Capítulo 16 - JT ataca novamente

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Nunca tinha dado uma de JT no Brasil, e essa aura dos tempos de universitário tinha ficado na América por bons motivos. O que acontece por lá, fica por lá. O lema de Las Vegas não era esse à toa. Ao passar no supermercado pegou o que precisava e foi direto até a academia para esquecer o dia cansativo, em duas horas estava de volta em casa com Jane de pé e sem Elizabeth semi vestida, (soltou um grande ufa quando isso aconteceu).

O ar de discussão se sentia até pelos poros do blusão de Jane.

- Está tudo bem?

Ela ergueu os olhos do livro.

- Está. Eu resolvi ler um pouco. E você não vai sair?

- Sair?

- É, nos EUA sua vida era bem mais movimentada do que aqui pelo visto, senhor tudo certinho e presidente.

- Eu ando sem paciência para sair.

- Hum, sei.

- É verdade, eu perdi o gosto por isso.

- Mentiroso. – bateu nele com o livro quando se aproximou.

- É sério, eu estou menos JT.

- Eu sei que ele vive aí, só esperando para sair.

- Às vezes. Mas hoje é segunda ainda.

- Isso nunca te impediu, vai lá, dá uma volta, joga um charme, tira essa cara de conservador escravo do trabalho.

- Eu nunca fui conservador.

- Mas está se tornando um.

- Onde está a Elizabeth?

- Saiu. – ela deu de ombros.

- Você não se importa?

- Nós discutimos, na verdade.

- Hum. – ele colocou às mãos nos bolsos.

- É muito comum, então, eu achei a casa do resort ótima, mas ela diz que não é, que é pequena demais, a gente vivia em cem metros quadrados em Miami, e eu nunca reclamei, agora numa casa de quase duzentos ela veio torrar meu saco.

- Vocês costumam divergir muito?

- Sempre, mas agora ela está insuportável. Deve ser porque eu finalmente assumi alguma coisa na vida, o que ela sempre quis que eu fizesse, mas não entendi exatamente o porquê do ataque.

- Ela te dizia para fazer o que especificamente?

- Procurar um emprego, sair da comodidade. Essas coisas.

- E agora que você saiu, ela está estranha?

- Está. Eu não entendo. Desisti de entender.

- Isso não começou aqui não né?

- Não, eu te pedi emprego porque eu a ouvi dizendo para a família que eu tinha recebido uma proposta e que eu estava pesando os prós e contras quando na verdade eu não tinha nada. Me senti tão mal. Eu tinha sido mandada embora por que a empresa foi vendida e quem assumiu? Um pró T conservador horrível, que além disso ainda disse que a minha pessoa poderia arruinar a imagem da empresa. Eu me senti tão horrível quando escutei aquilo... – seus olhos lacrimejaram. – Ela não validou isso. Disse que eu tinha que aceitar, que eu não podia me rebelar contra. E você sabe como eu sou com injustiças.

- Sei, mas e quanto a vocês duas? Como casal?

- Mais ou menos, temos tido mais divergências do que complementos. Porém, não vou ficar te impedindo de sair, vá, a noite é uma pequena mariposa. – Jane voltou a ler deixando-o olhando o vácuo.

Com um sorriso minguado de saída Joaquim foi até seu quarto e ficou posicionado em frente ao espelho, a saudade de JT falou do alto das noitadas. Se tinha uma coisa que Joaquim queria era tirar a sua fixação por sexo da cabeça, desde que tinha visto Elizabeth seu corpo passou a se rebelar e ele tentava controlar, mas como ele mesmo disse a Amélia, todo homem é babaca, é só dar a oportunidade, e ele precisava confirmar isso no seu conflitivo ego destrutivo.

Ouvindo os conselhos de Jane resolveu sair, a sua primeira parada foi em um bar mais popular que ficava do outro lado da cidade, chegando lá a banda cover cantava Scorpions e ele se lembrou de quando conheceu a banda por intermédio da sua mãe, a música que definia ela e seu pai estava tocando nesse exato momento. Com um pouco de cisma entrou no bar, meio desajeitado sentou-se numa mesa e não demorou a focalizar em uma ruiva no balcão, a saia preta de couro sintético, a blusa branca e o cabelo ondulado lhe causaram um fascínio, estava conversando com uma outra mulher quando Joaquim viu de quem se tratava. Elizabeth, a própria cobra, visivelmente bêbada e dando em cima da outra moça bem a sua frente, em reflexo seu coração disparou as batidas e ele começou a suar, olhava para os lados como se Jane fosse chegar a qualquer momento e se deparar com aquela cena lastimável.

Já era quase manhã quando Joaquim acordou com Vitória, uma moça que encontrou no bar, do seu lado, levantando-se devagar para não a acordar tomou um banho, se vestiu, deixou um bilhete e saiu caminhando até a recepção, lá não poderia topar com alguém pior do que a própria Elizabeth.

- O que você faz aqui? - perguntou a ela. - Atrás de mim que não é.

- Posso explicar? - ela comentou em tom baixo. Os dois pagaram a conta e saíram juntos num táxi. No caminho Joaquim começou a falar sobre a traição a Jane e que se ela não contasse ele contaria.

- Posso sair com quem eu quiser. Eu não sou casado. - ele argumentava.

- Você não é então não se mete.

- Me meto sim, Jane é minha amiga.

- Você só sabe dizer isso. A Jane é minha amiga. E ela só sabe dizer isso, o Joaquim é meu amigo. Isso é ridículo.

- É ridículo por quê? Por acaso não tem amigos?

Ao silêncio dela como resposta Joaquim viu que pegou pesado.

- Você age como se a Jane fosse um boneco sujeito a tudo que você quer. E pior, ela cede para não ter que brigar, eu percebi isso e você ainda pisa nela. Que tipo de casamento é esse?

A corrida fez a curva e seguiu reto até que acabou e os dois chegaram ao edifício dele.

- Você não se meta, eu cuido disso. – Elizabeth apontou com o dedo em riste.

- Tudo bem, uma semana. Se não conto eu. É o tempo máximo. — Os dois pagaram o motorista que já não via mais a hora de sumir daquela discussão, com um arranque e um suspiro saiu com o carro deixando a boca quente para trás, os dois subiram pelo elevador em silêncio e ao abrir a porta deram de cara com Jane dormindo no sofá.

Joaquim olhou para Elizabeth ao entrarem.

- O que você sente vendo isso?

- Que eu não tenho o direito de tirar a paz do mundo dela, que eu não posso continuar mentindo a respeito de tudo. Mas não sei como agir, parece fácil, mas não é, tem tanta coisa para pesar.

- Tudo?

- Joaquim tem muita coisa que você precisa saber, quer ouvir? - Ele fez que sim e ela começou a contar desde o começo o quanto essa história poderia e deu errado.

AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora