Amélia tinha ficado de saco cheio com os palpites de Samuel em tudo que ela fazia durante aquele dia em específico. Acabou deixando o palco e ficou nos bastidores emburrada, sem mau humor era forte demais e queria evitar uma guerra explodindo catastroficamente, e para acrescentar mais tensão o estado de 'grávida' a incomodava bastante.
Leô entrou em busca de algumas fantasias e se deparou com Amélia sentada em frente ao espelho.
- O que houve?
- Samuel, ele é um chato, nada está bom pra ele. Você vai precisar decidir se é ele ou eu nesse palco dando palpite.
Leô se viu entre a cruz e a espada, queria saber por que Amélia tinha estado tão arredia com ele, porém não queria perguntar diretamente com risco de ferir o orgulho da filha.
- Vocês se desentenderam?
- Desde que você achou legal essa ideia de colocar ele aqui. Mãe, Samuel é um cara careta, isso aqui é um show de Drag. Tem que ter glamour, e não um cara querendo que as pessoas falem o mais baixo possível. Tire ele daqui, já.
- Houve algo grave entre vocês?
- Sim, e não quero que se repita.
- Me diga o que.
- Não é o momento. Eu preciso de espaço. - Amélia atendeu seu telefone que vibrava deixando a mãe sem reação. Tinha coelho nesse mato e muito bem escondido.
Jane, que havia ligado, dizia sobre os exames e que tinha se confirmado de fato a gravidez, imediatamente Amélia pensou em Joaquim, onde estaria e o que faria quando soubesse da grandiosa notícia que vinha com seu nome no meio.
- Espero que tudo corra bem. – disse Jane a ela.
- Vai correr. – Amélia respondeu encerrando a ligação.
De longe Amélia observava Samuel com seu mau humor crescente. Ele devia se mancar logo que havia algo entre ela e o pai do bebê e sair da jogada, ou ela explodiria. Mesmo que não acontecesse nada depois.
- Glitter, como os amo! – Leô disse saindo com potes de brilho na mão. – Ainda nenhuma drag?
- Ainda não. Mas chegam logo. – Amélia disse soltando o ar dos pulmões.
Realocaram as penas no seu devido lugar quando a porta se abriu e uma comissão de drags entrou, porém havia na última delas algo que Amélia rapidamente entendeu como simpatia imediata.
- Quantas belas mulheres. – sua mãe disse.
- Viemos enfeitar esse show. Prometemos fazer disso uma maravilha cultural. – disse uma.
Samuel as organizou em fila, era nítido que fazia isso por Amélia e para ficar bem com Eleonora. Os testes foram executados e por alguns breves momentos, Amélia sentia falta da voz de Joaquim. Passou o dedo pela sua tela e começou a olhar sua rede social enquanto suspirava intensamente.
- Tudo bem? – Samuel falou chegando mais perto numa tentativa de ver o que ela fazia.
- Ótimo. – ela respondeu secamente.
Ficar mentalizando secretamente seu beijo com ele na expectativa de que pudesse repeti-lo sem demora era uma coisa muito inconveniente para seus hormônios florescentes, seria essa sua primeira paranoia de grávida? E evitar olhar para os lados para não se decepcionar com quem estava a sua frente se tornava muito mais frequente do que gostaria de suportar. A fantasia toda do beijo começou naquela despedida da porta, depois da notícia, quando ele depositou aquele inocente beijo em sua testa... isso sem contar os recorrentes sonhos que vinha tendo com ele. Sonhos nada, práticos, pra ajudar.
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AMÉLIA (A garota e a flor)
RomanceAmélia é uma jovem comum que compartilha com sua mãe e avó um destino um pouco infeliz a cerca da presença paterna em sua vida, porém, numa noite que nada prometia; um olhar juntamente com um sorriso hipnótico, uma confusão e uma ida a delegacia pod...