Capítulo 3 - Príncipe Desviado

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Na boate Sarah e Fernanda se chacoalhavam com a música e com a tequila, enquanto Amélia se espremia no balcão caçando água. O barulho era alto demais, o cheiro de perfume era forte demais e as pessoas tinham que quase se beijar para serem escutadas, essa parte era sem dúvidas muito invasiva para seu gosto. O vestido púrpuro e os saltos altos auxiliaram a Amélia a ser notada, a boate era um reduto de pessoas ricas e bem vestidas que só se importavam com aparências, e a dela, estava bem ok para tanto.

Tinha se afastado novamente do grupo para pegar outra garrafa, porque a última foi ocasionalmente roubada por Fernanda que se evaporou no meio do povo, quando um cara tocou seu ombro.

— Com licença, você não é a Melissa Florentino? — ele se aproximou tanto de seu rosto que Amélia sentiu o cheiro do álcool saindo em suas palavras, estava nitidamente bem bêbado.

— Não, meu nome é Amélia.

— Você se parece muito com ela... — ele apertou a mão em volta do seu ombro, aquele gesto a encheu de medo.

— Eu não sou, me desculpe. Uma água por favor. — disse ela se virando para o barman com o tremor chegando as mãos.

— Tem certeza de que não está mentindo para mim? — o bafo de bebida chegou ao seu pescoço.

— Não, eu sou Amélia, já disse. — empurrou o bêbado e saiu com a garrafa de água no meio da multidão. Tudo era um completo borrão, não via aonde ia devido ao seu coração estar batendo nos ouvidos e a respiração ofegante incapacitando-a de pensar pela dor aguda que a enchia de medo. Só foi capaz de ver uma mesa vazia num canto escuro no fundo e conseguiu chegar até lá entre esbarrões.

Sentou-se esbanjando longos suspiros quando se viu longe da mira do estranho, aliás outra coisa que a perturbava era que seu sapato estava muito desconfortável, e para ajudar a aliviar a dor da pressão colocou as pernas sob uma cadeira vazia e destampou a garrafa bebendo um grande gole de uma vez. Fechando a garrafa e procurando olhar ao redor, se as luzes assim permitissem, em busca de encontrar algumas das amigas sumidas, o que Amélia viu foi que algo se mexia bem na sua direção, vestido de camiseta branca e uma jaqueta marrom o sujeito chamou imediatamente sua atenção, grudou os olhos nele de tal forma que logo pareceu que ele tinha sentido toda a sua carga de energia pois olhou diretamente onde ela estava e ainda sorrindo. Amélia tirou o sorriso bobo da cara e desviou o foco, apesar de ter se sentido atraída pelo momento de admiração da paisagem.

Tirando os pés da cadeira e esticando a coluna se virou em direção ao banheiro quando Sarah passou cercada por um brutamontes e lhe acenou. Amélia acenou de volta. Com as mãos nos cabelos ia voltando a posição inicial e estava já mais relaxada quando sentiu que alguma coisa tinha puxado a cadeira do outro lado da mesa. Engoliu a seco pedindo que não fosse o mesmo cara do balcão.

Virou-se e viu uma moça se descalçar.

— Esses sapatos são lindos, custam os olhos da cara, mas nos matam no fim da noite.

— Concordo plenamente! — respirou ela mais aliviada por ser uma moça.

— Tem alguém aqui?

— Não, eu vim descansar.

— Essa água é sua?

— É, pode ficar.

— Não, eu só queria saber se ainda tem por lá.

— Acredito que tem, ninguém aqui parece gostar de beber água.

— Obrigada. — disse a moça que saiu como chegou e Amélia também decidiu fazer o mesmo.

Já estava novamente no meio da multidão se espremendo e resmungando quando notou os olhos do cara do balcão a sua esquerda encarando-a como se estivesse sem roupa, aquele sorriso maléfico à espreita do lobo focalizando a vítima, conseguindo sair do aperto de pessoas com o coração aos pulos na pressa de sumir, ergueu os olhos e bateu de frente com o sujeito do sorriso sob as luzes multicoloridas da boate, todo um arco íris parecia brotar naquele sorriso, dançando entre azul, rosa, violeta e verde a música que ecoava nas paredes não era mais oportuna do que aquela e dizia num refrão grudento e quase sussurrado algo sobre como "ele era hipnótico..."

AMÉLIA (A garota e a flor)Onde histórias criam vida. Descubra agora