Capítulo 9 - Um babaca é sempre um babaca

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Pedro estava em sua sala quando recebeu uma mensagem de que Amélia estava ali e queria vê-lo, o sorriso cretino de campeão tomou sua cara por completo. Apressou-se em arrumar tudo em cima de sua mesa para sair e vê-la, a essa altura ela estaria esperando do lado de fora.

— Entre. — disse deixando espaço todo solícito para que ela passasse.

Amélia não estava à vontade, era perceptível, porém a necessidade se fazia presente e ela não podia quebrar agora.

— Repensou? — ele disse vendo que ela não moveu um passo.

— Você...

— Não! Apenas conheço essa cara de arrependimento, convivi com uma durante uma semana. — o mesmo papo de sempre, e havia quem caía, né Amélia?!

Amélia tinha que reconhecer, ele era encantador naquele cabelo bem penteado, olhos luminosos e amendoados de um verde maravilhoso. Mas tudo isso não fazia suplantar o fato de que ele ainda era um babaca, ao qual num passado não muito longe, chamou de namorado. O pior do que um namorado babaca? Um ex namorado babaca e agora chefe (opção babaca em aberto nessa categoria). Revirando os olhos Amélia entrou.

— Eu sei de tudo isso, e só aconteceu porque foi ridículo, babaca e pior, tratou aquela moça como objeto.

Amélia sentou-se na cadeira deixando a bolsa na outra.

— Eu já pedi desculpas.

— Acha que palavras livram atos?

— Desculpe por interrompê-la, o que queria me falar? Acho melhor não prosseguirmos nesse assunto. — Pedro ajeitou a gravata.

— Quero ouvir a sua proposta.

— Bom, preciso que seja minha assistente, por dois meses, vou te pagar bem, até um pouco a mais e depois disso eu procuro outra pessoa, porque presumo que vá sair assim que acabar a dívida.

— Sim, assim que eu quitar, mais alguma coisa?

— O uniforme, uma saia preta e camisa branca, você pode usar sapatilhas para não sofrer com os saltos.

Amélia tinha quase certeza que aquilo era um fetiche, mas, a sua falta de informação a respeito à fez repensar se não estava sendo paranóica, afinal aquilo era um uniforme. Ou devia ser. Se não era? Pelo menos era para parecer ser.

— Tudo bem, começo quando?

— Quando quiser.

— Eu estou fazendo a reforma da SPVT e não posso durante a manhã.

— Tudo bem, de manhã eu fico analisando os processos, levando com a barriga, aí à tarde nos vemos. Ok?

— Fechado.

Amélia saiu sem se despedir e Pedro fez um gesto de "yeah" com o punho. Uma coisa grosseira para o que acabou de acontecer.

No ônibus já retornando para casa Amélia ficou olhando a tela do telefone quando uma notificação de uma rede social apareceu. Abriu-a e um nome conhecido projetou-se na sua memória.

"J. Théo quer ser seu amigo"

Aceitou a solicitação e rapidamente uma janela de conversa foi aberta.

— Olá, como está? — ele digitou.

— Bem e você?

— Estou indo, aquela reabilitação é horrível, com um monte de palestras e grupos, não gosto do tom de culpa e da sensação de que todos me acham um babaca, eu sei que sou um, mas venho evoluindo constantemente para não ser mais.

— Você é um babaca? — Amélia pensava surpresa que o último cara que (muito talvez) pensaria que fosse babaca era ele.

— Ah sim, todo homem é, tem os graus, estou descendo do número um para o zero. É só dar a oportunidade e você verá.

Amélia analisou aquelas palavras com cuidado, é só dar a oportunidade? Ela tinha dado a Pedro, e no seu interior sabia que não devia.

— Pode me responder uma coisa?

— Posso.

— Saia preta e camisa branca. O que te sugere?

— Um uniforme?

Amélia respirou mais aliviada.

— Por que a pergunta? Alguém quer que se vista assim?

— Curiosidade, só isso, achei que podia ser uma fantasia. — Amélia estava mesmo falando disso com o que parecia ser Joaquim?!

— Tipo fetiche? Depende da pessoa... não a conheço para saber, conheço?

— Não.

— Está onde?

— Perguntas demais. — ela sorriu mandando uma carinha de sorriso torto.

— Se você pode perguntar eu também posso, perguntas dão abertura a perguntas. Essa é a regra do jogo. Agora, pode me dizer onde está? Não quero imaginar que está em um centro de recreações adultas a essa hora do dia. Não poderei tirar essa imagem da cabeça tão cedo.

— Ok, não estou num centro de recreações, se isso ajuda. Estou indo para casa.

— De ônibus?

— Sim, eu não tenho carteira ainda. Lembra?

— Uma pena. Acabei de receber as chaves do meu, não sei o que fazer, me sinto estúpido por culpa da palestra. Até parece que sou um psicopata de habilitação.

— Por quê? Você já se sentia assim ou sentiu agora com o choque de realidade?

— Ah, perguntas demais. — ele mandou. — Preciso ir.

— O horário de almoço do presidente acabou? E a regra do jogo não vale pra você?

— Sim elas valem muito, e eu sigo as regras e aqui é de uma hora, e tem uma pilha de documentos na mesa procrastinando a alguns minutos, isso por si só já justifica a minha quebra da regra. Do mais, eu as sigo. Em maioria.

— A não ser que sejam de trânsito, não é?

— É, mas se não fosse isso eu não teria te visto de novo.

Amélia leu aquilo, releu, e leu de novo mordendo a boca. Isso significava o que exatamente?

— Ah, e... — parou de digitar, seu coração pulava no peito, era preciso uma pausa para encontrar as palavras certas. — E isso tem algum significado?

Ao enviar fechou os olhos, sentia-se muito incomodada. Por que raio estava interessada?

— Sempre tem. — ele respondeu. — Mas ainda não sei bem o que é. Boa tarde. Um beijo. — e o nosso príncipe saiu de online para off, deixando a nossa pulga atrás da orelha coçando muito. Isso pretendia ter um significado, mas qual?

O que se deve esperar do final da frase, Amélia?

Um beijo e um sorriso hipnótico.

AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora