O grande dia chegou e Joaquim foi logo pela manhã a clínica para doar seu sêmen voltando para a sociedade em seguida, era seu último dia, enquanto Amélia parecia mais feliz e receptiva a ele numa grande chave dourada para completar a sua rotina.
- E como está? – ele arriscou ao passar por ela.
- Bem, eu vim pegar umas coisas aqui.
- E lá no hotel?
- Tranquilíssimo, hoje é meu dia de folga e então eu estou aqui.
- Veio se despedir de mim, não foi? – ele sorriu.
- Também. Olha eu fui meio grossa naquele dia, então me desculpe. Fiquei um pouco sem graça por ter presenciado uma cena tão íntima sua com Vitória.
- Tudo bem.
- Eu soube pelo jornal o exame também... eu não queria que estivesse tão triste e no que puder ajudar me pergunte.
- É, passei por umas coisas bizarras... Nesses últimos dias.
- Seu nariz parece melhor.
Joaquim então se recordou dele, tinha ido ver Alice no prazo e estava melhor mesmo, um pouco dolorido e vermelho, mas nada grave que não curasse com o tempo.
- E a moça como está? - Amélia lhe perguntou com o semblante pensativo.
- Quem?
- A Isa Monte.
Ao ouvir aquele nome vindo de Amélia, Joaquim sentiu uma fisgada na costela.
- Nunca mais vi. Preferi não me envolver depois que o marido foi preso.
- As fofocas falaram que vocês foram namorados no ensino médio...
- Ah não, não chegamos a tanto não. Éramos amigos, Andrei e eu tivemos o azar de gostar da mesma mulher. - isso trouxe novamente em Joaquim o desejo de ajudá-la, talvez, investindo secretamente no seu restaurante. Como tinha planejado no início. - E você sabe como adolescente podem ser dramáticos em seus sentimentos as vezes.
- Sei sim, e espero que as coisas melhorem logo pra você, Joaquim. – Amélia disse e se afastou com um abraço quente menos demorado do que ele gostaria.
Voltando para a antiga sala, cumprimentou a todos e reparou em um círculo montado no meio com as cadeiras.
- O que vamos fazer hoje?
- Terapia – respondeu Pérola soltando um bufo.
Um senhor grisalho mandou que sentassem e se apresentou, era psicanalista.
- Precisamos expor nossos maiores erros, medos, e culpas, mesmo que não contemos quando nem onde nem por que, para darmos fim a esse tempo de repensar e refletir com a consciência limpa e mais tranquila. Combinado?
Com um sim coletivo todos começaram a falar, um a um, o seu maior erro. Em resumo eram muito vagos, excesso de velocidade, medo de dirigir depois de atropelar um cachorro, medo de ir para o trânsito, e quando chegou à vez de Joaquim repetiu o que sempre tinha ouvido.
- Eu gosto de correr, excesso de velocidade me motiva, sempre foi assim, por medo, confiança demais, não sei exatamente o porquê, sempre gostei de sentir a adrenalina, talvez culpa?
- E por quê?
- Mesmo inconsciente, percebia que meu pai não dava a mesma atenção a minha mãe que dava a mim, me senti responsável a vida toda e minha primeira noite com uma mulher foi arranjada por ele, e nunca deixou que eu contasse isso a minha mãe. Para ele sexo era fora do casamento, somente a procriação estava nos termos da relação.
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AMÉLIA (A garota e a flor)
RomansaAmélia é uma jovem comum que compartilha com sua mãe e avó um destino um pouco infeliz a cerca da presença paterna em sua vida, porém, numa noite que nada prometia; um olhar juntamente com um sorriso hipnótico, uma confusão e uma ida a delegacia pod...