Capítulo 60 - Estilhaço

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Mal amanhecia e a cidade do interior de São Paulo era sacudida por uma notícia bombástica, o então Deputado Estadual eleito pelo Consolidados-MT,  Leonardo Carvalhaes era preso em uma mega Operação da Polícia Federal conhecida como Estilhaços as seis da manhã no hotel em que estava hospedado. Os telejornais do país só sabiam repetir o mesmo embalo enquanto Amélia e Leô eram acordadas com camburão, sirenes e batidas a porta do outro lado da cidade, ao olhar pesado e sonolento de Consuelo os policias negligenciaram qualquer bom dia entrando e vasculhando tudo, os celulares, notebooks e livros cuidadosamente mantidos era enfiados em sacolas com homens armados espreitando seu jardim e rostos cobertos com palavras de ordem sem um pingo de vacilo, todas as três eram investigadas por envolvimento em corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Tamanho foi o choque de Tereza e Olívia que ligaram a tv para assistirem ao jornal da manhã quando viram o rosto de Léo sendo enfiado ainda de pijama num carro escoltado da polícia e logo depois ver a casa das Ávillez sitiada por repórteres e mais polícia. Antonella até mesmo parou de chorar e ficou em completo silêncio.

Eduardo que corria no parque recebeu uma chamada de Rafael que lhe explicou o acontecido, tanto ele como o outro estavam indo para a superintendência da polícia para saber mais sobre o escândalo.

Somente quando o relógio bateu meio dia que as três Ávillez foram liberadas da sede local da PF depois de exaustivas perguntas e acareações. Consuelo estava inflamada de raiva, Eleonora constrangida e Amélia surpresa e com desgosto, saindo de pijama receberam de Rafael um combo de hambúrguer e uma blusa enquanto se sentiam cada vez mais intimidada pela avalanche de jornalista com seus flashs ligados, ninguém deu um pio para nada, o pijama cafona não fazia mais sentido e muito menos sentido para reclamações, as três estavam sendo acusadas de cúmplices de lavagem de dinheiro público e sabia-se lá Deus o que mais.

Joaquim, o último a saber, chegou a porta das três sem saber bem o que dizer, sua mãe o tinha avisado do tormento a poucos minutos enquanto Olívia estava pedindo para que ele se mantivesse longe de encrenca e esperasse baixar a poeira, todo mundo estava sendo medido, incluindo ele.

— Estar sendo visado não me assusta, o que me assusta é ver aonde o poder dessas pessoas pode ir e me atingir. — respondeu ele a ela na ligação que agora diante da porta de Amélia estava completamente mudo e estático.

Bateu um pouco antes dela ser aberta por Leô aos prantos desabando em seus braços, a trazendo para dentro a ajudou a se acalmar enquanto ouvia todas as três falando sobre o ocorrido.

O crime de Léo começou a uns cinco anos atrás quando ele acabou entrando no esquema que ficou conhecido como "Quéops", nome dado devido ao tamanho de sua extensão e ao seus atos cruéis ao investir em máfias e tráfico que espalhavam a violência pelas cidades que atuavam, após desentendimento entre os membros devido a um questionamento de Léo acerca do uso exacerbado de truculência, ele deixou para trás seus tempos de 'egípcio', como eram conhecidos os membros de baixa patente e entrou para o seleto grupo dos 'Seth', onde seis deputados se juntaram para lavar dinheiro de propina e campanha; com sua chegada fecharam o esquema em apenas 7 membros, o grupo era o mais secreto e difícil de ser rastreado, segundo os próprios policiais contavam, não havia mensagem e nem dialogo nos corredores, todo o esquema era feito através de trocar de arrobas e moedas criptografadas num programa sofisticado de computador conhecido como "Seven Heaven" que traduzia os códigos e arrobas para moedas e os estocava em nuvens no HD. Um processo primoroso e bem articulado de lavar dinheiro.

Com essa informação Joaquim vislumbrou uma cena em que viu Léo enviar pelo celular dinheiro para seu assessor dizendo ser muito fácil como hoje em dia as pessoas pagam tudo em moedas digitais que se tornam dinheiro vivo, ele no momento sorriu mas ficou bastante apreensivo com o suspiro de Léo, agora ele entendia por quê.

No telejornal das treze horas foi noticiado como todo o desenrolar da prisão de Léo se deu, o próprio havia mandado movimentar uma quantia muito alta para sua conta salarial que estava bloqueada por conta de problemas com recibos fantasmas e que para surpresa do próprio banco e seu limite de transação diária, a quantia em questão foi aprovada imediatamente ao pedido sendo adicionada a outra conta. O gerente encontrou um erro de logaritmo, o que só podia caracterizar transferência automática e acionou o banco, alguém poderia ter clonado o cartão de Léo, porém como ele negou que tivesse passado por roubo, o banco acionou a polícia, agora era questão de tempo até que a casa de vidro se estilhaçasse, o prato de leite estava morno para os bigodes dos gatos, como dizia Consuelo ao lamentar pela quinta vez o infortúnio do dia.

A sopa feita às pressas para curar estômagos roncando alto começou pelas duas da tarde, a casa estava cercada novamente por alguns curiosos e com cortinas fechadas os quatro passaram o resto da tarde se escondendo do pior, a caça às bruxas. Quando Joaquim resolveu voltar para sua casa deixou em Amélia a certeza de que tudo estava bem novamente, se seu pai havia se metido em encrenca não era culpa dela nem de ninguém além dele mesmo. Uma crescente frase que ele sentia ressoar alto e clara em seu ouvido quando começou a pensar que devia ter desconfiado quando ele lhe propôs investir no resort, para sua sorte Jane o puxou para uma conversa particular antes que respondesse.

Ao se deparar com Olívia pensativa pela casa não deixou de estranhar, ela nunca estava tão quieta.

— Aconteceu alguma coisa aqui enquanto estive fora?

— Não, de maneira nenhuma. Por quê?

— Está distraída e distante.

— Não quero que isso tudo afete Antonella, não quero que você se envolva também, isso é problema deles.

— Eu estou com Amélia, como não quer que me envolva?

— Você é o próximo, Joaquim, se cuide.

— O que está dizendo? — ele ficou preocupado quando encontrou os olhos dela o observando diretamente.

— Nada, pressentimento por causa de sua conexão com ela.

— Não, você sabe de alguma coisa que eu não sei ou não percebi. Isso é armação de alguém?

— Léo caiu porque é corrupto. — Olívia se exaltou.

— E por que eu cairia também, nunca peguei dinheiro dele.

— Você não sabe do que são capazes essas pessoas.

— Pessoas? Olívia! — disse ele enquanto Olívia corria entrando em seu quarto batendo a porta, Joaquim não saberia por hoje quem eram aquelas pessoas aos quais Olívia se referia e parecia temer, talvez fosse a polícia, a máfia ou até mesmo conhecidos dele...

Quem mais estava metido com Seven Heaven?!


AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora