Capítulo 2 - Um cara de negócios

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A situação financeira tinha melhorado significativamente desde que Joaquim tinha assumido a cadeira da empresa especializada no ramo da hotelaria, deixando a situação muito mais estável do que nos tempos de seu pai e com todos os relatórios lá para comprovarem exatamente isso, o menino havia se tornado um homem ciente de seus atos e dado lugar aos melhores anos que a Caravaggi poderia ter. As especulações que se ouviam não eram apenas especulações de corredores mas sim atos concretos estampados em papéis timbrados com seu logotipo. 

Era inavegável o tal feito; os ares mais leves com pessoas mais felizes e por que não dizer que ele também estava bem feliz por ter esfregado as planilhas em azul na cara de seu tio rabugento durante a ultima reunião mensal? E ainda mais agora, depois do expediente, em meio a suor e uma boa luta em que deixava de lado seu terno para colocar o quimono e derrubar dois ou três companheiros no chão com a mesma satisfação que tinha de derrubar seu inimigo familiar. Sendo faixa preta de karatê ele se orgulhava do que via mesmo quando era derrubado, digamos que era um sábio perdedor que colhia ensinamentos em tudo que podia, (havia um cara resolvido e centrado se recompondo dentro do quimono depois de uma boa dose de surpresa.) Como bom jogador que era sabia bem a hora de perder a curto para ganhar a longo prazo, porém como nem tudo são flores na primavera, Joaquim ainda não havia sentido o gosto do golpe que o levaria a lona, (que não seria agora e nem no tatame) e esperava o desfecho oportuno para começar a se preocupar em se precaver com a sua futura queda.

Seu cabelo estava desarrumado e o rosto vermelho de esforço quando o mestre se aproximou, apertava com vontade o colega quase finalizando o golpe e teve de soltá-lo para a pausa forçada. Quando um mestre se impõe na luta é hora de baixar a cabeça e ouvir. Nunca é em vão, afinal, mestre é mestre e não é atoa.

— Seu celular não para de tocar. — disse o mestre mostrando a tela piscando, era uma mulher, Olívia para ser mais exato.

— Eu nunca vou ter sossego? — ele deixou seu colega no chão e tomou o telefone desligando-o.

— E amigo, por que dessa agressividade toda? — o mestre colocou a mão sobre a sua para acalmá-lo.

— Ela é a razão.

— O que houve?

— Quer algo sério, aquele negócio todo.

— E você não, como sempre? — o mestre parecia estar um pouco decepcionado.

— Dessa vez não.

— Você sempre diz isso.

— Um dia será diferente, prometo.

— Isso é uma dívida. Você sabe.

— Palavras ditas ao vento são sempre escritas nas linhas do tempo, você sempre diz isso. — Joaquim bateu com a mão no ombro do mestre para confirmar que já sabia disso tudo.

— E tenho uma razão.

— Sei. Agora vou passar ver minha mãe, ela está com algum problema com relação a sua conta que só o filho maravilhoso dela pode resolver.

— Quem mandou fazer economia. — o mestre brincou voltando-se a outro aluno.

Joaquim entrou no vestiário, trocou rapidamente seu quimono por seu moletom para chegar o quanto antes na casa de sua mãe e também para poder descansar de um dia cheio. Quando saiu do centro de treinamento para pegar seu carro notou um aviso colado no poste ao lado do que seria o espaço da vaga onde seu carro devia estar, o que indicava que tinha sido rebocado por um guincho.

— Excesso de velocidade, de novo. — ele bufou pegando o papel. O jeito era pegar um ônibus.

Nunca tinha falado sobre isso, mas em seus anos morando nos Estados Unidos andava muito de metrô, muito mais do que de carro, o metrô sempre tinha mulheres bonitas para paquerar.

AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora