a madre diretamente para a noviça.

- Não! – respondeu ela um tanto nervosa. – Ele me ajudou no caminho com a roda que atolou em um buraco, e insistiu em me ajudar com o descarregamento dos alimentos.

A madre ergueu as duas sobrancelhas.

- Muito gentil da sua parte, senhor.

- Não foi nada – sorriu Gohan. – Não me custou nada ajudar.

- Certamente é um cavalheiro – inspirou a madre. – Mas me diga, o que trás o senhor a essas bandas, não é comum encontrar pessoas na estrada, e pela maneira que se veste, diria que não é um morador dessa região.

- Não, não sou – Gohan coçou a cabeça um tanto nervoso. – Estou em uma busca.

- Uma busca?

- Sim! – ele suspirou. – Infelizmente perdi minha viagem, e olha que cavalguei a noite inteira, mas não irei desistir.

- Oh, sinto muito – a madre se compadece de maneira sincera. – Deve estar cansado da viagem e faminto também.

- Não precisa se preocupar com isso – Gohan insinua sair, mas a pergunta da madre o segura na cozinha.

- Sem querer ser invasiva, mas o que está buscando num lugar tão isolado como esse?

- Não é o que, senhora, e sim, quem.

- Está a procura de uma pessoa? Quem?

Gohan abriu a boca para responder, mas Cocoa vendo que aquilo faria ele descobrir sobre Videl, se pôs a falar:

- Madre, o nosso fornecedor está doente, por isso não trouxe nossos mantimentos, acho que devemos orar por ele essa noite.

Instantemente a atenção da madre mudou de foco, e ela se virou para Cocoa.

- Nossa, é mesmo – ela se recriminou –, tinha me esquecido de perguntar o motivo dele não ter vindo antes, mas a situação dele é muito grave?

- Não! – Cocoa respirou aliviada vendo que conseguiu tirar a atenção da madre para com Gohan. – É apenas um mal estar passageiro, mas mesmo assim, creio que devemos rezar por ele.

Gohan vendo que estava sobrando ali, tratou de voltar a tomar seu rumo novamente.

- Bom – disse ele –, acho que já está tarde, melhor eu ir.

- Espere! – a madre o fez parar pela segunda vez. – Você parece cansado, com fome e sujo – ela riu na última palavra. – Deixe-nos agradecer pela sua ajuda, passe a noite aqui, amanhã pode seguir seu caminho.

Cocoa arregalou os olhos e logo tentou mudar o rumo daquela situação.

- Não é certo colocar um homem em nosso teto, senhora.

- Não quero incomodar – Gohan concorda com Cocoa. – Com toda a certeza não será bem vista minha presença aqui.

- Bobagem – sorriu a madre. – Temos um quarto nos fundos do terreno justamente para ajudar as pessoas que se perdem por esses lados. Fique, tome um banho, descanse e se alimente. Não há nenhuma lugar com essas regalias na região, é o mínimo que podemos fazer pela sua ajuda para com minha noviça.

Cocoa mordeu o lábio percebendo que era muito errado ela tentar contrariar a madre naquele momento, geraria desconfiança de ambas as partes presentes.

- Bom, nesse caso, vou aceitar – Gohan respondeu sem jeito. – Mas apenas por estar exausto, e insisto em pagar minha hospedagem dessa noite e as coisas que eu comer.

- Oh, pare com isso, rapaz – sorriu a madre admirando a integridade do homem. – Guarde seu dinheiro, a ajuda nunca deve ser cobrada e sim retribuída.

- Sendo assim, obrigado.

Cocoa viu os dois saindo da cozinha e indo em direção ao fundo do terreno, onde um quarto aconchegante se encontrava. Ela colocou as mãos no rosto e fez o sinal da cruz implorando aos céus que sua mentira não fosse revelada, e que Gohan, durante as horas que permanece ali, não encontrasse Videl.

Rezar era bom, mas não era o suficiente, tinha que dar um jeito de manter Videl trancada e a madre longe das perguntas e dúvidas de Gohan. Tinha que pensar, e rápido.

*****

Chichi estava sentada na cama, no quarto de hóspedes da casa de Tenshin e Lunch, as lagrimas já havia sido secada pelo cansaço, e estava cansada de falar. Desabafou todas suas lastimas na última hora que passou e Lunch, como uma boa ouvinte, a escutou pacientemente.

Lunch acreditava que ela estava dormindo agora, e que tinha sido convencida de não sair das Terras Altas aquela noite, e realmente teria passado a noite ali se não fosse a conversa que escutou no outro quarto quando Tenshin voltou da rua. Apenas uma parede os separavam, então não precisou colocar a orelha na parede para escutar a conversa.

- E então, marido – era a voz de Lunch. – Disse à Kakarotto que ela está aqui?

- Sim, o encontrei desesperado, batendo de porta em porta atrás da mulher – a voz de Tenshin era cansada. – Foi difícil o convencer a ficar em casa e esperar o amanhecer.

- Acha que ele vai deixar Chichi partir? Ela está irremediável nesse assunto.

- Claro que não, esposa. Acha mesmo que vai permitir que ela vá embora? Ele queima todas as carruagens e mata todos os cavalos antes disso acontecer.

- Vai mantê-la aqui sem sua vontade? – Lunch estava horrorizada. – Mas isso não é pior para os dois.

- Você tem que entender que ela é esposa dele. Ela o pertence – resmungou Tenshin. – Não acho certo nada disso, mas não é um caso que devemos nos meter. Eles logo se resolvem, e ajudarmos ela a fugir não é exatamente o melhor a se fazer.

Chichi escutou o suspiro indignado de Lunch antes do silêncio vir. Não tirava a razão do casal que a abrigou, eles não tinha obrigação nenhuma em ajuda-la, ela tinha que fazer isso sozinha, pra ninguém sair como culpado naquela história além do próprio Kakarotto com sua traição.

Decidida de que esperar o amanhecer para partir era arriscado demais, decidiu que iria aquela noite mesmo. Estavam todos em festa, e certamente os guerreiros que guardavam as terras havia diminuído consideravelmente. Esperou mais uns minutos, para Tenshin e Lunch dormir, pegou sua mala, colocou seu casaco e saiu sorrateira do quarto.
Nas pontas dos pés, sem ter colocado as botas ainda, andou pelo corredor que a levava para a sala, que enfim levava ela para a saída.

A porta deu uma rangida alta quando foi aberta, e Chichi fechou os olhos e ladrou um palavrão sem sair a voz, inspirou e olhou para trás. Viu que ninguém acordou, então colocou as botas e correu para fora com sua mala em mãos.

Foi até o estábulo, onde Lunch havia soltado que estava a carruagem que Maron usou para vir as Terras Altas, que tinha acentos mais confortáveis que as dos Saiyajins, e apesar de mais ruim de guia-la sem um cocheiro, era mais seguro do que montar em um cavalo ao qual galoparia para a Inglaterra, ela tinha que pensar no bebê, que certamente corria riscos de vida se ela fosse tão imprudente. Então, com toda certeza, o difícil era o melhor naquele momento.

Assim que ajeitou dois cavalos a carruagem, ela subiu na acento do cocheiro e estalou o chicote, certa de que partiria sem chamar a atenção. E aquilo era verdade, exceto pelos pares de olhos arroxeados que a observava na escuridão, enquanto ajeitava o próprio cavalo para partir.

*****

Kakarotto foi para casa contra a vontade, e percebeu rapidamente que não conseguiria dormir aquela noite. Estava na cozinha, com uma caneca de cerveja na mão e com o rosto tão tenso que os músculos travavam na expressão carrancuda.

As palavras de Chichi o corroía por dentro, a lembrança da expressão de tristeza dela quando estava perto de Vados o destruía. Ele se sentia mal, muito mal, a culpa tomando conta dele como uma doença que o deixava debilitado e se sentindo nada mais que um lixo.

Deus, como errou com ela. Como ele não viu que a estava machucando com sua distância? Que tipo de marido era ele, que despreza a mulher no momento que ela mais precisa? Claro, nada daquilo foi intencional, ele só queria proteger o bebê, mas em uma coisa ela tinha razão, e isso era o que mais doía. Ele não pensou nela em nenhum momento, apenas nele, em como se seguraria para não toca-la, e no seu herdeiro, em mantê-lo vivo a todo custo. Ele foi egoísta em seus sentimentos. Mas agora seria diferente, mudaria sua atitude com ela, a conquistaria novamente, ganharia seu perdão. Em hipótese alguma permitiria que ela partisse. Ela era sua, e sua continuaria sendo.
Batidas na porta o tiram de seus devaneios. Franzindo o cenho ele bate a caneca na mesa e vai até a porta. Quando a abre e se depara com Vados, sua raiva o consome.

- O que faz aqui? – rosnou ele. – Já não me causou problemas o suficiente?

- Desculpa, Kakarotto – disse ela tentando manter-se firme. – Não queria que nada daquilo acontecesse, mas eu vi ...

- Não quero suas desculpas – disse ele de maneira bruta. – Estou a ponto de perder minha mulher, e em partes isso é culpa sua, quero que vá embora e nunca mais apareça na minha frente.

Vados engoliu o orgulho e a dor por aquelas palavras, tentando mais uma vez.

- É justamente por isso que eu estou aqui. Chichi ...

- Não fale dela. Só volte de onde veio para eu ter a chance de conquistar o amor de minha mulher novamente.

A porta foi fechada na cara de Vados com brutalidade, e ela engoliu o choro pela forma bruta que foi tratada. Ela se sentia mal, a mais desprezável das criaturas. Só queria ajudar, só queria avisar que viu Chichi fugindo, e até pensou em bater na porta novamente e tentar falar mais uma vez, mas não tinha forças para ver o olhar de desprezo de Kakarotto nela novamente. Por isso tudo que ela conseguiu fazer foi virar as costas, subir em seu cavalo e ir embora.

*****

Quando Bulma abriu os olhos, o sol já estava alto, havia dormido demais. A gravidez realmente a esgotava, e as horas de sono havia aumentado e muito. Ela não entendia muito bem o porquê de tanta canseira, vendo que passava o tempo todo na cama.

Quando seus olhos ganharam foco, ela deu um sobressalto ao ver Vados sentada na cadeira ao lado de sua cama.

- Você voltou! – Bulma sorriu não acreditando. – Por Deus, mulher, estava a ponto de fazer Whis ou Kuririn ir atrás de você com a ameaça de que se não fizesse eu mesma iria.

Vados deu um sorriso triste, diminuindo a alegria de Bulma.

- O que foi? – a seriedade de Bulma foi imediata. – Por que você está triste?
- Por muitas coisas, querida – ela sussurrou. – Tenho tanta coisa para te contar, mas a notícia que tanto almeja saber não é a que eu gostaria de lhe dar.

No mesmo instante Bulma sentiu o coração acelerar, o corpo suar e as mãos tremerem.

- Me diga, Vados – ela sussurrou tentando parecer convicta, mas falhando miseravelmente. – Diga de uma vez a notícia.

- Vegeta está casado – Vados suspirou antes de completar. – Está casado com Maron.

Os olhos de Bulma se encheram de lagrimas no mesmo instante, seus lábios começaram a tremer e tudo que ela conseguiu ouvir foi um eco das palavras de Vados em sua cabeça. Ela podia sentir seu coração se partindo, e a dor foi latente, tão profunda que suas mãos trêmulas foram em direção a ele, enquanto as lagrimas começaram a cair.

Uma Noiva para o LordeOnde histórias criam vida. Descubra agora