Capítulo 1 - Narrativa

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Agora sem seu maior amor, o balé, devido a maternidade e sua licença, Leô reviu suas prioridades e transferiu tudo que podia para a pequena coisinha rosa que nasceu na primavera em novembro. Por muito tempo lutando entre as aulas de dança, um restaurante e a filha, Leô conseguiu ter paz e tranquilidade apesar da dor de ter que abandonar os palcos do teatro quando pode se tornar professora e Amélia já andava sozinha. A vida tinha lhe empurrado a situações que jamais pensaria passar e a uniu ainda mais a mãe do que pensaria poder se unir. As três precisavam uma da outra para coexistirem e existirem além de resistirem.

E nesse embalo da volta ao passado nem vimos que o tempo já havia atingido a maioridade e que nos pedia para acordar do sonho estranho, apesar da nossa relutância em acreditar posso garantir que ele passou e diante de nós está uma casa com flores em um quadro de madeira que recobre os dois lados da soleira onde uma pequena animação acontece dentro de suas paredes e retrocedemos um pouco para o começo onde falávamos da personagem da vez, Amélia.

Aquele dia em especial era dia de nervos à flor da pele, uma prova pela manhã, e durante a noite saída com as amigas para comemorar o fim do último semestre de turismo, Amel, como é chamada por alguns antes de assumir o apelido Mia, não tinha ideia do que vestir para uma balada, muito menos na nova queridinha de suas amigas, a Noite Caribenha, ponto alto da nata da cidade.

— Alguma coisa serve sem ser muito religioso ou muito "quero trabalhar na sua boate"? — dizia ela enquanto sua mãe examinava os cinco vestidos sobre a cama. Seu olhar dizia muita coisa, nada ali servia para aquele momento.

— Não tem um mais brilhoso? — Eleonora franzia a testa.

— Não, eu não tenho.

Esquecida que a filha não era do meio artístico nem da noite Leô passou batido naquele momento como mãe observadora que era, mas cobrá-la por isso era um exagero, ninguém tinha que estar sabendo de tudo a todo o momento, a não ser o presidente e o chefe da inteligência espionando seus inimigos. Amel tinha um problema/dilema imenso à frente enquando sua mãe olhava as opções... Desmanchar o compromisso ou roubar alguma loja nessa altura da noite? Contudo neste momento de grande embaraço uma luz atingiu sua cabeça, ela tinha alguma coisa brilhosa sim e sexy.

— Espera. — ela deu um gritinho barulhento. — Tenho um que ganhei da mãe do...do... — sua voz engasgada queria dizer Pedro, seu ex.

— Aquele veludo molhado? Incrível! Adorei, e afinal onde anda já que nunca te vi com ele? — Leô saiu do estado de mãe preocupada para o de adolescente animada descalçando os sapatos e subindo em cima da cama. Retirar a caixa de cima do guarda roupa não foi moleza, primeiro por estar soterrada de coisas e segundo mais as quantidades gigantescas de poeira.

— Aqui está! — ela gritou ao ver a caixa branca.

Jogou-a em cima da cama e Amel pegou o embrulho tirando os papeis de dentro e encontrando o vestido de veludo púrpuro com as alças finas e o comprimento na altura do joelho não diziam que estava saindo da igreja e nem querendo trabalhar na boate, então era basicamente perfeito.

— Assim está bem melhor, não acha? — perguntou a mãe.

— Com toda certeza. Melhor que um dos seus babados e purpurina. — Amélia riu ficando a admirar o vestido pouco depois. Ao se lembrar do seu ex, pensou em toda a marmelada que tinha se tornado a surpresa de aniversário no escritório dele. Pegá-lo em cima da assistente não foi exatamente o seu maior susto, as frases que vieram a seguir, sim. Vagando a mente, Amélia se recordou de quando a tragédia aconteceu...

— Oh meu Deus, Amélia, por favor, fique onde está. — dizia ele tentando arrumar as roupas e o cabelo depois de ser pego em cima da assistente e os dois em cima da mesa dele, ainda bem que estavam vestidos.

AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora